quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PASSEIO À BEIRA DA ÁGUA

A inércia que se apossa da tomada de algumas decisões, retarda ou impede a realização de alguns sonhos, tenho um sonho que cada vez está mais longe de poder ser real, gostava de ter uma casa de onde se visse água: mar, rio ou lago.
O meu Refúgio situa-se numa aldeia muito perto do mar, junto do poço comunitário vejo-o, o que quer dizer que se a minha casa estivesse 100 metros mais para oeste eu via-o. Que pena não lhe poder colocar umas rodinhas!


Ontem tive um dia em pleno, passei parte da tarde passeando ao longo de uma das margens do rio Cávado. Como já vem sendo hábito, não é defeito meu, é feitio, não levava máquina fotográfica. Ficaram-me as imagens e o dia marcados na memória. Um dia com resquícios de felicidade, de bem-estar!

Hoje, com a minha filha fiz uma longa caminhada pela minha praia, a maré estava baixa, as rochas que o mar deixou a descoberto, estão pejadas de mexilhões, percebes e lapas, nas pocinhas vêem-se cardumes de peixes minúsculos. Que belíssima fotografia se teria tirado! Eles embora muito pequenos e quase transparentes são detectados pela sua sombra…

As gaivotas por lá andavam, muitas a descansar nas arribas, quietas, muito quietas.
Outras no areal! Nada as perturba.

A praia estava quase deserta, um pescador com duas canas a postos, um
casal que sentiu necessidade de comunicar connosco, enquanto colhíamos alguns mexilhões, e mais umas três pessoas dispersas, tomando banho de sol.

Sinto-me tão calma, tão bem comigo mesma, quando faço este tipo de caminhadas…O sol, sem estar muito quente, beijou despudoradamente as minhas costas desnudas, acariciou-me o rosto!
Como não podia deixar de ser, é-me irresistível, molhei as pernas e os “panos” que as envolviam…


Voltei para casa, sentindo-me feliz por estar viva, não estar doente e poder usufruir deste tipo de passeio…
Amanhã vou repetir a “proeza”! E vou
tentar que a minha filha leve a máquina fotográfica. ..

Nota: As fotografias publicadas são da autoria da Ana Rita mas foram captadas na semana passada.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

RITUAL

No ar ainda se sentem restinhos do Verão, quando ele parte sinto uma certa melancolia que se vai diluindo com a volta de alguns rituais que estão bem arreigados em todo o meu ser, um deles é o do chá, do lanche com a mesa recheada e tempo para o saborear.
No retornar em pensamento a esta vontade de o fazer, lembrei-me do testemunho que registei num dos meus muitos escritos passados e que vou transcrever:

“A minha casa parece uma feira. A minha filha entrou para lanchar com a ninhada agarrada às saias. O lanche dos pequenotes já tinha sido servido no colégio, mas isso para eles não chegou, nunca chega, petiscam sempre delícias da mesa da avó. Toca a rectificar a mesa de chá, entretanto o mais velho, que ainda não sabe ler, expulsa-me do meu, muito meu, computador. Gera-se uma certa barafunda, o meu Refúgio é
pequeno, o espaço interior não abunda. Chega a altura das coisas se complicarem ainda mais, chegam os outros avós para os ver, mais uma alteração “na mesa”. Depois de várias peripécias a única que não
tomou o seu chá descansada fui eu!”
(11 de Abril de 2008 ).

Sorrio ao ler esta anotação. Que saudades tenho “desses chás”, só passaram dois anos, as crianças cresceram, os horários escolares modificaram-se, as pessoas mudaram o seu modo de estar na vida.

