Já mais do que uma vez falei no meu braço direito, a última das quais, no post datado de
27 de Janeiro último. Talvez o dia de hoje, uma vez que se comemora o DIA MUNDIAL CONTRA O CANCRO, seja indicado para vos falar de uma fase da minha vida menos boa mas que me fez acreditar que tudo é possível quando a esperança não morre e a família e os amigos estão presentes….
Foi na minha década dourada, na década dos meus 20 anos… apareceu um negro a manchar esta bonita cor, que associo ao sol e aos girassóis que tanto admiro e de quem tanto falo…
Estávamos em finais de 1970, em Outubro, a minha querida avó Adelina encontrava-se em fase final de vida terrena, tinham-lhe sido detectadas metástases nos pulmões e sabia-se que o tumor primitivo estava localizado num braço. Um “caroço “ bem visível, desde os seus tempos de adolescência, restos de um furúnculo estupidamente espremido.
Numa das minhas abluções matinais senti um repuxar no meu antebraço direito e apalpei-o. Encontrei um pequeno nódulo do tamanho de uma ervilha. Nesse mesmo dia o Dr Fernando Cortez ia passar por casa da minha avó, para uma das suas visitas assíduas. Contei-lhe o que tinha sentido, fui observada e ele foi da opinião que todos os “carocinhos” deviam ser extirpados. De imediato combinei com ele fazer a extracção, que se realizou cerca de uma semana depois no consultório do Dr. Francisco Gentil Martins, que momentaneamente, o Dr. Cortez se encontrava a substituir. Intervenção muito simples, feita apenas com anestesia local … e o pequeno tumor seguiu para análise. Entretanto os pontos foram sendo retirados, já não me lembro por quem, nem onde.
Até que houve um dia em Novembro de 1970 em fui “convocada” para ir até ao citado consultório. Tinha a receber-me o Dr. Gentil Martins que tal como o seu nome indica, gentilmente me informou, que o pequeno tumor era um sarcoma em formação, teríamos que “matar formigas com uma bomba atómica” e esse processo iniciou-se com um internamento, uma anestesia geral e uma limpeza bastante alargada no meu antebraço, a cicatriz com cerca de 2cm de comprimento passou ao tamanho que hoje podem observar.
Posteriormente fui submetida a um tratamento de radioterapia, mais precisamente radiações de cobalto.
Tive pessoas maravilhosas ao meu lado, sem falar na família e nos amigos.
O Dr. Fernando Cortez que me confessou que se eu dissesse que retiraria o nódulo nas férias grandes (reparem que estava nessa altura em Outubro) ele estaria de acordo (esta opção teria pecado por muito tardia).
O patologista (do qual me esqueci o nome) ter ficado muito interessado no meu caso, o tumor era primário e estava em fase de “transformação”, não era totalmente maligno, coisa muito rara de se encontrar, de tal modo que ficou nos anais da patologia.
O Dr. Vilhena médico especialista em radiação que revelou um interesse imenso pelo meu caso.
A técnica da radioterapia, que me facilitou os horários do tratamento para eu não ter que faltar às aulas, fazia “batota”, colocava-me entre doentes marcados, os quais eu não prejudicava muito, a radiação embora alongada no tempo, era curta na actuação (5 minutos).
Os meus alunos que nunca sonharam sequer o que se estava a passar comigo, mas que eram uma catarse sem o saberem. Conseguia entrar numa sala de aula e estar lá, como era costume estar, atenta, paciente, alegre e competente.
Os colegas de profissão que, não falando directamente no assunto, me dirigiam piropos e gabavam o meu sorriso e a minha boa disposição.
Pedi pouco na altura, já era mãe, tinha apenas o meu filho mais velho, “pedi “ para conseguir sobreviver até que ele tivesse idade para se lembrar de mim… Hoje ao escrever estas palavras este pedido parece revelar um certo egoísmo da minha parte.
Muito mais teria para dizer… é a primeira vez que escrevo sobre este assunto, mas vou terminar aqui e agora, não sem antes afirmar que tenho muitas razões para sorrir à VIDA, preocupa-me o desamor, a inveja, a intriga, a discriminação, a intolerância, a falta de humildade, a mesquinhez …. Vou continuar a amar, a abraçar, a beijar, a acarinhar, … e a contar convosco que ultimamente têm partilhado comigo a minha maneira de ser e de estar na vida.
Cometo muitos erros, às vezes involuntários, mas procuro melhorar essas falhas para poder continuar orgulhosamente a considerar-me bastante humana.
COM ESTE TESTEMUNHO GOSTAVA DE ALERTAR TODOS PARA A PREVENÇÃO, A ESPERANÇA E A TENACIDADE. NÃO PODEMOS PERMITIR QUE A VIDA NOS DERROTE! TEMOS QUE SAIR VENCEDORAS DAS HORAS MENOS BOAS!
HÁ MAIS PESSOAS QUE VENCEM ESTA DOENÇA DO QUE AS QUE SÃO DERROTADAS… MAS APENAS NOS CHEGAM AS NOTÍCIAS MÁS …