segunda-feira, 31 de maio de 2010

ROMEU E JULIETA

Como muitos de vós já sabem, na 5ªfeira passada, fui à antestreia de “Roméo e Juliette”, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra.
O grupo de bailado pertence ao Ballet du Grand Théâtre de Géneve (Suiça), tendo como director Philippe Conhen, coreografia de Joëlle Bouvier e música de Sergueï Prokofiev.
Antes da apresentação do bailado houve uma recepção, para que as “vaidades” cá do burgo se pavoneassem, a maioria encabeçada pelo F.S. que surgiu acompanhado por um enorme séquito, um “bom bocado” depois da hora marcada.
Quanto ao espectáculo, um bailado muito moderno, estou a gostar mais hoje dele do que na altura. Não cheguei a ficar cansada, decorreu num espaço de tempo bem cronometrado e com a coreografia em perfeita sintonia com a música.
Não estou familiarizada com o ballet moderno, em que os bailarinos dançam descalços, o guarda-roupa é sóbrio e o cenário está despido e na penumbra.
Intimidou-me um pouco!
Deduzi no início, quando um bailarino escurecido, de tronco nu, vestido com uma longa saia rodada da cor dos trajes tibetanos, portador de uma longa vara, desce a estrutura inclinada e roda a uma velocidade estonteante sobre um enorme círculo cinzento prata, marcado no chão do palco, que estávamos a avançar no tempo e que esta história de amor se iria a passar nos dias de hoje.
Houve necessidade de “acordar” Romeu e Julieta (a interpretação é minha) e isso pareceu-me bem visível (será isso?).
Grande parte do bailado é ocupada com as lutas, bastante violentas, travadas entre os Montecchios e os Capuletos, inimigos de longa data, que tornam o amor destes dois jovens quase impossível.
O casamento na sua união carnal é tratado com um espantoso jogo de movimentos através do recurso a um véu e a corpos aparentemente desnudos. Julieta desliza pelo cenário coberta por um véu imenso, que lhe é retirado por quatro estiradores quase invisíveis, a elevação do véu assemelha-se a uma gigantesca ave branca, de asas bem abertas, que suavemente voa para atingir um espaço infinito e deixa Julieta totalmente despojada de vestes. Romeu surge também desnudado e ambos iniciam um jogo de movimentos carregados de simbolismo sexual, movimentos serenos, ternos, amorosos, sem agressividade.
Em todo este bailado não senti paixão nem tragédia, paixão e tragédia que já “encontrei” noutras interpretações da mesma obra de William Shakespeare.
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Estranhamente não havia programas à venda. Desconheço o nome dos bailarinos e as restantes informações que um programa normalmente traz.
Tomei conhecimento do nome do director e do coreógrafo através de uma pequena brochura com o programa do “Festival de Sintra – Música e Dança 2010 de 28 de Maio a 4 de Julho”.
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Vale a pena dar uma saltada a Sintra, apreciar gulosamente uns travesseiros ou umas queijadas e assistir a este espectáculo! Tendo em atenção que, a partir das 20.30 horas, perto do Centro Cultural não encontram nenhum café ou pastelaria abertos. Apenas no centro da vila há “vida” nocturna.
E depois espantamo-nos que os potenciais clientes fujam para outras paragens!
As imagens foram tiradas da Internet, é por isso que na primeira, o bailarino aparece com uma saia azul e não com a saia com que o vi actuar.

sábado, 29 de maio de 2010

DOÇURA OU DIABRURA XXXII

O primeiro dia deste fim-de-semana já vai a meio mas, num “pulinho”, passei por casa para vos enviar esta rubrica e responder aos comentários do post "CIÚME"
Hoje estou numa "boa"! A Festa da Amizade realizada pela escola do 1ºciclo, escola pública, que o meu neto frequenta, oferece muitos “divertimentos” aos habitantes das aldeias circundantes, dela vos darei um parecer num próximo post, as crianças estão divertidas, os pais contentes e a aldeia desperta...

Os miminhos que me foram gentil e generosamente oferecidos ao longo deste mês, não estão esquecidos, estão à espera que eu me sinta “inspirada”, para os publicar da forma que quem me os ofereceu merece.

“sessenta dias
a volúpia
patética
de querer possuir-te
como o Sol
possui a Terra
nas planícies douradas
dos campos de trigo
do teu sexo
é a primavera
sem a profecia medos e retórica
das frias e neutras
madrugadas
essas evolutas envolventes
do pão de cada dia
parido nos cinco dedos
da tua mão "
Miguel Barbosa, in A Eternidade de um Segundo Amor

PARA TODOS A CONTINUAÇÂO DE UM FIM-DE-SEMANA FABULOSO!
O MEU JÁ ESTÁ A SER….

sexta-feira, 28 de maio de 2010

CIÚME

O ciúme que se instala no nosso coração e na nossa mente revela uma falta de confiança em nós próprios e nos outros.
Evoco o ciúme de Otelo, ele sentia-se inseguro por causa da cor da sua pele, como consequência disso era grosseiro e intimidava Desdémona, a mulher a quem amava desmesuradamente e que lhe retribuía esse amor.

O ciúme abre a porta à intriga… e no caso de Otelo, e de tantas vidas reais, conduz à morte, à morte do ser que se ama e do qual se tem ciúme, com ou sem fundamento.

Diz-se que não há amor sem ciúme. Será que Miguel Cervantes tem razão quando afirma:
“Se é que do amor os ciúmes são filhos segundo é fama; eles aumentam deste amor a chama, a glória, o brilho. "
O ciúme pode instalar-se não apenas entre dois amantes, surge nas crianças, entre si, ou em relação aos pais. É um monstro de olhos verdes” (definição dada na obra Otelo). Será?
Mas eu não comecei a escrever este texto para falar nesta obra de William Shakespeare, vim para falar de mim. Descobri que sou ciumenta! E mais, descobri que esse ciúme é causado por uma certa falta de confiança que, neste momento, sinto em mim.

Sempre pensei que esse sentimento nunca me atacaria mas reconheço que sim e quem sou eu, se até a Eva teve ciúmes? Querem a prova? Cá vai:

O Eco
Tão tarde. Adão não vem? Aonde iria Adão?!
Talvez que fosse à caça; quer fazer surpresas com alguma corça branca lá da floresta.
Era p'lo entardecer, e Eva já sentia cuidados por tantas demoras.
Foi chamar ao cimo dos rochedos, e uma voz de mulher também, também chamou Adão.
Teve medo: Mas julgando fantasia chamou de novo: Adão? E uma voz de mulher também, também chamou Adão.
Foi-se triste para a tenda.
Adão já tinha vindo e trouxera as setas todas, e a caça era nenhuma!
E ele a saudá-la ameaçou-lhe um beijo e ela fugiu-lhe.
- Outra que não Ela chamara também por Ele.


Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'

Sinto ciúmes! Por quem? Isso não digo! “Nem às paredes confesso”…

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A CARICATURA



As palavras são escutadas e o seu significado acaba por nos envolver.
A palavra caricatura tem-me surgido, frequentemente, nesta última semana.
Fui à exposição de cartoons em Sintra, encontrei no Facebook um caricaturista português, o António Sabão e lembrei-me desta caricatura minha tirada há muito em Covent Garden.


Apreciem-me no esplendor dos meus 50 anos! Bolas! Como estão tão longe!