Nos tempos mais próximos, espero que curtos, vou continuar a saborear o meu chá mas quase sempre sozinha… acompanhada pelo som suave de uma música de fundo e pelos meus pensamentos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DOÇURA OU DIABRURA XLIV

Numa fase de contradições minhas, decidi trazer-vos a este Doçura ou Diabrura, o “beijo pintado e o beijo escrito”. Gustav Klimt (14.07.1862 / 6.02.1918) com a sua mais célebre pintura “O Beijo”( criação inspirada em si mesmo e na sua amada Emilie) e mais dois beijos também da sua autoria e o “Beijo” do nosso João de Deus num poema de uma simplicidade e ingenuidade enternecedoras.

Beijo


Beijo na face
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá!

Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
Beija a violeta:
Vá!

Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
Vá!

Guardo segredo,
Não tenha medo...

Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
Dê!

Como ele é doce!
Como ele trouxe,
Flor,
Paz a meu seio!
Saciar-me veio,
Amor!

Saciar-me? louco...
Um é tão pouco,
Flor!
Deixa, concede
Que eu mate a sede,
Amor!

Talvez te leve
O vento em breve,
Flor!
A vida foge,
A vida é hoje,
Amor!

Guardo segredo,
Não tenhas medo
Pois!
Um mais na face,
E a mais não passe!
Dois...

Oh! dois? piedade!
Coisas tão boas...
Vês?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
Três!

Três é a conta
Certinho, e justa...
Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta!
Três!

Três, sim: não cuides
Que te desgraças:
Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes;
Três.

As folhas santas
Que o lírio fecham,
Vês?
E não o deixam
Manchar, são... quantas?
Três!

João de Deus, in 'Campo de Flores'


PARA TODOS UM FIM-DE-SEMANA COM MUITOS “BEIJOS”!!!!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

VIA DELL´AMORE

Cá estou como prometi para vos apresentar a Via dell´Amore.
Não vou escrever muito porque não encontro as palavras certas para descrever a beleza paisagística do local, nem o que senti ao caminhar pela via…
Ficam as fotografias, captadas por um amigo mas que não fazem jus ao local.
Para além dos milhares de cadeados que simbolizam juras de amor eterno, existe um recanto onde os amantes se costumam sentar, se beijam e deixam que alguém imortalize esse beijo numa película.
Deixem-se conduzir pela vossa imaginação, deixem fluir os vossos sentimentos e passeiem-se com aqueles que amam, lentamente, saboreando o momento, aproveitando um tempo em que o “tempo” pára, em que os corações se unem ainda mais, batem descompassadamente mas em uníssono e sintam que a felicidade pode estar presente mesmo que por breves instantes…

Queiram seguir-me:
PORTA DE ENTRADA
A VIA
OLHANDO PARA TRÁS

PORMENOR DA VIA

A VIA VISTA DE UM ÂNGULO DIFERENTE


CADEADOS
a guardarem juras de amor eterno
O MAR AOS PÉS DO PASSEANTES

PLANTAS QUE ENFEITAM AS VERTENTES

UMA FLOR "COLHIDA" NA ENCOSTA
que ofereço a todos os que me acompanharam neste passeio


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

DOÇURA OU DIABRURA XLIII

Deixando a Via dell´Amore em suspenso até à próxima semana, não fui capaz de deixar passar em branco este fim-de-semana, tanto mais que me vou ausentar, mas cá dentro…vou até ao Porto passear pela “rota do barroco” mas não o faço sem deixar mais uma Doçura ou Diabrura.

“Insignificância

Desdenhaste do meu Amor
Da minha Paixão
Eu insignificante no saber
Tu inteligente culto
Não mereci o teu Amor
Só migalhas do teu olhar!
Defeito meu?
Adolescência perdida
Enredo de sentimentos
Falsos e verdadeiros
Inibida dia a dia
Culpada para sempre”
Isabel Romano Colaço, in Labirinto de Espelhos

PARA TODOS UM FIM-DE-SEMANA SEM HORÁRIOS, SEM PRESSAS, …
Nota: “Sabemos e sentimos que a Poesia é bem mais do que uma linguagem (…) . No poema, as palavras são “outra coisa” que tem a força e o sentido de uma oração a todos os deuses. Fruir estes poemas-oração, é como descansar serenamente – e por magia – sobre as águas do Mar num dia calmo e ao crepúsculo” Ângelo Rodrigues.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

RIOMAGGIORE

Depois de uma noite bem dormida em La Spezia, uma pequena cidade na costa mediterrânica, “apanhei” um comboio com destino a Génova mas que pára nas Cinque Terre .

