Gonçalo Anes Bandarra foi a primeira figura a ser-me apresentada. Este poeta e profeta, nasceu em Trancoso em 1500 e veio a falecer em 1556, tinha a profissão de sapateiro e dele conta-se a seguinte história:
Por Trancoso passou um almocreve (pessoa que transportava mercadorias de uma terra para outra, durante a Idade Média) que trazia um par de botas todo roto, levou-as ao Bandarra para ele as consertar. Quando chegou a hora de pagar não o fez, alegando que não tinha como.
Então o sapateiro profetizou o seguinte:
Irás e virás,
Na praça me acharás
Meio dentro e meio fora
E então me pagarás.
O almocreve partiu, no fundo satisfeito por ter poupado alguns cobres, mas a matutar no que tinha acabado de ouvir. Não acreditava que um dia pudesse voltar a Trancoso e muito menos a encontrar-se com o sapateiro.
Anos volvidos teve uma incumbência que o fez voltar a esta terra. Acabado de chegar ouviu os sinos tocarem a finados, pelo pesar que via nos rostos dos passantes pensou que o defunto devia ser alguém muito querido e importante, indagou o nome de tal pessoa e soube que era o Bandarra. Num repente veio-lhe à mente a rima que tinha ouvido, correu até à praça e na porta da Igreja de São Pedro, metade dentro e metade fora, encontrava-se o esquife onde estava depositado o corpo inerte e frio do sapateiro.
Nesse momento compreendeu o vaticínio de Bandarra, prostrou-se de joelhos e fazendo o sinal da cruz comprometeu-se e cumpriu, a pagar todas as custas deste funeral.
Sentiu-se quite com o homem a quem um dia “negara” o pagamento do arranjo das suas botas.
Em Trancoso circulam várias histórias associadas à vida do sapateiro Bandarra, umas verdadeiras outras um pouco ficcionadas.
Ele que conhecia bem as Escrituras do Antigo Testamento e as interpretava à sua maneira, foi acusado pela Inquisição de judaísmo e viu as suas poesias serem incluídas no catálogo de livros proibidos, uma vez que suscitavam muito interesse entre os cristãos-novos*. Foi inquirido perante o tribunal da Inquisição, foi ilibado mas ao mesmo tempo obrigado a participar na procissão do auto-de-fé de 1541** e a nunca mais tentar interpretar a Bíblia ou a escrever sobre Teologia.
* Era a designação dada em Portugal, Espanha e Brasil aos judeus e muçulmanos convertidos ao cristianismo.
** Foi em 1541 que em Portugal se realizou a primeira procissão do auto-de-fé, depois desta muitas outras se seguiram e foram muitas as pessoas que foram condenadas à morte. Era uma cerimónia levada a cabo para dar cumprimento a uma proclamação do tribunal da Inquisição. Começava com uma procissão, seguida da condenação, da reconciliação do penitente e do perdão ou da execução da pena para os que tinham sido sentenciados.
Bom dia.
ResponderEliminarBandarra continua a ser uma figura mítica, cheia de magia encantadora.
Gostei de ler este apontamento.
Olá Maria Teresa,
ResponderEliminarNão conhecia esta lenda, muito interessante!
Ao ler o seu texto invadiu-me uma saudade...inexplicável...
Trancoso...Quando chego a Trancoso estou cansada exausta e feliz por estar tão perto de casa...alguns dias depois...quando passo, e deixo Trancoso para trás...estou cansada exausta e triste...estou já (e ainda)tãããoooo longe de casa....
(Saudades... palavra tão nossa e nem toda a gente a entende...)
Bjs dos Alpes
Querido Direitinho, Bandarra continua e continuará a ser como diz, uma figura mítica, despertou a a atenção do Padre António Vieira e de Fernando Pessoa (para além de muitos historiadores bem conhecidos). As suas Profecias continuam a ser "objecto" de estudo.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Flor, a foto que acompanha este texto, foi tirada por mim no local onde esta estátua está erigida, conhece-a certamente. A vida de Bandarra tem sido muito "estudada" e publicada através dos séculos. O Professor José Hermano Saraiva fala nele na sua obra "Outras Maneiras de Ver".
ResponderEliminarA Flor tem o coração "partido" em dois ... o tempo vai ajudar a mitigar essas saudades.
Beijinhos "sem embrulho" para si!
Não conheço Trancoso, nem as suas lendas, adorei conhecer esta. Adoro lendas.
ResponderEliminarBjocas
Patty
Deixando o Bandarra de lado (com o devido respeito :-)) vamos lá a saber: também visitaste a capela onde se encontraram D. Diniz e a (futura Rainha) Princesa Isabel, quando ela veio para casar com ele? E um castanheiro, mais que centenário, que há à saída de Trancoso para quem se dirige mais para norte? Ou só andaste mesmo aos salpicões, presuntos e "sardinhas"?
ResponderEliminarEstava também para fazer uma referência à igeja de Trancoso, mas nunca sei se é a de Trancoso se a de Vila Nova de Fozcoa que tem a tal característica, e assim sendo, fico-me nestas meias tintas.
Minha querida Maria Teresa, absolutamente divinal!!!
ResponderEliminarEu adoro estas histórias :))))))
beijinhos enormes
Querida Patty mais intrigante é ler as profecias que este homem fez e que se concretizaram. Farei um post sobre isso, conheço algumas.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querido Carapau, fica sabendo que em Trancoso ainda tirei fotografias, depois esqueci-me da máquina, e tenho a prova de que vi tudo isso de que falas excepto do castanheiro que não vi, não reparei ou não passei por ele.
ResponderEliminarNão me fales em salpicões, chouriços, alheiras, presuntos, queijos e afins que me babo toda!
Beijinhos "sem embrulho" para ti!