O que é uma caricatura? É um desenho de um personagem da vida real, tal como políticos e artistas, que enfatiza e exagera as características da pessoa de uma forma humorística, costuma acentuar gestos, vícios e hábitos particulares em cada indivíduo.
A minha é um desenho que se pressupõe representar-me.
No meu caso o que aconteceu? O caricaturista esqueceu-se de um pormenor fundamental na minha face, eu sou visivelmente (mesmo muito) sardenta. Tenho o nariz comprido mas não arrebitado. As minhas pestanas são curtas, ele tornou-as longas neste “traço”, tenho pena que não fosse o inverso.

Enfim! Não me sinto bem representada!


O risco que a corta transversalmente, não existe no original, é resultado das imensas manobras que tive que executar “computadoralmente”, para lhe dar um tamanho que pudesse ser digitalizado, depois de suar à "farta" e de usar "corte e costura" saiu a belíssima obra-prima que acima podem apreciar…

terça-feira, 25 de maio de 2010

A FOTOGRAFIA

Olho para esta imagem e com palavras simples posso descrever o que vejo: a minha filha, a Kitty e a Lily. Todas radiantes sentadas num sofá de madeira, pintado com uma tonalidade da cor castanho.
Se vos quiser descrever o que sinto tenho que forçar as palavras a saírem pela ponta do meu indicador direito, porque as emoções e os pensamentos que me assolam são imensos e difíceis de transmitir ao papel.
O sofá tem uma história, uma história que traz saudades, foi feito antes de eu nascer pelas mãos hábeis do meu pai, que nunca teve a profissão de carpinteiro, nem nunca aprendeu esta profissão, aprendeu sim, a observar… Esta peça de mobiliário já não existe, por desleixo meu, ficou um inverno na rua e não aguentou, existe o seu parceiro, guardado na arrecadação da casa de Lisboa. Que lhe irá acontecer?
O sorriso radioso da Ana Rita numa idade em que a vida era uma aventura feliz, hoje este sorriso ainda existe, mas a vida já lhe trouxe alguns desgostos.
No seu regaço, o símbolo da harmonia que podia existir entre os homens. Eu escrevi “podia”!
Dois seres vivos, duas fêmeas, que eram um doçura … a gata Lily implicava apenas com um ser humano, o meu pai. Não sei o que se passou entre eles, nunca me contaram, sei que ela lhe mordia, não se assanhava, não o arranhava, devia ter alguma razão, apanhava-o distraído e dava-lhe uma dentada. Ele ria e gritava: OLHA A MAROTA DA GATA! MALVADA! Nunca o vi bater-lhe, aliás nunca vi o meu pai bater em nada, nem em ninguém, só me atropelou :):):)mas isso é outra história.
Ao longo da minha vida tive muitos e variados gatos (nunca tive um amarelo) e nunca vi nenhum morder…
A Kitty viveu sozinha connosco durante algum tempo, não sei precisar quanto ( se estivesse em Lisboa sabia, ainda conservo de ambas os respectivos boletins de saúde). Lembro-me que a Ana e o pai, num dia de finais de Setembro, entraram em casa com ar de quem fez uma enorme malandrice. Fiquei logo com um pé atrás… e recebi nos braços uma criaturinha que devia ter duas semanas de vida… Tinha sido encontrada no Campo Grande debaixo do nosso carro, tinha-se lá refugiado enquanto a Ana estava na aula de natação.
Se a tivessem encontrado na rua ao pé de casa, teria voltado para o mesmo sítio, mas não! Adoptei-a de imediato! Nesse mesmo dia soube ir ao caixote, no dia seguinte foi ao doutor dos animais, estava muito bem tratada, devia ser filha de uma gata de rua, uma das que abundavam na zona da piscina. Nos dias que se seguiram aninhava-se na Kitty e esta deixava, um hábito que se tornou uma constante durante toda a vida que viveram em comum. Muito nos ríamos com o ar muito digno da Kitty, erguendo-se e sacudindo a Lily, ofendidíssima, quando esta procurava mamar, parecia dizer: VAI MAMAR NA TETAS DA TUA MÃE!
Sempre foi muito interessante vê-las a brincar uma com a outra. Quando a brincadeira "aquecia", tal como muitas vezes hoje acontece com os meus netos,eu dizia: ENTÃO MENINAS! Elas soltavam-se, a Kitty olhava para todos os lados menos para mim, como se não fosse nada com ela, a Lily olhava-me com o orgulho característico dos felinos, pronta a desafiar a minha autoridade.
Nenhuma delas foi mãe, ambas viveram mais de uma década, embora tivessem morrido com a diferença de cerca de um ano, estão juntas em corpo na mesma campa rasa, a sua energia vital voga pelo espaço imenso que nos cerca, juntamente com a de outros seres vivos.
Uma gata e uma cadela que viveram uma longa e bonita amizade! FORAM FELIZES!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

QUATRO FOLHAS

Sábado diverti-me imenso, mas há divertimentos que se pagam. Ontem vários acontecimentos relacionados e não relacionados com a noite anterior, causaram-me um dói-dói, pequenino é certo, mas que com o decorrer do dia me condicionou, fui ficando menos bem. A meio da tarde tentei desabafar com um pessoa amiga mas os problemas desta, não me deixaram espaço para carpir o meu estado de espírito. À noite consegui, em discurso mais ou menos corrido e resumido, expor o que me estava a perturbar, coisas muito pequenas, mesquinhices talvez, mas de pouco me valeu, quem me ouviu, que me perdoe, não teve capacidade para me “amparar”, disse-me o que eu já sabia e até fez realçar um pouco o meu egoísmo (penso que não estava a ser egoísta, estava um pouco revoltada, magoada... ).
Hoje estou arrebitada, uma belíssima noite de sono e uma incursão matinal, à conversa com as minhas plantinhas, foi um remédio miraculoso…
No que eu pensava ser um monólogo dei por mim a ser observada pelos meus trevos, os meus trevos de 4 folhas que me disseram, através de um porta voz, eles não são como os humanos que falam todos ao mesmo tempo e mal se sabem ouvir:

"A idade não te trouxe mais discernimento, és muito crédula, deixa-te de lirismos que cheiram a mofo, olha para mim! Sabes quem sou? Tens que saber, tratas-me sempre com tanto cuidado… Eu sou um símbolo, um símbolo no qual tens que acreditar… Já sei! Já sei! És muito crédula numas coisas e incrédula noutras. Tens que te situar e com urgência no meio-termo.
Os celtas acreditavam que um trevo como eu e os meus irmãos de quatro folhas é um sinal de SORTE! Acredita que cada uma das minhas folhas tem um significado: ESPERANÇA, FÉ, AMOR e SORTE.
Quatro é um número que representa um ciclo completo, como é o caso das 4 estações do ano, as 4 fases da lua, os 4 elementos naturais: AR, FOGO, TERRA e ÁGUA.
Não resmungues! Eu sei que aos quatro elementos naturais tu costumas juntar um quinto, o AMOR! Mas isso é outra historieta, taras de mulher romântica…
A nossa fama é tanta que até inspirou uma marchinha de Carnaval, no Brasil, cantada por Nara Leão:


Trevo de Quatro Folhas
Vivo esperando e procurando um trevo no meu jardim
Quatro folhinhas nascidas ao léu,
me levaria pertinho do Céu
Feliz eu seria e o trevo faria que ele voltasse pra mim...
Vivo esperando e procurando um trevo no meu jardim. "