Esta viagem começou de um modo um pouco “violento” mas com a sua graça….Um comboio cheio até rebentar, em que fui empurrada e esmagada para conseguir entrar e talvez até apalpada, não me apercebi, tão preocupada que estava em proteger a minha mochilinha e, nestes “preparos” fui até Riomaggiore (todas as pessoas que iam na viagem, sofreram a mesma tortura, excepto as que vinham sentadas e mesmo essas, iam bem encolhidinhas, com medo de que as que iam em pé lhes caíssem no colo). O que me valeu foi a viagem ser muito curta, durou poucos minutos. Na altura recordei um vídeo que vi há uns tempos, filmado numa estação do metro no Japão, em hora de ponta, em que se viam funcionários da companhia, fardados e com luvas brancas, a empurrar as costas dos utentes para que as portas das carruagens se pudessem encerrar.

Chegada a Riomaggiore, que "nasceu" no séc. XIII dei uma voltinha pela aldeia, aquele tipo de voltinha que todos damos quando chegamos a um local desconhecido, entrei numas tantas ou quantas lojinhas, visitei uma igreja e outros locais com história. As casas foram construídas em filas paralelas, acessíveis por estreitas vielas e degraus bem íngremes. A aldeia, habitada por cerca de 2 500 pessoas, está virada para o mar, mar Mediterrâneo mas que tem uma designação local, mar da Ligúria, e “sobe” pelas vertentes da montanha, nestas encontrei também culturas em socalcos, numa quantidade impressionante, principalmente vinhedos. Deliciei-me com a visão de um pequeno porto e na contemplação do mar, uma das minhas paixões, mar sereno com aquele tom de azul que só "escolhidos" conseguem imortalizar em pinturas, foi-me dada a oportunidade de estar em duas pequenas praias, o seu "areal" não tem nada a ver com o nosso e irrita-me um pouco ouvir aquelas frases que ouço tantas vezes :"as nossas praias é que são boas, têm uma areia limpa e fina(...)" como se o facto da areia ser de cor escura, tivesse a ver com sujidade, e o tamanho dos "grãos" tivesse a ver com qualidade.

Depois de completar a volta pela aldeia propriamente dia, dirigi-me para a Via do Amor (foto no post anterior). Esta foi escavada ao longo de penhascos semelhantes aos que se vêem nesta figura e é uma varanda com um um comprimento bastante considerável, percorria-a, deliciei-me e suspirei com as provas de amor que por lá fui vendo mas... conto noutro dia

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CINQUE TERRE

Cinco aldeias ou cidades, ouvi as duas palavras aldeia e cidade a nomeá-las. Serem uma coisa ou outra, pouco importa, são cinco terras, cinco localidades, classificadas como Património da Humanidade pela Unesco desde 1997, património essencialmente natural, separadas por pequenas distâncias. Formam um território onde o mar e a terra se casam para formarem uma área de 18 quilómetros de costa rochosa, repleta de praias e baías.
Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso al Mare, foi esta a sequência com que as visitei, fui de uma para outra de comboio em viagens médias de cerca de 5 minutos, com excepção da viagem de Riomaggiore para Manarola que foi feita a pé através da Via do Amor, uma “varanda” sobre o mar a contornar os montes

VIA DO AMOR

Todas são, juntamente com a paisagem verde, salpicada pelo castanho claro das rochas e o dourado dos cachos de uvas, nos socalcos que as envolve, um colírio para os olhos, um paraíso para os amantes, para os poetas, para os pintores, para os fotógrafos, … e para mim.
Todas são diferentes mas ao mesmo tempo parecidas umas com as outras.


