quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

CAMINHADA

O tempo caminha num passo sempre igual, em consonância com o ritmo musical de liras tocadas por entes invisíveis, que os sempre insatisfeitos mortais não conseguem vislumbrar e muito menos acompanhar.
Tela de Bernard Perlin
A humanidade caminha pela vida em ritmos muito diferentes do tempo, as suas passadas são lânguidas, sôfregas, seguras, inseguras, ritmadas,irregulares, ambiciosas, atemporais, …
A condição de mortalidade faz com que muitos, a partir de determinada altura da sua caminhada, se zanguem com o tempo, ovildem o que este trouxe e traz à VIDA de bom, deixem de sorrir, deixem de gostar, deixem de amar,...fechem-se num casulo sem tempo; outros não caminharam e ficaram estagnados, num fosso de infelicidade,  lá muito para trás das suas ainda capacidades de VIVER.

Não aceitar esta caminhada, comandada pelo senhor tempo,  é permitir que se acabe a viagem, ao longo do tempo, antes de tempo!






terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O VENTO

A NOIVA DO VENTO de Oskar Kokoschka
Quando deixo os meus pensamentos à rédea solta, eles transportam-me para um jogo semelhante ao que todos sabem fazer: cão, coleira, corrente, prisão... Este meu jogo é apenas semelhante na estrutura desse,mas não associo palavras, associo imagens...
Sentada em frente à minha janela, vejo as frondosas árvores que costumam proteger a minha privacidade dos olhares dos vizinhos do outro lado da praceta, hoje estão nuas, excepto uma, ela ampara carinhosamente algumas folhas, estas abanam ligeiramente como se,  timidamente, quisessem despedir-se de mim. Nesse lento baloiçar, vejo o vento, vejo “ A Noiva do Vento”, vejo a noiva mulher, vejo-me como tendo a meu lado a outra metade da “Noiva do Vento"...
Eu que até não gosto muito do vento!



quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

MEMÓRIAS

Observo, entre muitas outras, colocadas sobre uma escrivaninha da sala, uma fotografia do Homem que me deu vida, nunca o conheci com o aspecto com que nela está imortalizado, eu ainda não tinha nascido, mas reconheço-o na minha memória tal como ali está! Fico confusa!
Sinto que se não fossem os retratos, as feições mesmo dos que nos foram e as de que nos são muito queridos, se diluem no tempo.
Faço uma experiência, fecho os olhos e penso na minha Mãe, a imagem do seu rosto que emerge repentinamente na minha mente, é a de uma fotografia dela que tenho no meu quarto sobre a mesa de leitura. Forço-me a viajar pela minha memória, lembro-me da sua figura, de vários episódios da nossa vida, mas … descrever a sua face em pormenor sou incapaz, não a vejo! Desenhar o seu rosto, sem ter algo de palpável para a copiar, é-me impossível!
Fico pairando num mundo de memórias e interrogo-me: sem provas, elas serão reais ou imaginárias?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O CAJADO


Tenho um cajado arrumado na minha imaginação, ele transforma-se no que eu quiser, até saltar para o mundo palpável, com cheiros, sabores, cores e sons.

A estrada da vida tem percursos em que, para eu conseguir dar passadas, ele não é necessário, mas tem outros, em que a sua presença é imprescindível!

Abençoado cajado que até pode tomar a forma de gente, pode ser um mar sereno ou irado, uma avezita que saltita de ramo em ramo ou uma águia planando contra um céu límpido, uma montanha ou uma planície, um oásis ou um deserto, por vezes transmuta-se nos acordes de um piano ou no som forte de um trombone, num livro sobre viagens ou num policial, numa voz que me chega através do éter, num apetecível bolo de chocolate … ele pode ser TUDO desde que seja o “companheiro” que me vai ajudar a ultrapassar os “obstáculos” que surgem no meu, cada vez mais desejado, percurso pela vida!



quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LIBERDADE

Pintura de André Kohn




O seu riso ecoou pelo vale florido! A alva túnica que lhe cobria a nudez esvoaçava ao querer de uma suave brisa, segurava gentilmente o chapéu que lhe cobria os cabelos acastanhados, lutava para que não lhe fosse arrebatado! O sol sonolento, ainda a conseguiu beijar com a ternura de um pai...ela sentia-se feliz e liberta! Livre das amarras que a tinham, até então, impedido de viver em pleno...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

AS MINHAS CORES

Com o bater das doze badaladas do dia de Natal, termina a minha viagem pelo passado, viagem com muitos coloridos mas, talvez seja a minha idade a culpada, os tons escuros embora eu os vá tentando suavizar, imperam por estes dias, no entanto, não deixo de me juntar aos que amo e que o comemoram, não tenho o direito de lhes roubar “alegria”.
Sei que é cíclico, nos últimos anos, quando raia o dia 26, reinicio uma nova forma de encarar a vida, uma forma muito mais colorida, uma vida que desejo matizada com as milhentas tonalidades que a mãe natureza, na sua infinita bondade, me proporciona ..., movimento-me no meio de cores, sorrateiramente ... entro na paleta de Leonid Afremov e danço por entre elas , misturo-as ao sabor de um bailado, ao ritmo da batuta dos sonhos que me aconselham o rumo a seguir...

Tela  pintada por Leonid Afremov

terça-feira, 27 de maio de 2014

CASTELO DE CARTAS

Tela pintada por Alexei Ravski

Ao longo da minha vida fui construindo um castelo, contrariando o Poeta, o meu não é de pedras é de cartas, cada uma delas com um simbologismo adequado às fases do meu, já longo percurso, pelo caminho traçado na estrada da vida. 

Sempre tive um cuidado extremo em manusear este material de construção, sinto no meio da minha enorme ignorância, que à menor brisa do levante ele pode ser derrubado...