E com estes versos no ouvido, entrei em casa sentindo-me mais EU, muito mais reconfortada! Encontrei um trevo...! Prometi a mim própria que quando me sentir um “pouco menos” , irei falar com os meus trevinhos…

Nota: Estes trevos são mesmo meus e a fotografia foi tirada por mim! Estou muito orgulhosa com este meu feito fotográfico, os meus amigos fotógrafos que se cuidem, podem ter aqui uma séria rival :):):)....

sábado, 22 de maio de 2010

DOÇURA OU DIABRURA XXXI

E neste renovar do tempo, chegou um novo fim-de-semana, desta vez com um sol radioso! Há que aproveitá-lo… Façam como eu, vou vogar ao sabor do meu sentir, sem programa pré-estabelecido.
Fiquem com esta DOÇURA ou DIABRURA(?) de acordo com a vossa sensibilidade:

"duzentos milhões

na sensibilidade
do toque suave
de um pingo
de chuva
que cai do beiral dos teus seios
o obelisco intenporal
do amor
é o fruto da estátua de carne
da Diana caçadora
que já se espreguiça
no alabastro
da luxúria
de um cinzel
gesto de ternura"
Miguel Barbosa, in A Eternidade de um Segundo de Amor

UM FIM-DE-SEMANA PLENO DE BEM-ESTAR E COM UM CARREGAMENTO DE BEIJINHOS EMBRULHADOS…

sexta-feira, 21 de maio de 2010

POBRE E MAL AGRADECIDA!

Sobre as ligações que se estabelecem na blogosfera já muito se escreveu e muito se irá escrever, eu vou testemunhar o que me aconteceu, o que vivi!
Este testemunho anda para ser escrito desde o dia 2 deste mês, por isso digo que sou pobre e….

O Pinguim convidou-me, como aliás fez a todos os bloguistas, para ir a um convívio em que estava incluído um jantar. Nada me impedia de aceitar, tanto mais que o restaurante onde se realizou o evento, fica a poucos quilómetros da minha casa de Lisboa. Disse que sim desde a primeira hora.
Fui e que bem que fiz! Não conhecia ninguém, excepto virtualmente o Pinguim, que considerava e considero um Senhor. É um homem romântico, muito enamorado que neste momento anda nas nuvens com o seu amor, gentil e bem-humorado.
Fui muito bem recebida por todos, ri-me com muito gosto … Fazer rir é um dom que algumas pessoas possuem, lá todos pareciam dotados dele. Encontrei gente inteligente, muito interessante. Como não posso falar em todos sem escrever um “romance” de muitas páginas, destaco uma jovem senhora prestes a ser mamã da Eva e o marido. A sua história de amor é uma história de sucesso. “Encontraram-se” através da blogosfera, começaram a “escrever-se”, a trocar ideias, marcaram um encontro, deu clique, namoraram, casaram e presentemente estão esperando a primeira filha que deve estar prestes a sair do “ninho”.
Para além do jantar, foram exibidos slides a “dar um cheirinho” de cada um dos blogues dos participantes… um modo muito elegante de nos apresentarmos.
Conversa puxa conversa vim a saber que a dona do restaurante, sempre atenta e presente, é vizinha da minha filha e que a própria filha, se licenciou na mesma faculdade que a minha e no mesmo curso.
Ao Pinguim, um dos organizadores do evento, agradeço o convite (e não só, mas também)! Ao Paulo e ao Zé envio os parabéns pelo excelente trabalho desenvolvido no tratamento que deram aos “nossos” blogues! Aos pais da Eva desejo um futuro pleno de bênçãos! A todos os restantes um ENORME ABRAÇO pela simpatia e pelo modo como me acolheram…
BEM-HAJAM!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ESPELHO, ESPELHO MEU...

Nem sempre ao mar, nem sempre em terra, vou suspender por uns dias, as minhas deambulações pelos “caminhos” da minha última viagem …
Acordo quase sempre bem-disposta, ontem não foi excepção. Muito raramente fico ronronando na cama, espreguiçando-me como a gata que sou…:):):)! Ontem não foi excepção, levantei –me rapidinho e imediatamente me enfiei na casa de banho. Vi-me ao espelho e ri à gargalhada… Devo explicar, quando acordo, os meus cabelos estão completamente emaranhados e espetados, pareço uma bruxa não uma Patalógica que até é bonitinha, mas uma daquelas bem desmazeladas.
Como estava dizendo, vi-me ao espelho e pensei: “ainda bem que não tenho namorado! Se o desgraçado existisse, sobrevivia pouco tempo, não porque eu seja uma daquelas aranhas que devora o macho, mas porque ao acordar, se ele olhasse para mim, saltava pela janela… e lá ficava eu viúva outra vez, sem ter voltado a casar”

Avante! Depois deste episódio hilariante e depois de ter brincado às casinhas, um bocadinho, apenas um bocadinho, não se podem fazer as tarefas caseiras todas de uma vez, porque podem dar enjoo, decidi ir até Centro Cultural Olga Cadaval e fui…
Decisão acertada. Está lá patente a exposição “World Pess Cartoon 2010”.
Como o nome indica estão expostos os melhores trabalhos produzidos e publicados em jornais e revistas, no âmbito das edições de cartoons, trabalhos esses referentes a caricaturas e desenhos humorísticos produzidos durante o ano de 2009.
Diverti-me imenso, alguns não os consegui descodificar convenientemente, a culpa foi inteiramente minha, ignoro muita coisa que se passa pelo Mundo.

Os trabalhos expostos foram sujeitos a concurso em três categorias de prémios: caricatura, editorial e humor.
O grande vencedor na modalidade caricatura foi o argentino Gabriel Ippóti com a de Vladimir Putin sobre a notícia por ele dada relativa ao relançamento militar da Rússia, publicada no diário “Âmbito Financeiro” de Buenos Aires.

E por aqui me fico… venham ver a exposição, vale realmente a pena e se quiserem saber mais qualquer “coisinha” eu estou aqui, é só perguntar, eu respondo…SE SOUBER!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

AS BODAS DE D. DINIS

Em Trancoso relembrei uma bem pequenina parte da História de Portugal.

Corria o ano de 1282 quando D. Dinis desposou D. Isabel de Aragão, ele tinha 21 anos, era rei há dois e ela 11.O casamento só foi consumado em 1288.
Este enlace real foi celebrado na Igreja de São Bartolomeu-o-Velho em Trancoso (na actualidade não existem vestígios dela). Existe, no entanto uma pequena capela, a capela de São Bartolomeu, erigida em 1778, a mando da Câmara Municipal do Município, para recordar esse casamento. Numa das paredes laterais da pequena capela encontra-se o conjunto de azulejos representado na fotografia.
Os casamentos reais durante alguns séculos, eram autênticos contratos, sem que as partes envolvidas se conhecessem.

Frutos desta união nasceram dois filhos D. Afonso e D. Constança. O filho D. Afonso viria a ser, depois da morte do pai, o Rei D. Afonso IV o Bravo.
Em 1516 D. Isabel foi beatificada pelo Papa Leão X, mais tarde, em 1625 seria canonizada pelo Papa Urbano VIII.
Todos conhecem histórias/ lendas ligadas a D. Isabel a mais conhecida das quais é o célebre Milagre das Rosas.