RIOMAGGIORE


MANAROLA
CORNIGLIA

VERNAZZA
Aqui estive sentada na esplanada que se encontra encoberta pelos chapéus azuis colocados na frente do prédio rosado ao topo da praça

MONTERROSO
Nenhuma das fotografias que publico faz justiça à beleza do local. Retirei-as de uma brochura publicitária, infelizmente continuo a ser uma totó a tirar fotos, ou melhor, a não as tirar...
Os socalcos começaram a surgir no séc. XII neles são cultivados a vinha e a oliveira. O seu cultivo é muito penoso para os que os cultivam. Muitos deles terminam a pique sobre o mar.
As terras surgiram mais cedo no séc. VII
Sobre cada uma delas vou tentar fazer pequenos textos.
Gostaria de ter podido vê-las do lado do mar…

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

YO SONO TORNATA!

Como todos sabem, viajante sofre! Observem só as pedrinhas das calçadas que os meus delicados pés tiveram que palmilhar…

Stanco ma felice!

Gostei imenso da viagem! Medieval, barroco, gótico, renascentista, neoclássico, neorenascentista, neomoderno (esta palavra parece que não ouvi) …foram designações que me martelaram a cabeça toda a semana que passou, fui uma excelente aluna e usei todos os meus sentidos, isso vos garanto, nessa aprendizagem…


Alguns imponderáveis aconteceram, mas o que seria se não tivessem acontecido? Não podia dizer mal de nada! E isso seria como que uma catástrofe para a minha índole latina!
Quando l´ aereo è atterrato, já com as rodas deslizando sobre a pista o “meu” piloto “decidiu” meter travões a fundo, como a inércia é muito marota, sofri uma projecção para a frente e não tive tempo de ter tento na língua, um “raios o parta!” saiu-me intempestivamente ( palavras feias para se dizerem, quero acreditar que anda por aí um vírus malicioso que me atacou e que me leva a praguejar, neste caso se fosse ouvida seria uma tragédia, nem quero pensar no que teria acontecido se o piloto fosse atingido pela minha praga, … vade retro Satanás)
“Alguns (a maioria) italianos são encantadores”, fizeram-me sentir “em casa”, são seres “maravilhosamente” mal-educados, carrancudos, impacientes, …
Um “festival” de luz , som e água premiou-me em Modena, sob a forma de um trovoada e chuva torrencial que há muito não tinha o prazer de sentir…

Em Ferraro ( a cidade italiana que mais bicicletas tem per capita, para além da fábrica do Ferrarizito) e noutras cidades também, os italianos que se deslocam em bicicleta, fazem-no como formigas cujo formigueiro sofreu uma hecatombe. Miracolo! Não vi nenhum atropelamento, mas vi muitas “fintas”, tipo “tenho que me desviar da investida do touro”


E para continuar a sentir-me "em casa", o cheiro delicioso, perfumado, aquele tipo de odor que penetra e se instala nas delicadas narinas de quem o inala, sentiu-o em muitos locais. Que aroma incomparável é o da urina envelhecida! E porquê? Quase não encontrei “serviços” públicos. Para se aliviar as bexigas marotinhas, tinha que se ingerir qualquer coisinha que enchia mais a dita ou que dava uma ajudinha para um alargamento de “cinturinhas”. Nada de juízos precipitados! Eu não fiz chichi na rua, posso jurar!

Ho molto da dire ma oggi sono qui! (Há muito para dizer mas hoje fico por aqui!)


Mi manca tutto questo e il nostro angolo. (Tive saudades de todos e deste nosso cantinho)


UNA BUENA SETTIMANA A TUTTI! (Uma boa semana para todos!)

domingo, 5 de setembro de 2010

VOU... MAS VOLTO!

