Sentia-se triste, infeliz até, mais uma vez o sonho de voltar a ser amada fora gorado, mais uma vez alguém, que pronunciava palavras ternas que ao longo dos meses se foram tornando mais íntimas, mais sensuais, que a envolviam numa teia de afectos e de sensações, que todos os dias a rejuvenesciam, a tinha transformado numa mulher inquieta. Tarde, bem tarde, já magoada, viu que eram palavras simuladas e não sentidas.
Saiu do seu refúgio, para onde se tinhas deslocado, para chorar a sua vergonha, a sua solidão, a sua desilusão, sentindo-se culpada por ser tão ingénua. Embrenhou-se pelos caminhos sem perder a noção do local onde estava, mas olhando sem apreciar o que a rodeava. Tinha decidido ir até ao mar, um mar que nunca a tinha traído, um mar amigo que lhe acalmava os sentidos.
Chegou ao seu lugar de eleição, onde tantas vezes, fora feliz, onde tinha sonhado, sonhado com um companheiro que docemente a acariciava, lhe roçava os lábios pela nuca descoberta, lhe desnudava os seios e os acariciava, … Sonhos com finais felizes! Sentou-se, ajeitou-se, espraiou a vista pelo horizonte onde o azul do céu se funde com o azul da água do mar, do seu mar. Uma suave sensação de descontracção começou a invadi-la … Como se sentia bem!
Ao longe, ao longo da encosta de um penhasco, que nunca tinha visto, observou uma fila de caminhantes. Estranhos caminhantes! Pareciam todos iguais, como se fossem produtos de uma clonagem. A distância era grande, a imagem difusa, estavam em contra luz! Mesmo assim percebeu as suas passadas cadenciadas, avançavam como que comandados por uma voz que ela não ouvia.
Ficou atenta e para seu enorme espanto viu que o primeiro, o segundo, o terceiro… na mesma passada, na mesma cadência, se iam deixando cair no vazio, no abismo…
E soube, sem saber como, mas soube! Era a morte! A morte que num futuro próximo será assim. Quando chegar a altura estabelecida por lei, os escolhidos caminham para um lugar pré-definido, ordeiramente avançam e caem, caem suavemente num abismo sem fim, num local onde não há dor, nem envelhecimento, nem rejeição, nem mentira, nem fingimentos, … um lugar eterno onde todos se amam, todos são iguais e todos são felizes!
Saiu do seu refúgio, para onde se tinhas deslocado, para chorar a sua vergonha, a sua solidão, a sua desilusão, sentindo-se culpada por ser tão ingénua. Embrenhou-se pelos caminhos sem perder a noção do local onde estava, mas olhando sem apreciar o que a rodeava. Tinha decidido ir até ao mar, um mar que nunca a tinha traído, um mar amigo que lhe acalmava os sentidos.
Chegou ao seu lugar de eleição, onde tantas vezes, fora feliz, onde tinha sonhado, sonhado com um companheiro que docemente a acariciava, lhe roçava os lábios pela nuca descoberta, lhe desnudava os seios e os acariciava, … Sonhos com finais felizes! Sentou-se, ajeitou-se, espraiou a vista pelo horizonte onde o azul do céu se funde com o azul da água do mar, do seu mar. Uma suave sensação de descontracção começou a invadi-la … Como se sentia bem!
Ao longe, ao longo da encosta de um penhasco, que nunca tinha visto, observou uma fila de caminhantes. Estranhos caminhantes! Pareciam todos iguais, como se fossem produtos de uma clonagem. A distância era grande, a imagem difusa, estavam em contra luz! Mesmo assim percebeu as suas passadas cadenciadas, avançavam como que comandados por uma voz que ela não ouvia.
Ficou atenta e para seu enorme espanto viu que o primeiro, o segundo, o terceiro… na mesma passada, na mesma cadência, se iam deixando cair no vazio, no abismo…
E soube, sem saber como, mas soube! Era a morte! A morte que num futuro próximo será assim. Quando chegar a altura estabelecida por lei, os escolhidos caminham para um lugar pré-definido, ordeiramente avançam e caem, caem suavemente num abismo sem fim, num local onde não há dor, nem envelhecimento, nem rejeição, nem mentira, nem fingimentos, … um lugar eterno onde todos se amam, todos são iguais e todos são felizes!
Acordou estremunhada com o sol a bater-lhe na face e o mar a saudá-la, num rumorejar cadenciado e eterno
Texto publicado no âmbito do desafio ABISMO para Fábrica de Letras
Fez-me lembrar o "Admirável Mundo Novo": quando chega a hora, retira-se o soma e mergulha-se na morte, ordeiramente. Ainda bem que é um sonho!
ResponderEliminarBjs
Querida Teresa nunca li essa obra, sei que é de Aldous Huxley e mais nada. mas fico com uma notinha para remediar a situação.
ResponderEliminarEscrevi este conto "semi-ficcionado" motivada pela imagem que encontrei na Internet e que me perturbou.
Beijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Teresinha, afinal tb escreves textos inventados. Viste?!
ResponderEliminarÉ mesmo assim, vivemos parte e inventamos o resto. Gostei muito.
Eu ando sem vontade nenhuma!! (como já reparaste)
A mim faz-me lembrar os Lemmings do Walt Disney, que afinal não se atiravam mas eram atirados para o bem do documentário.
ResponderEliminarFalta dizer que está muito bem escrito :)
ResponderEliminarQuerida Calendas eu ando muito entusiasmada a escrever, é uma fase, por isso compreendo-te bem...de "pernas para o ar"
ResponderEliminarVou tentando entrar na ficção mas como sabes é por auto-gestão, eu tenho formação científica e tive péssimas professoras de Português.
Já pensei em me inscrever num curso de escrita criativa mas só de pensar em horários fixos,... fico agoniada.
Beijinhos "sem embrulho" para ti!
Querido Johnny não conheço esse filme de Walt Disney deve ser recente...
ResponderEliminarMuito obrigada pelas suas gentis palavras, espero que tenha gostado.
Beijinhos "sem embrulho" para si!
Mais um belissimo Conto!
ResponderEliminarParabéns Maria Teresa.
Bjs
G.J.
Um excelente texto!!
ResponderEliminarParabéns Maria Teresa.
Beijinhos
A Calendas tirou-me as palavras da boca ( aquela não pode ver ninguém a mastigar nada...lol). Temos ficção e da boa!
ResponderEliminarAmanha volte ler seu post, hoje to na correria, mas obrigada pelo seu carinho.
ResponderEliminarHana
Querido Gaspar muito obrigada, fico feliz por ter gostado...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulhado" para si!
Querida Maria Teresa!
ResponderEliminarDizia eu há uns tempos atrás a um amigo meu:
- Que feliz que você é em escrever coisas lindas, fecundadas de conteúdo, que se lê sempre e se quer ler mais!
É isso Maria Teresa, esse seu dom de escrever está sub-aproveitado!
Um beijinho aproveitado,
Renato
Quando estiver nessa fila, deixo toda a gente passar à minha frente! LOL! :) Belíssimo texto, temos escritora!!! Beijinhhos em fila!
ResponderEliminarQuerido Touro muito grata pelas suas gentis palavras.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Red é caso para duelo, eu ofereço-me para madrinha :):):)
ResponderEliminarObrigada, sinto-me mais motivada com as vossas opiniões.
Beijinhos "sem embrulho" para ti!
Querido Renato fico muito vaidosa com aquilo que disse, obrigada!
ResponderEliminarEu apenas gosto de escrever, gosto de pôr no papel o que penso e sinto, sempre gostei...
Beijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Hana, volte quando puder...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Ana Rita vindo de ti esse elogio, o meu ego fica enorme e isso é muito perigoso.
ResponderEliminarBatoteira! Nada de fugir da fila...
Beijinhos "sem embrulho" para ti!
Olá Maria Teresa
ResponderEliminardesta vez vim só agradecer o carinho e os versos :)
Beijinhos
Maria Tavares
Teresa, também nunca li essa obra. E isso é uma pena, gosto tanto de ler, :/. Mas vai entrar para a minha lista de livros que tenho que ler, quando encontar um time na faculdade, :D
ResponderEliminarBeijinhos, :**
Sonhos que beiram a realidade.
ResponderEliminarQue bom se houvesse aqui também ais igualdade.
Beijinhos m teresa
e abraços
Querida Miss Pauleth o que escrevi não tem nada a ver com essa obra, que nem conheço, a indicação da Teresa foi apenas a notação do que o que escrevi lhe fez lembrar.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Lis esperando que tudo comece a normalizar por aí (embora o grande mal já tenha acontecido), agradeço o seu comentário e sim, seria bom que mais igualdades existissem enquanto temos uma vida terrena.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Belo momento de leitura logo pela manhã!
ResponderEliminarbig kiss
Gostei muito*
ResponderEliminarJá tiveste tantos elogios que os meus iam passar despercebidos.
ResponderEliminarCreio que sei o que sentiste e o que viste. Fico-me pela visão. Viste os portugueses à beira dum abismo e a dar um passo em frente.
Premonição!
Felizes os que conseguem estar de longe a observar...
Como dizem a Calendas e a Red Maria todos nós inventamos histórias, mas lançando mão a uns farrapos de coisas que vivemos, que gostaríamos de ter vivido e até de coisas que ainda vamos viver. Re-inventamos a pólvora todos os dias...
Muito bom! Adorei... Era bom termos um lugar assim, sem maldade onde pudessemos ser felizes... bjs
ResponderEliminarMas que sonho! Ainda bem que era só um sonho, mas que podia ser uma realidade.
ResponderEliminarGostei muito.
Bjocas
Patty
Querida Vera as suas palavras incentivam-me a tentar fazer melhor...Obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Por Entre o Luar muito obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querido Carapau dão um passo em frente mas "caem" num lugar pleno de paz, de bem-estar,...