A noiva que veio por terra, com uma enorme comitiva, composta pelo Bispo de Valença e pelos melhores cavaleiros, nobres e damas da corte de seu pai D.Pedro III de Aragão, ao chegar às terras de Meda, sentindo-se sequiosa e coberta de pó mandou parar o seu séquito e interpelou uma mulher do povo:
“-Como se chama esta terra?
-Longroiva, real princesa. Tem umas termas de águas boas para a limpeza da pele e a sua cura, assim como para enfermidades
- Bendita terra! Pois quero banhar-me nessas boas águas, antes de conhecer meu real esposo, D. Dinis!”
Santos Costa, in Lendas da Mêda
E assim foi, D. Isabel banhou-se nas águas das termas e apareceu bela, jovem e “limpinha” aos olhos do seu prometido.

Os festejos destes esponsais foram muito concorridos, segundo alguns historiadores, foi a maior festa que até então se tinha realizado em Portugal, Trancoso não foi escolhido por acaso, era uma importante vila, populosa e em pleno desenvolvimento.

Visitei Longroiva e passei pelas termas. As águas sulfurosas que servem o actual balneário termal, datado do séc. XIX e modernizado em 2007, existem desde a pré-história, foram muito usadas pelos romanos na Idade Média. Encontram-se em funcionamento e as suas águas são indicadas para o tratamento de doenças reumáticas, nervosas e de pele.

terça-feira, 18 de maio de 2010

BANDARRA

Em Trancoso encontrei muitas lendas, figuras e factos históricos.
Gonçalo Anes Bandarra foi a primeira figura a ser-me apresentada. Este poeta e profeta, nasceu em Trancoso em 1500 e veio a falecer em 1556, tinha a profissão de sapateiro e dele conta-se a seguinte história:
Por Trancoso passou um almocreve (pessoa que transportava mercadorias de uma terra para outra, durante a Idade Média) que trazia um par de botas todo roto, levou-as ao Bandarra para ele as consertar. Quando chegou a hora de pagar não o fez, alegando que não tinha como.

Então o sapateiro profetizou o seguinte:
Irás e virás,
Na praça me acharás
Meio dentro e meio fora
E então me pagarás.

O almocreve partiu, no fundo satisfeito por ter poupado alguns cobres, mas a matutar no que tinha acabado de ouvir. Não acreditava que um dia pudesse voltar a Trancoso e muito menos a encontrar-se com o sapateiro.
Anos volvidos teve uma incumbência que o fez voltar a esta terra. Acabado de chegar ouviu os sinos tocarem a finados, pelo pesar que via nos rostos dos passantes pensou que o defunto devia ser alguém muito querido e importante, indagou o nome de tal pessoa e soube que era o Bandarra. Num repente veio-lhe à mente a rima que tinha ouvido, correu até à praça e na porta da Igreja de São Pedro, metade dentro e metade fora, encontrava-se o esquife onde estava depositado o corpo inerte e frio do sapateiro.
Nesse momento compreendeu o vaticínio de Bandarra, prostrou-se de joelhos e fazendo o sinal da cruz comprometeu-se e cumpriu, a pagar todas as custas deste funeral.
Sentiu-se quite com o homem a quem um dia “negara” o pagamento do arranjo das suas botas.

Em Trancoso circulam várias histórias associadas à vida do sapateiro Bandarra, umas verdadeiras outras um pouco ficcionadas.

Ele que conhecia bem as Escrituras do Antigo Testamento e as interpretava à sua maneira, foi acusado pela Inquisição de judaísmo e viu as suas poesias serem incluídas no catálogo de livros proibidos, uma vez que suscitavam muito interesse entre os cristãos-novos*. Foi inquirido perante o tribunal da Inquisição, foi ilibado mas ao mesmo tempo obrigado a participar na procissão do auto-de-fé de 1541** e a nunca mais tentar interpretar a Bíblia ou a escrever sobre Teologia.

* Era a designação dada em Portugal, Espanha e Brasil aos judeus e muçulmanos convertidos ao cristianismo.
** Foi em 1541 que em Portugal se realizou a primeira procissão do auto-de-fé, depois desta muitas outras se seguiram e foram muitas as pessoas que foram condenadas à morte. Era uma cerimónia levada a cabo para dar cumprimento a uma proclamação do tribunal da Inquisição. Começava com uma procissão, seguida da condenação, da reconciliação do penitente e do perdão ou da execução da pena para os que tinham sido sentenciados
.

domingo, 16 de maio de 2010

BEIRA ALTA

Em boa hora decidi “fugir”!
A nossa Beira Alta é linda! Os meus olhos foram portas que deixaram a minha alma alimentar-se com visões do paraíso. Sobre os campos não cultivados estende-se um manto amarelo, azul, branco, rosa, lilás, … e vermelho, o vermelho das frágeis papoilas, protegido por serras e serranias. O verde aqui assume milhares de tonalidades. Nos campos cultivados vêem-se as videiras, as amendoeiras, as azinheiras, as oliveiras, … Tudo muito cuidado e limpo!
“As vistas” conforme a paisagem ia desfilando, iam sendo cada vez mais surpreendentes! Quando pensava que tinha visto um panorama maravilhoso, aparecia-me outro, mais outro, mais outro ainda!
As casas muito bem cuidadas! Reconstruídas! Pessoas vi muito poucas, parecia que estava num lugar desabitado. O frio foi muito e a chuva alguma… mas pouca para o que temia.
Assentei arraiais em Trancoso, fiquei no Hotel Turismo, onde só pernoitei e jantei.
Durante o dia andei numa azáfama medonha, procurando ver o máximo possível, sentindo uma necessidade imensa de absorver a História que ali se “cheira”, se “sente”, se “ouve”, se “vê”, se “degusta”…
Visitei: Celorico da Beira, Moreira de Rei, Sernancelhe, Penedono, Freixo de Numão, Vila Nova de Foz Côa, Castelo Melhor, Marialva, Longroiva, Meda e Carrapichana.
De quase todos estes lugares tenho uma história engraçada para contar, o que irei fazer à posterior.
Quanto às iguarias, tenho “medo de falar”! Tenho medo porque cometi horrores! Devorei presunto, queijo, morcela, chouriço e farinheira, para além das sopas e dos pratos tradicionais. Portei-me bem nas sobremesas, só comi fruta, mas tenho dúvidas se isso redimiu o meu pecado da gula... Temos uma gastronomia FABULOSA!

De Trancoso trouxe “sardinhas douradas” que foram apreciadas não por mim...
Não gostei muito do aspecto delas, mas quem as comeu "aprovou-as".