O norte de Itália espera por mim! Um amigo surpreendeu-me com a notícia de que vai connosco e enviou-me o percurso representado como vêem na figura. Passámos a ser um grupo com 9 elementos … será natural que nos juntemos a outras pessoas. Já sei que vou encontrar temperaturas amenas mas acompanhadas de chuva e trovoadas. Não estou muito preocupada, a chuva não dissolve ninguém!

Enquanto vou e volto, fiquem com o grande (em todos os sentidos) Pavarotti!
A companhia é agradável para quem gosta deste género musical!


ATÉ JÁ!
ITÁLIA AÍ VOU EU!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

DOÇURA OU DIABRURA XLII

Contagem decrescente! Já falta pouco para deixar por uns dias o nosso país. Neste espaço de tempo pouco faço…sou invadida por uma certa ansiedade que me torna semelhante a uma barata pulverizada com Dum-Dum…mexo nisto e largo, agarro naquilo e largo, dá-me uma vontade imensa de comer… Tontices! Logo, por vezes, não sempre, sinto-me uma “barata tonta”!
Este fim-de-semana ainda vou andar por aqui por isso, a rubrica de fins-de-semana vai para o ar…




Ritual 64
Chega-se, chego à eternidade
no imaginário percurso
escolhi palavras como amor e infinito

acedi às cores permanentes
donde sempre me disseram
que virias.

E desdenho, tenho esse atrevimento
e ainda pronta a receber-te
não encontro de ti
um só momento.

Talvez falhe a leitura
dos instantes. E como se faz
adivinha-se, aprende-se?

Não, não esperes nada de mim
entre dúvidas
tenho a desdita do desvio
Francisco de Brito, in "Rituais"



PARA TODOS PARA ALÉM DE UM MUITO BOM FIM-DE-SEMANA, UMA SEMANA DE ARRASAR!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ESTACIONAMENTO

Para satisfazer a curiosidade de alguns comentadores ao post Doçura ou Diabrura XLI, este é um de três “incidentes” ocorridos durante a semana transacta, sem contar com o Menu, cá vai:

Triiiiiiimmmm!!! ( o som do meu telefone não é bem assim, é muito mais melodioso)
-Sim?
-Olá! Tudo bem? Hoje tenho um espacinho por volta da hora do almoço, gostava de te ver, podemos almoçar juntos?
-Porque não? (um horror, ainda por me arranjar e ter que passar pelo dentista) Mas ainda vou demorar um bocadinho, às 11horas tenho consulta marcada no dentista em Sintra.
-Sem problema! Vou organizando tudo! Quando chegares a Lisboa telefonas-me? Sim?
-Combinado!
-Beijo meu!
-Beijinhos!

Um furacão entrou aqui em casa, mas um daqueles furacões que colocam tudo no sítio até uma ligeira maquilhagem.
O "velhote" conduz-me até Sintra e como tem uma dona que o trata bem e é civilizada estaciona num local permitido e fica bem direitinho. A trote vou até ao consultório do dentista onde sou atendida rapidamente. Marco nova consulta, retoco o batom e a trote volto ao estacionamento.

E pimba! Tinha que acontecer! Um camião de caixa fechada enoooooorme, estava parado a impedir a saída do velhote e de mais uns tantos carros.
Dou a volta ao dito sem ver nenhuma indicação, a caixa não tinha marcas, logótipos, anúncios, o que quer que fosse.
“Não me vou pôr a apitar que nem uma desalmada, tenho tempo para aguardar uns 15 minutos antes de telefonar à GNR”
Sento-me dentro do meu carro e vou lendo um livro que levava comigo. Muito perto da hora limite, estabelecida por mim, vejo aproximar-se um homem enorme com cara de poucos amigos, o tipo de camionista que se vê nos filmes de acção. Mesmo assim, saio do meu carro e interpelo-o:
-Acha bem deixar o seu veículo a cortar a saída de vários? Além disso está a atrapalhar o trânsito pois está estacionado na estrada!
Que aconteceu? Pois é! Foi isso mesmo! Fui insultada… “eu não devia ter nada que fazer e ele estava a trabalhar…”(muito soft o que transcrevo, ouvi duas palavras em português vernáculo, inseridas no seu discurso agressivo)