ResponderEliminarInterpretaste bem o texto, nota 20.
Beijinhos "sem embrulho" para ti!
Querida Poetic Girl é um pouco utópico, mas devemos continuar a sonhar com um mundo melhor... caso contrário andaríamos sempre cinzentões...:):):)
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Patty eu não me importava que a morte fosse assim...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Sonho. E ainda bem que não se realizou. Ai jesus quando se fala de morte os meus pêlos ficam arrepiados. bom fim de semana. ah, gostei do blogue dos textos. voltarei se me convidarem que não entro na casa de minguem sem ser convidada.kis
ResponderEliminarQuerida Avogi seja bem vinda! Para entrar neste cantinho, não precisa de pedir licença, ele é também seu!
ResponderEliminarObrigada por ter deixado um comentário.
Bom fim de semana!
Beijinhos "sem embrulho" para si!
Já tenho autorização da dona para seguir e colocar a minha foto ali À direita nos seguidores. pronto! Já sou fiel seguidora e estarei sempre aqui para meter o bedelho. obrigada e volte sempre ao meu , e será Bem-vinda ou simplesmente para não mudar de nome :Maria Teresa.Ou somente colega de profissão .Eu tb sou mas na reforma olarilholela. kis
ResponderEliminarMais um texto maravilhoso...
ResponderEliminarBjokas
Quando acabei de ler, fiquei com um travozinho amargo, mas gostei muito da descrição.
ResponderEliminarOs sonhos são tão imprevisíveis.
ResponderEliminarEsse texto, extremamente bem escrito e lírico.
Encantador.
Vim a seu encontro pela Fábrica de Letras =)
Beijo
QueridaTeresa!
ResponderEliminarUm texto lindo!!
Semi-ficticio, semi-real, posso dizer!
Um"sonho" do qual não apetece mesmo acordar!
ParabÊns mais umavez por nos presentear por algo tão bonito!
jinhos e BOM FIM-DE-SEMANA!
obrigada!
Magnífico eufemismo ... forma suave de dizer «fim!»...
ResponderEliminarMuito bem escrito.
A história dos lemmings e do filme da Disney é esta.
ResponderEliminarHouve um documentário, este, sobre a vida dos Lemmings (pequenos roedores que segundo o mito marchariam sempre, mesmo que encontrassem um precipício, até ao fim das suas vidas), mas depois soube-se, como mostra este documentário a partir do minuto 3:26 que tudo foi fabricado, pelo que os Lemmings não se suicidaram mas foram atirados.
Querida Anira muito obrigada pelas suas gentis palavras.
ResponderEliminarBeijinhos"sem embrulho" para si!
Querido Carlos o travozinho foi por falar na morte?
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Ana muito obrigada pelo seu comentário, a Fábrica começa a dar "frutos" vamo-nos "procurando".
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Canhota o texto tem um pouco de realidade e talvez um desejo para o meu final...Obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querido Rouxinol o fim todos vamos ter, que bom seria se estivessemos preparados para ele como descrevo no texto.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querido Johnny muito obrigada! Eu não estou na blogosfera só para passar tempo,ou porque gosto de transmitir aos outros o que sinto e o que penso, estou também para aprender e tenho aprendido bastante e tenho aproveitado muitas "dicas". A sua não caiu em saco roto, já tinha andado a "catar" na net, mas com estas suas dicas vai concerteza facilitar-me o caminho.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
ninguém a controla, nem sabe como é, mas adorei a tua descrição
ResponderEliminarum beijo
Querida Maria Teresa
ResponderEliminarUm conto muito interessante... tanto mais ainda pela parte de vivência que contém...
Desejo, contudo, destacar o reconhecimento que fazes da profunda capacidade de amar que o mar tem...
amar a-mar mar como tão bem soa esta conjugação!!!!
Beijinhos.
Querida Umminuto sê benvinda no teu regresso! Obrigada pelo teu comentário.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para ti!
Querido Vicktor detectaste uma parte fundamental, para mim, focada neste post.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para ti!
Maria Teresa, uma mulher que adormece e tem um pesadelo, mas que no fim os personagens até encontram um mundo encantador onde todas as pessoas são felizes. Gostei deste abismo porque é apaixonante. Beijinhos carinhosos.
ResponderEliminarQuerida Olga que bom que seria que o nosso fim fosse assim...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Uma pitade de realidade, uma mão cheia de verdades camufladas
ResponderEliminarduas gotas de ilusão,
nasceu assim um texto de se lhes tirar o chapéu!!!
Continue Maria Teresa, que a inspiração não lhes falte, e nada de pensar na "fila"...
Bjs dos Alpes.
Querida Flor, interpretou-me muito bem e as suas palavras são "lindas".
ResponderEliminarEu não penso muito na fila mas gostaria que fosse assim...
Beijinhos "sem embrulho" para si!