No primeiro fim de semana de Outono,
um Outono que se apresenta ameno, aconteceu a partida para uma viagem com um
alvo bem definido. A Beira Interior esperava por nós!
Durante todo o percurso senti a presença de José
Saramago, em algumas das palavras que usou para construir as obras “Viagem a Portugal” e “A Viagem do
Elefante”. Em Castelo Rodrigo também o
encontrei, homenageado numa gravação em pedra.
Comprando figos secos "à tigela" na Feira Medieval, em Sortelha
E num jogo de palavras com sentido,
construindo frases, mas com um certo desalinho da minha parte, vou continuar a jogar
com elas, num relembrar de momento, consoante vão saindo das gavetas da minha
cómoda do conhecimento e chegam ao meu consciente, registando o meu testemunho.
Castros, castelos, judearias, inquisição, igrejas,
pelourinhos, museus, aldeias, vilas…
Castelo
Rodrigo de seu nome, uma aldeia histórica que é vila, deixa emergir a beleza do
local, a história das guerras antigas e a muito celebrada passagem de Salomão,
o elefante que foi obrigado a ser caminhante.
Museu Histórico Militar, orgulho de
Almeida, palavras que nos conduzem ao mundo das lutas, das guerras e guerrilhas
e que no local nos permitem observar a evolução de malfadados mas atraentes instrumentos
de morte, as armas.
D.Dinis, de entre os reis
relembrados, foi o mais citado pelo seu bom desempenho como governante. Em
Trancoso lá estava, recordado por outros motivos, o seu casamento com D. Isabel
de Aragão. A palavra Trancoso segreda-me “sardinhas doces”. Eu não caí em
tentação, mas houve quem não se esquivasse, eu testemunhei!
Na Guarda a formosa, a fria, a farta, a forte, a fiel…
oiço a palavra amores e fico desperta,
sou uma romântica sem cura, oiço e aprendo, ela foi palco de algumas paixões.
Nesta cidade que alguns consideram formosa e outros feia, D. Sancho I apaixonou-se perdidamente por D.
Maria Pais mais conhecida por Ribeirinha, para ela e por ela escreveu lindos
poemas. Quase que a fez rainha! D. João, Mestre de Aviz enamorou-se de Inês,
uma judia filha do Barbadão, sapateiro local, que com o desgosto, deixou
crescer longas barbas. Deste grande amor, reza a História, nasceu a Casa
de Bragança. D. Pedro e D. Inês aqui se conheceram e se casaram secretamente…
Numa das ruas da parte antiga fico a
saber que Augusto Gil por ali nasceu. Augusto Gil, duas palavras, um nome, de
imediato vejo-me a recordar a “ Balada da Neve”.
Há atitudes que podem substituir com
impacto a fala, numa esquina da parte exterior da Sé da Guarda, bem no alto, em
companhia de outras gárgulas, um ânus esculpido em pedra, bem aberto em direcção
a Espanha, transmite uma vontade das gentes. Ri-me da infantilidade da ideia
mas apreciei a obra.
Belmonte, a terra dos Cabrais, Cabrais
lembra Cabral e estou certa. Aqui nasceu Pedro Álvares Cabral e com ele surge a
palavra descobrimentos, no museu a eles dedicado, um museu interactivo, muito
bem concebido (não foi por acaso que ganhou um 1º prémio de criatividade)
entrei no mundo dos nossos navegantes. Viajei sonhando. Belíssima viagem!
Em toda a região se fala na presença
dos judeus, foram e são muito importantes para as localidades.Visitei lugares
por eles habitados, tive a percepção da desconfiança, do culto e do oculto, do
medo, da humilhação, … que estes seres humanos têm sentido ao longo dos
séculos. Em Belmonte foi-me concedido o prazer de visitar o Museu Judaico.
Sortelha uma aldeia de encantar
estava engalanada com uma Feira Medieval. Haveria cenário mais apropriado para
nos receber?
Os olhos transmitiram-me imagens e a
estas associo as palavras: magníficas paisagens, grande diversidade de
vegetação arbórea, fortalezas altaneiras, um matizado perfeito bordado pelas flores
que bordejam as casas e estreitas vielas.
Tal como escreveu José Saramago: “A
viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem
prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. “
O que acabo de narrar é uma
pequeníssima mostra do nosso passeio, uma pequena parte daquilo que me ficou em
memória.