“Estas tradicionais sardinhas não têm escamas nem espinhas, possuem tripinhas de amêndoa e são uma especialidade deixada pelas irmãs do convento de Santa Clara.
São um produto tradicional, feito à base de gema de ovos e amêndoa, juntamente com chocolate, açúcar, azeite, sal e canela. Na sua confecção permanece a tradição artesanal, rodeada de grande cuidado na preparação e na fritura.
No âmbito das suas características físicas, apresenta uma forma semelhante à das sardinhas, com um invólucro relativamente estaladiço, de cor castanho-escuro, e com um interior amarelo pastoso de homogeneidade mediana.
(…) têm um doce sabor “sui géneris” a canela e amêndoa, bastante agradável ao paladar.
(…) Bendita freira que as criou…”

Texto retirado da Internet Casa da Prista (fundada em 1917)


A origem deste doce, reza a história local, é que em tempos remotos as sardinhas que chegavam a esta região eram extremamente caras, percebe-se porquê, havia uma longa distância a percorrer, tinham que ser bem conservadas, eram comparadas a jóias em ouro tal o seu elevado preço, as freiras decidiram imitá-las fazendo este doce característico.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

DOÇURA OU DIABRURA XXX

Cheguei há pouco mais de duas horas da Beira Alta. Adorei o passeio! Soube-me a pouco esta “fuga”! Tenho histórias para partilhar convosco. Pensei em todos, mas especialmente no Gaspar de Jesus, no Vicktor, na Susana, na Sairaf (nada de ciumeiras), porque já verifiquei que fotografam maravilhosamente. Que belíssimas imagens eles conseguiriam captar nos locais que visitei! E como os imortalizariam!
Eu levei máquina fotográfica mas esqueço-me totalmente dela ou, se a uso, é um descalabro.
Inicia-se mais um fim-de-semana e aqui vos deixo uns versos dedicados a Amália Rodrigues, escritos por uma amiga real.

Quando cantas o meu beijo

Beijei-te a voz e o riso,
E tu disseste: - Fui eu
Que te beijei sem juízo,
Que cantei o paraíso,
Até que a voz me doeu

Cantaste o beijo que deste?
Que fizeste, meu amor?
Quando cantas o meu beijo,
A tua voz é a cor.
É a cor de uma cereja,
É a onda da maré,
É a boca que se inveja,
E põe plateias de pé.

Ai quando cantas o beijo,
Tu enlaças, com ardor,
O teu xaile, no desejo
De teres o teu cantador.
De teres o teu cantador,
Junto ao teu peito abraçado,
Ai o xaile, meu amor,
Porque o tens tão apertado?”
Maria Lucília Bonacho, in E o Fado Cantou-lhe Assim
A TODOS DESEJO UM ÓPTIMO FIM-DE-SEMANA! EU VOU DESCANSAR, "QUE ISTO" DE PASSEAR CANSA MUITO!!!!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

COM OU SEM NEXO?

Cenário: sala de estar do meu Refúgio
Personagens: eu*, a minha neta**, o meu neto e um boneco (um “nenuco” que ainda não tem nome, afirmou com muita convicção a “mãe”, mas é menino…)


Diálogo quase monólogo

*Que aconteceu ao teu bebé?
**Ele arranhou-se numa flor, depois foi para a rua de pijama, depois fui buscá-lo por uma orelha e depois ele conseguiu sair.
*Saiu! De onde?
**Deu-me um belisco na mão e saiu ...
*E para onde foi?
**Foi-se vestir e voltou para a rua sem meias e sem casaco
*E tu, o que fizeste?
**Fui buscá-lo para comer o pequeno-almoço. Sujou as calcinhas e eu tive que ir lavá-las.
*Ficaram bem lavadas?
**Sim! Eu queria mudar a fraldinha e ele não deixou e depois fomos ao restaurante e depois viemos para casa da avó, não queria dormir e tive que o pôr a dormir. Acendeu uma luz, pôs lá o dedo e queimou-se, mas não estava a dormir, estava a fingir.
*Coitado!
**Aleijou-se, queimou-se. Uma mosca picou-o.
*Tanta desgraça!
**Ele tinha piolhos e borbulhas, eu queria ver os piolhos e ele não deixava. Tenho que comprar uma pomada para ele pôr nas borbulhas e nos piolhos.
*Ele faz muitos disparates?
**Mexeu nas chaves sem autorização, a chave que estava avariada mas ainda estava boa, depois eu estava a vê-lo, ele abriu o carro e partiu. Fui a pé comprar um carrinho e andei com ele.
**********
-Ó I… QUERES VER A TAÇA? (perguntou o irmão que estava a jogar, no meu, muito meu computador, um jogo de futebol)
-EU NÃO GOSTO DE FUTEBOL! JÁ TE DISSE ISSO MUITAS VEZES!
-MAS QUANDO HÁ FUTEBOL NA TELEVISÃO, TU SENTASTE AO COLO DO PAI A VER!
-PORQUE GOSTO DO PAI!
**********

**Não vais acreditar no que ele fez, tocou na pilóca e no rabinho. Eu tive que lhe dar muitas, muitas palmadas…("mãe" castradora, com vontade de dar um rumo à conversa, que acaba sempre em grandes disparates e gargalhadas histéricas, por parte do irmão).
Ele gosta muito de ouvir histórias e também gosta da chucha e do biberon e também gosta de mim e de dormir nas duas camas.
*Duas camas! Que camas?
**Aquela cama com grades e sem grades.
* Tens que ir dormir! Vai pôr o teu bebé na caminha e anda!
**Não! Ele também gosta de dormir em casa da avó e também gosta de ursinhos com pelinhos.
*********
Esta "cena" terminou aqui mas a acção não, mete-los nas camas para dormirem foi um trabalho para Golias, mas como "sou" David, lá me "desenrasquei", com um pequeno senão...acabaram os dois a dormirem na minha cama que, felizmente, é muito larga...

domingo, 9 de maio de 2010

A ROSA E O PINTOR

Hoje em algumas partes do mundo celebra-se o Dia da Mãe, para as minhas comentadoras que o estão a celebrar, “vejam” como o celebrei em Viena de Áustria, há dois anos, numa altura em que o meu corpo andava por lá e a minha alma por cá…
Fui buscá-lo a um post que publiquei no início deste meu blogue.

PARA TODAS UM FANTÁSTICO DIA DA MÃE !

Viajei um pouco pelo mundo, muito menos do que sempre desejei, uma coisa no entanto é certa, de quase todos os lugares que visitei e visito nas minhas loucas viagens, trago um cheiro, uma emoção, um gesto, um acontecimento... que me desperta o recordar desse mesmo lugar. De Viena de Aústria trouxe algo.
Visitei-a pela 1ª vez em 2008, comemorei com os austríacos o Dia da Mãe, o deles, que difere na data do nosso, em 7 dias.
Nesse dia, que coincidiu com o dia de regresso ao lar e ao braços da família, com bastante tempo livre pela frente, para fazer o que me apetecesse, decidi dedicá-lo a uma visita ao Palácio de Belvedere, para apreciar uma exposição temporária do pintor Kokoshka de quem um amigo me tinha falado com bastante entusiasmo. Confesso que sou um pouco retrógrada em relação aos pintores impressionistas mas não me esquecerei jamais desta exposição, nem do acto que precedeu a visita.
Logo à entrada, numa altura em que a vida já estava a amaciar a minha aparente dureza e a metamorfosear-me num ser mais crente na gentileza, um jovem austríaco impecavelmente fardado, com uma vénia perfeita e bem ensaiada, ofereceu-me uma rosa amarela, disse uma frase que não entendi mas que me fez sentir tão "especial", tão única, tão feminina, tão mulher e mãe.Ele fazia o mesmo a todas as senhoras com idade para serem mães, mas eu senti como se aquele pequeno grande gesto me fosse exclusivamente dedicado, o meu ego ficou opado de orgulho por ser mãe e emocionei-me muito com esta homenagem, tão singela mas tão significativa.
Quanto ao artista Kokoshka, foi uma revelação, na sua obra, mais de 100 expostas, revela um traço em que o retrato predomina, ele transmite para a posteridade a mulher real, a mulher sem traços perfeitos, a mulher com rugas, a mulher despenteada, a mulher com barriga, a mulher.... Os esboços de nus e não só, aparentam uma leveza que parecem fáceis, consegui "vê-lo" com mãos suaves a colocarem no papel o que o seu espírito criador sentia. O seu amor por Alma Mahler é visível em várias obras e fiquei de tal modo extasiada com as suas criações que não senti o decorrer do tempo e o que tinha disponível para me manter na exposição esvaiu-se.
Resta-me a recordação, o desdobrável e a rosa seca...
***********