Pensei:” Maria Taraja, ainda levas com uma tranca na cabeça ou pior, o melhor é meteres o rabinho entre as pernas, neste caso no carro, e ficares muito caladinha…”


Foi o que fiz, resmungando entre dentes, danada, danadíssima, deitando fumo pelas ventas! E não tinha tomado nota da matrícula! Sou muito esperta…Valha-me São Gervásio!


Parece-me que “LEVEI E CALEI!”


*Mais uma vez detecto aquilo que penso ser uma redução de pessoal, que não devia ser permitida, este homem não devia levar um ajudante?
**Penso que não estava a trabalhar, a caixa do camião estava fechada, ele não trazia nada nas mãos, hummm…cheirou-me a mentira e fui “vítima” de uma enorme falta de educação e de civismo.

TAMBÉM VOS ACONTECEM CENAS SEMELHANTES A ESTA, OU EU SEREI UM PÓLO DE ATRACÇÃO PARA OS FRUSTADOS DA VIDA E "APANHO" POR TABELA?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

RETROCEDENDO

Em Junho de 2008 parti numa curta viagem à Áustria, não fui inteira. O meu corpo viajou, mas o meu eu invisível ficou pairando por estas bandas.
Hoje, de longe, vejo a vida mais colorida, não totalmente, mas também nunca pretendi tal utopia. Que milagre sem preço é o constatar que o ontem e o hoje são sempre diferentes. Durante este espaço temporal que medeia este ontem e este hoje, já me ausentei do país várias vezes, tudo correu sempre bem, dentro da normalidade, tal como acontecia antes desta viagem à Áustria.
Mas, há sempre um mas em todas as vidas, no ano passado fiz uma viagem que superou todas as minhas expectativas, parti inteira, desfrutei de um passeio pelos tempos remotos da civilização, recuei vinte e cinco séculos, senti-me uma partícula resultante de uma cisão de um átomo, perante a imensidão, a grandeza, a “iluminação” nos pensamentos dos Homens oriundos da Grécia e da Roma Antiga.
Os meus pés tocaram o chão outrora pisado por Arquimedes, Pitágoras, Empédocles e Corax (estes dois últimos os primeiros professores de Retórica) e tantos, mesmo tantos outros, que fico sem espaço para referir todos.
A minha mão direita repousou suavemente sobre uma coluna grega, “vivendo” naquele mesmo lugar há vinte e cinco séculos…o que ela viu, quem nela se apoiou, quantas vezes foi fotografada…
Não sei descrever as sensações que me devoraram, quando fui envolvida por uma onda de paz e de encantamento. Tempo e espaço deixaram de existir. Como gostava, nesse momento, de ter sido abençoada pelo dom da escrita ou da música para poder fixá-lo perenemente.
Já Herzfeld diz que a música “é mais que um simples som: é uma expressão de sentimentos que só ele (o homem) consegue (re)produzir.”

Vivaldi foi escutado com grande deleite para os meus ouvidos, enquanto os olhos se deslumbravam com o contraste luminoso entre a escuridão da noite e a iluminação emanada dos templos erigidos em memória de Hera, da Concórdia, de Hércules e de Zeus, no cimo das respectivas colinas.
Agrigento surge no horizonte e dá-se uma reviravolta na minha forma de estar, Pirandello é evocado e eu recordei o que não queria recordar. As memórias surgem em catadupa e levam-me a comprar em Taormina, “Echoes” de Ludovico Einaudi com o propósito de o oferecer a Alguém que o mereça.
Continua embrulhado tal como saiu da loja!
Que fazer com o “Echoes”?