Querida Mariana e é tão bom ouvi-las da boca de jovens que nos locais nos recebem e nos quais se nota um orgulho imenso do que estão a fazer...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Está boa ... não conhecia essa história :)
ResponderEliminarBjokas ****
Minha querida
ResponderEliminarcomo não viajo muito, vou conhecendo lugares e lendas, no seu espaço.
deixo beijinhos
Sonhadora
Adorei a lenda! :) Beijinhos à Bandarra!
ResponderEliminarQuerida C*inderela ele escreveu profecias que têm atraído muitos historiadores, creio que isto se passou na realidade...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Sonhadora fico contente por "viajar" um bocadinho comigo.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Ana Rita beijinhos à Bandarra, ainda se dissesses beijinhos ao Bandarra:):):)
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para ti!
Trancoso nao conheço , alias nao conhecia agora depois de ler já sei alguma coisinha, pouco e isso faz com que o bichinho me mova até lá para conhecer. Adoro este nosso Portugal, mas às vezes ...só às vezes ....queria ter nascido em Espanha.!!!
ResponderEliminarQuerida Maria Teresa
ResponderEliminarUma das bonitas "lendas" de Bandarra que aqui connosco partilhas. Por tal o meu obrigado, tanto mais que sou "fã" do profecta/sapateiro.
Creio que no dia da tua partida para Trancoso deixei um registo na Oficina a ti dedicado...
Beijinhos.
Bonita terra! E as porfecias do Bandarra são uma delícia. Lembram os versos do António Aleixo (É o bairrismo, a falar). Espero que tenha almoçado qqr coisinha ligeira ;) no Museu e, para rimar, não deixre de ir a Viseu. apesar das Rotundas o centro está muito giro.
ResponderEliminarBjs
Querida Avogi o que aqui digo é muito pouco sobre a real riqueza patrimonial da zona. Vale a pena passar uns dias neste cantinho do nosso país. Parece que a poluição ainda não passou por lá...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para ti!
Querido Vicktor eu também ando entusiasmada a ler coisas sobre ele e as suas profecias, tenho muita dificuldade em as compreender mas estou a socorrer-me de interpretações já feitas, um autêntico maná este homem...
ResponderEliminarVou ver, estive uns dias sem acesso ao computador e recomecei a comentar o actual.
Beijinhos "sem embrulho" para ti!
Querido Tio, não me fale em comer, fiz grandes orgias com os enchidos e os queijos. No hotel serviam-me sempre no princípio da refeição aquilo a que decidiram chamar "Petiscos do Chef».Está tudo dito...
ResponderEliminarPresentemente estou numa de redescobrir o nosso país, com a excepção de ir a Toledo no próximo mês para seguir os "caminhos" de Cervantes que ele usou para situar D.Quichote.
Beijinhos "sem embrulho" para si!
Eu até gostava de ir a Trancoso e nem fica longe da terra onde vivo aí, mas agora tenho medo de encontrar o fantasma do Bandarra.
ResponderEliminarboa noite Teresa. Já dormes?
Espectacular...
ResponderEliminarDe repente pareceu-me o nosso historiador José Hermano Saraiva... :))
Beijinhos
Olá Maria Teresa!
ResponderEliminarNão conheço Trancoso, mas conheço alguma coisa de Bandarra, Sapateiro de Trancoso!
Agora, não sabia que se "babava" quando lhe falam em presunto, enchidos, queijos e quejandos!
Um beijinho
Renato
Querida Pitanga não tenhas medo! Ele, parece que era muito apreciado pelas mulheres:):):)
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para ti!
Querido Touro, nada de exageros...
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querido Renato já tinha percebido que o "conhecia". Babar-me foi uma força de expressão, mas que gosto muito desses pitéus, gosto. No meu dia-a-dia, não os costumo consumir.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Querida Teresa!
ResponderEliminarA continuar assim nem vale a pena "sair" de casa e muito menos ler livros sobre o nosso Portugal e a nossa história!
Fantástico! Adorei!E especialmente APRENDI!
jinhos:)
Querida Canhota tem que ir lá mesmo, aqui faltam os cheiros, os sons e os sabores...O nosso património cultural é vastíssimo, devíamos perservá-lo e orgulharmo-nos dele. Aqui ficou uma gotinha daquilo que se pode admirar no local.
ResponderEliminarBeijinhos "sem embrulho" para si!
Conheço Trancoso de passagem mas não conhecia esta lenda. Tenho que pesquisar mais sobre este magnifico sapateiro.
ResponderEliminarBeijinhos, Ava.
Querida Ava esta estátua dele é bem conhecida, está num largo muito bem cuidado, cheio de plantas. A foto publicada foi tirada por mim uma das poucas que tirei porque depois esqueço-me que tenho máquina.
ResponderEliminarQuando vou a um lugar que quero conhecer bem vou ao posto de turismo e arranjo uns panfletos, assim muita coisa que me escaparia não escapa...
Beijinhos "sem embrulho" para si!
O meu avô e o meu pai sentados à Lareira contavam muitas histórias deste "profeta" aquela que me lembro assim derrepente é: Quando as estradas estiverem todas de luto, está perto o fim do mundo. Talvez seja verdade quando o alcantrão dominar tudo, talvéz a terra não consiga respirar. Gostei da publicação. Beijinhos.
ResponderEliminarQuerida Olga essa é uma, das muitas profecias do Bandarra.
ResponderEliminarAndou a tentar estudá-las...
Beijinhos sem embrulho para si!
Querida Maria Teresa:
ResponderEliminarhttp://www.lemonde.fr/planete/article/2014/08/27/25-millions-de-nouvelles-routes-de-quoi-faire-600-fois-le-tour-de-la-terre_4477577_3244.html
...E esta, heim...?