Vou fugir, sinto necessidade disso e desta vez afastada de um computador, volto para a próxima Doçura ou Diabruras e com alguns relatos da minha passeata…
Para todos o desejo de uma EXCELENTE SEMANA!
OBRIGADA POR ESTAREM COMIGO! LEVO-VOS EM PENSAMENTO E NO CORAÇÃO.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

DOÇURA OU DIABRURA XXIX

Xiiiiiiii! O tempo não corre, avança a galope…
Mais um fim-de-semana que chega!
Mais DOÇURAS OU DIABRURAS.
Cá vai!



“cinco horas

ajoelhei a teus pés
pedindo que me saciasses
a fome deste desejo
que nos teus seios
é sempre um dia dos namorados
como se em cada passado
nos oferecesses o segredo
do presente
que tínhamos de abrir
na fantasia
de que tudo é dado
com a ternura
do infinito da incerteza
de não saber já se existes
ou és mais uma insensata
criação
do meu desejo de te amar"
Miguel Barbosa, in A Eternidade de um Segundo Amor
*********
PARA TODOS A MINHA TERNURA NOS VOTOS DE UM BOM FIM-DE-SEMANA!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

RELATÓRIO DE QUEIXAS

Na sequência do post de ontem, não resisti a dar-vos a conhecer o relatório de queixas feito pelo meu filho e colocado no nosso espelho de entrada da casa de Lisboa. O cão referido no relatório é o Phoebus, o queixoso adora animais e gostava deste em especial, o que escreveu sobre ele foi para se exibir (tinha catorze anos…que saudades!)


Relatório de Queixas

A Ana Rita (…), chegou a casa pelas dezasseis horas e trinta minutos, do dia dez do corrente mês de Novembro, do ano da graça de mil novecentos e oitenta e dois. Após ter penetrado no nosso humilde lar a correr, recusou-se a tomar o lanche, afirmando que V. Ex.ª lhe tinha dito que mal chegasse a casa, fosse de imediato passear o animal irracional que na presente época se encontra instalado connosco. Esteve mais de trinta minutos nos terrenos anexos ao nosso bloco habitacional, o que eu, (…), nascido em dezanove de Fevereiro de mil, novecentos e sessenta e oito, filho de Vossa Excelência e do Excelentíssimo Senhor (…), penso ser demasiado, visto tratar-se apenas de um passeio de um (se me permite a expressão) rafeiro pulguento e com a agravante de lhe ter sido chamada por várias vezes a atenção. Seguidamente, ao chegar a casa não lavou as “patas” e não permitiu que lhe desse de comer. O mais repugnante de tudo é que aquela fedelha ranhosa, rabugenta, estúpida, refilona, que diz ser sua amiga, esteve cá em casa. Mandei-as fazer o trabalho de casa, disseram-me que não havia, mas eu descobri que havia. Por fim a mãe da Rita Sofia telefonou para cá a dizer que a filha não devia ter vindo para cá, etc., etc., etc.
Sem mais
(…)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

EU PERGUNTO, ELA RESPONDE!

*Lembraste do dia em que viste a Kitty pela primeira vez?

** Como podia esquecer? Era o meu 9º aniversário, fui almoçar a casa e no meu quarto estava um cesto de verga com um enorme laço vermelho. Não percebi bem o que era… Espreitei e vi a nossa Kitty! Como fiquei feliz!

*Hoje sabes porque te foi oferecida… Queres contar?

** Eh, eh… se bem me lembro foi para me tornar mais responsável! Para saber tomar conta dela, aliás com ela veio um postal com o “recado” e “instruções”. Caso não desempenhasse bem as minhas funções de dona, ela seria “devolvida”.

*É claro que nunca a devolveríamos…Em situação de “recurso” “dávamo-la” ao teu irmão.

**Pois, mas a "desgraçada" já tinha tido três donos! Recordo-me de dizerem que tinha estado em casa de um sapateiro, mas que lhe roía os sapatos dos clientes, foi devolvida… Depois esteve com duas irmãs que andavam à bulha por causa da cadela, foi devolvida… Também teve uma dona ausente, passava o dia sozinha em casa, ladrava muito, os vizinhos queixavam-se, foi devolvida… Lembro-me que a dona da mãe da Kitty, telefonou logo no dia a seguir a perguntar se estava tudo bem!!! Os telefonemas repetiram-se semanas a fio:) Neste caso à quarta foi de vez!

*Posso afirmar que foste uma excelente dona! Levava-la à rua, sem ser preciso lembrar-te, preocupavas-te bastante com ela…

** Pudera! Depois da licenciatura, mestrado e até doutoramento que tirei com o Phoebinhos… Levava caderno e lápis e apontava as vezes que fazia chichi e cocó e não eram poucas!

*Eras tão engraçada a fazeres isso! Ele estava à nossa guarda enquanto a nossa querida Maria Odete viajava…Ele adorava-te! Adorava-nos!
O que pensas que a Kitty sentia em relação a ti?

** Venerava-me!

*”Presunção e água benta cada um toma a que quer”…
O que sentes tu, ainda hoje, em relação à “nossa” Kitty?

** É a cadela da minha vida! Foi minha companheira, amiga e até confidente! Quando eu ficava amuada e fazia beicinho, agarrava-me a ela e dizia que só ela era minha amiga, só ela é que me compreendia… Era meiga, asseada e super inteligente! Quando o F. (na altura meu namorado, hoje meu marido), se despedia e dizia “até amanhã” ela levantava-se num ápice pois já sabia que ia à rua! Acompanhou-me até ao último ano da faculdade… Tal como a tua gata Leta, viu-me crescer!

*Mas um dia teve que partir…

**Foi em Janeiro de 1996. Ela, que era tão gulosa e comilona, nesse dia não quis comer nada… Como os bichos pressentem a morte… Eu estava no quarto a estudar, tu chamaste-me e ao pai, e os três vimo-la despedir-se de nós… No dia seguinte, lá fomos com ela para o Jardim Zoológico…
Lembro-me que na altura, a dona do Phoebus, me ofereceu um bonito e singelo texto sobre a “partida” de um cão, de onde retive a seguinte frase: “O melhor lugar para se enterrar um cão é no coração do seu dono.” E é no meu que ela está!


OBRIGADA FILHA POR TERES ACEITE O MEU DESAFIO!

Nota: Aos que me visitam, só de vez em quando, devo explicar que este texto foi escrito a “duas mãos e um dedo” (como já disse ao Carapau) e o dedo foi o meu…
No comentário que a minha filha fez ao post do dia 3, falou na Kitty e eu lancei-lhe um desafio… este é o “produto” desse desafio.
Foi a nossa “primeira vez”, se gostarem, estou a falar por mim, vou tentar que ela colabore comigo num texto ficcionado.

terça-feira, 4 de maio de 2010

PARTILHANDO

Refúgio, 17 de Julho de 2008

Jorge M.F.C.

Nunca lhe escondi que a sua existência, porque sempre existiu, não me correspondi com um ET, é do conhecimento de familiares e amigos. Alguns com muita ternura aconselharam-me a ter cuidado, outros, com uma certa aspereza, diziam que devia ter juízo, que o que estava a fazer não era próprio de uma pessoa como eu, outros ainda queriam saber “novas”.
A nenhuns dei a ler a nossa troca de correspondência, não porque sinta vergonha do que escrevi mas, por uma questão de preservação de intimidade.
Às que têm companheiros, confessei-lhes que era um jogo perigoso, e que o envolvimento a que me estava a entregar, era demasiado forte. Fi-las compreender que se estivesse na situação delas nunca o faria, porque tal iria necessariamente ”mexer” com a vida afectiva.
Sei que isto lhe fez sempre muita confusão, nunca percebi porquê.
Dei pelo seu “afastamento” pouco antes da viagem à Aústria. Como homem educado, que penso que é, fiquei desiludida, quando cheguei e não encontrei um “bilhetinho” a saudar o meu regresso.
Para abreviar, nos finais de Junho encontrei-me com um familiar muito próximo, que não via há cerca de 2, 3 meses.
No meio da conversa animada, que normalmente temos, pergunta-me ele: “ a……(mulher) disse-me que andas muito entusiasmada com um amigo colorido, quero saber pormenores.” (……)
Interrogatório cerrado, descrições para aqui, pormenores para ali, risadas e admoestações e como um raio que fulmina, sem se esperar, aconteceu o que eu jamais pensei que podia acontecer, ele reconheceu-o, pormenores como o minha atracção por barbas, o nome Jorge e restantes iniciais,… convive bastante consigo, é seu amigo (?) sabe imenso da sua vida profissional e pessoal.
O seu mau momento deduzi deve-se, principalmente, a instabilidade financeira. O meu primo nunca me irá trair, mas eu, ainda com uns restos desta lealdade que sempre me caracterizou, por duas ou três vezes, tentei comunicar consigo pelo telefone proibido (?) para lhe dar conhecimento da situação. Esqueci-me que durante alguns fins de semana a sua filha está consigo. Respeito muito as famílias, e procurei compreender a sua reacção, mas isso não lhe dá o direito de me insultar, cobardemente, por escrito, pensando que estava protegido pelo anonimato. Podia tê-lo feito oralmente, teve medo?
Aconselhou-me a ter juízo e isso aceito e agradeço, passei a ter tanto juízo que resolvi usar os conhecidos e amigos que tenho para o tentar compreender e conhecer melhor. Neste momento, conheço grande parte da sua vida através de testemunhos e até de documentos. A direcção para onde vai esta carta é uma das provas disso.
E aqui vão outras: 23 de Dezembro de 19**, Ferreira do Alentejo, viúvo (?) ……E quem me tem fornecido estes dados, nem sequer o conhece.
Tive é certo uma outra fonte de informação, para poder confirmar se não estava a imiscuir-me na vida de pessoa errada.
Não fique, no entanto, preocupado porque, sei que não devo, não quero, nem fazia sentido, usar estes conhecimentos (em quê?) e outros que não referi. Servem apenas para o que eu precisava, sou mulher com pés assentes na terra, no meu chão, durante uns tempos a cabeça separou-se do corpo e andou pelo ar, já regressou para meu conforto espiritual e para a minha tranquilidade diária.
Pergunto o porquê de me deixar sofrer por si pensando que estava doente, que a sua família não estava bem, …. ? Foi duma crueldade que eu ingenuamente, mesmo depois de muito avisada, nunca pensei que existisse. Hoje não tenho dúvidas, os “mundos” em que nos movimentamos são muito diferentes e ainda bem, odeio a maldade, a má educação, os juízos precipitados, a cobardia, o anonimato, a falta de verticalidade…….
Para não dizer que eu também estou “escondida”, quando quiser saber quem sou, na realidade, é só perguntar, dou-lhe o meu currículo completo e com comprovativos se achar necessário.
Os meus medos iniciais, para além dos que já conhece, tinham razão de ser, não porque tivesse medo da opinião “pública”, mas por estar numa posição que não procurei, por ter medo de sair magoada, por sentir no meu íntimo que era uma coisa que não devia fazer. No meu subconsciente sabia que não devia entregar a minha “alma” a um homem desconhecido, mas estava a ser invadida por um forte bem-estar que adoçava a fase má de vida que estava a atravessar. Não me arrependo!
Pergunto-me: porque não aplica a sua vasta cultura de um modo mais produtivo, mais digno? São poucas as mulheres que têm capacidade para acompanhar os seus conhecimentos? Lembro-me de Stefan Zweig que tanto admira e sobre quem fez um texto excepcional, que escrevia duma forma, para a qual não tenho palavras, sobre mulheres, ele “pensava” como uma mulher. É o que acontece consigo por isso conseguiu “conquistar-me”?
Fico grata por ter-me ajudado a despertar a minha sexualidade, sinto-me uma mulher mais completa, voltei a sentir-me adolescente, regredi e isso dá-me prazer, mas não sou, nem nunca serei uma pessoa que precisa de marcar encontros através da internet, para encontrar um companheiro, isso é próprio dos “calcinhas” e das mulheres de um nível a que decididamente não pertenço, nem quero pertencer.
Quem é o Jorge para querer resguardar tanto a sua “vida”?
Ainda pensei que fosse uma figura pública com medo de alguma chantagem futura.
O que o levou a querer saber tanto sobre a minha intimidade e a não “dar nada”?
Que problemas de consciência o atrofiam como homem?
Quem foi a pessoa que o tornou tão pouco crente na honestidade dos outros?
Quem o ensinou a julgar e a condenar sem ouvir razões?
…………………………………………………………………………………………….
Poupe-me e não seja criança ao ameaçar-me com a desactivação do “nosso” endereço do e-mail. Para que conste, tenho outro endereço seu, cedido pelo meu primo. Fique descansado que jamais o utilizarei.
Lamento ter enviado para o lixo parte da nossa correspondência, principalmente a inicial. A que resta, está impressa e arquivada, em dossier a ela dedicado, para que eu a possa reler e me lembrar o quanto fui imprevidente e que, como tão sabiamente diz, não fui muito ajuizada. Servirá também para passar um testemunho aos meus netos, quero que eles conheçam o meu melhor e o meu pior. Se pude partilhar consigo fases boas e menos boas da minha vida, eles de certeza serão mais dignos de tais confidências e compreenderão muito melhor as minhas motivações.
Ao reler as nossas conversas, as palavras lindas que trocámos, a sintonia de pensamentos e sensações, o jogo de sedução, … penso se da sua parte não terá sido tudo premeditado? Quero acreditar que não. O que é que mudou, o que é que eu fiz para que se voltasse contra mim e me considerasse abominável? Não, decididamente não o sou, a minha consciência disso não me acusa!
Em qualquer altura, se quisesse, mas não quero, podia encontrá-lo pessoalmente, nomeadamente, no seu local de trabalho, bastaria pedir ao meu familiar para me levar até lá e apresentar-nos.
Saí do limbo que era a situação que mais me confundia, desejo-lhe que saía rapidamente do sufoco em que se encontra, eu através de terceiros irei acompanhando o seu percurso de vida e ficarei muito feliz se souber que arranjou uma companheira digna de si. Não a procure na internet, parta do conhecimento duma mulher real, com defeitos e virtudes e com a qual “sinta” as três parcelas da tão falada adição.
Penso não ter usado as mesmas armas que usou para me “despachar”, se fui injusta, depois de meditar bem e lhe restar algum respeito por alguém que sempre lhe foi leal, perdoe-me.
Com todos os seus defeitos, quem os não tem, continuo a sentir por si ternura e terá sempre um lugar reservado no meu coração.
Ouvir “Take this waltz” ainda me causa rubores.
Na minha idade o caminhar dos ponteiros do tempo não é benéfico. Há que não atender aos efeitos nefastos da impaciência, tão bem descritos por George Stneir. Sou forçada a ser impaciente!

Despeço-me, lamentando que não possamos partilhar uma longa e saudável amizade.
Maria Teresa
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NOTA: Esta carta foi enviada a quem de direito quase há dois anos, reparem na data, hoje estou a dá-la a conhecer a todos vós, porque penso que merecem conhecer o meu lado "ingénuo" de mulher muito fragilizada, numa determinada época da minha vida. Com ela esperava apenas e só, um pedido de desculpas que nunca chegou...
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Obrigada C. pela tua frontalidade, talvez tenhas razão mas não estou ressabiada, estou "vacinada", já não a posso "retirar", não seria correcto da minha parte ... Aceito o que possam pensar de mim...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

VIOLETA

A minha primeira recordação é a de ser transportada num cestinho com um pequeno ramo de flores perto de mim. Fui apresentada a uma jovem senhora que exclamou: Violetas! Obrigada meu querido!
Gentilmente as suas mãos seguraram-me e aproximaram-me do seu corpo, era um corpo estranho, diferente … pois era magra mas tinha um abdómen enorme. Virou-me para espreitar o meu e disse: Violeta! É uma “violeta”!... E Violeta fiquei. O meu coraçãozinho bateu mais depressa, senti ternura e amor naquela sua frase … apaixonei-me por ela!
O tempo passou mas não muito, o seu abdómen desinchou de um dia para o outro e apareceu lá por casa, uma bolinha de carne que emitia uns vagidos, uns sons que eu nunca tinha ouvido, era estranho para mim, muito estranho mesmo…
Aos poucos fui sabendo que aquela “coisinha” era um filhote humano, para ser mais precisa, uma filhota. Comecei a gostar daquela trouxinha de roupa e, a pouco e pouco, tomei-a como sendo também minha. Quando a trouxinha choramingava eu corria apressada e aflita até junto da jovem senhora e “dizia-lhe”.
A filhota começou a ficar cada vez maior, deixou de estar sempre na cama, começou a movimentar-se sobre dois membros como a minha dona e a emitir sons diferentes, cada dia mais diferentes, eu deixava que ela me acariciasse, por vezes, até me puxava o rabo, eu encolhia-me um pouco, protestava mas não fugia… até que um dia essa menina virou-se para mim e disse: Leta! A partir dessa altura deixei de ser Violeta e passei a ser a Leta, Leta para sempre…
A paixão que tinha pela minha dona não era nada comparada com a que sentia por esta criança que crescia, crescia, crescia, … Assisti a todos os momentos importantes da sua vida, permiti que ela visse os meus filhotes nascerem. Sim! Tive muitos filhos! Alguns continuaram a viver comigo, outros foram viver para casa de amigos da minha dona e outros morreram à nascença. Quando eles morriam acabados de nascer eu pensava: sou uma má mãe, não sei ajudá-los a saírem de dentro de mim, nem a comer a placenta a tempo de os deixar respirar…
A partir de uma dada altura, quando a minha natureza me pedia para ter um companheiro, passaram a não me deixar sair para o quintal, ouvia constantemente dizerem: atenção! Fecharam a porta? … Cuidado! Não deixem a Leta sair!
Não me importei muito, já tinha cumprido o meu direito e o meu dever de ser mãe…
Vi partir os meus filhos… eu sobrevivi-lhes, vivi com os humanos até a paixão da minha vida ser uma estudante universitária, eu sabia que ela ia ser professora. Quando era ainda bem pequena tentou ensinar-me a ler, nisso não alinhei, por muito apaixonada que estivesse, para mim seria uma cedência muito grande…paixão tem limites. No entanto, fui boneca, fui confidente, fui companheira de brincadeiras, … vi-a e ouvi-a rir, chorar, cantarolar, segredar, refilar…

Até que um dia, chegou a hora de partir para onde hoje me encontro, vim feliz…e aqui estou para toda a eternidade, junto dos meus iguais, andamos soltos por campos pejados de flores e sombras, brincamos muito, não precisamos de ser alimentados, não temos nomes, todos somos apenas… gatos!

Texto publicado no âmbito do desafio PAIXÃO para Fábrica de Letras

domingo, 2 de maio de 2010

MAMAN

Foi em Ottawa (Ontario) no Canadá, que me coloquei por baixo desta estranha mas irresistível e fantástica escultura, à qual Louise Bourgeois sua criadora chamou Maman. É de dimensões apreciáveis como podem comprovar, comparando-a comigo. Reparem como o abdómen se encontra repleto de ovos!

No dia em que em Portugal se comemora o dia da Mãe, lembrei-me desta obra de arte tão bela no que de tão feio tem um aracnídeo, este parece ter descido por um fio suspenso da sua teia entrançada no céu. Não resisti em partilhá-la convosco.

Através de declarações feitas por Louise, fiquei a saber que todas as suas obras de arte escultórica tiveram como inspiração a sua infância. A Maman não fugiu à regra, é uma imagem emblemática da própria mãe, Joséphine, que restaurava tapeçarias, numa empresa familiar de restauração. As enormes e delgadas patas arqueadas da aranha, terminando em ponta, assemelham-se às agulhas de coser, o corpo em espiral faz lembrar as bobines de linha e a dupla hélice de fio genético relembra o laço entre gerações. O abdómen da Maman retém, à semelhança de uma gaiola, vinte ovos em mármore branco que exprimem o papel protector e nutritivo duma mãe.


Louise afirmou numa entrevista: “(…) A minha mãe era a minha melhor amiga… responsável, inteligente, calma, apaixonada, racional, delicada, subtil, indispensável, transparente e útil como uma aranha”

A Maman tem a bonita altura de 9,27 metros e pesa apenas 6 toneladas… Foi “criada” em 1999 mas o seu “acabamento” apenas se deu em 2003, sendo adquirida pelo Museu de Belas Artes no ano seguinte.
Foram precisos cerca de uma dúzia de especialistas em colocação de objectos de grande porte e duas gruas para instalarem esta elegante criatura de aspecto gótico…
Nas patas vêem-se as marcas da soldadura, como se fossem cicatrizes, o corpo está ligeiramente descentrado, faz lembrar um ser meio animal, meio máquina.
Toda esta sua aparência, uma característica excêntrica que lembra de certo modo Mad Max, atrai os espectadores que se deslocam, tal como eu o fiz, para o espaço delimitado por esta aranha. No fundo fui atraída por ela física e psiquicamente.

Não o podemos negar, é um MÃE!