Quando a conheci, era uma adolescente de uma fragilidade aparente, que me levou a pensar nela, como se de uma flor se tratasse, uma flor de longo e esguio caule, com um colorido muito suave, … talvez um lírio do campo.
Nasceu sem conseguir ouvir o próprio choro, mas isso nunca a impediu de ser alegre e feliz e de se realizar como mulher.
Era, e é, surda profunda! Vive no “silêncio”, um silêncio de fora para dentro, desde que nasceu e, nessa condição permanecerá toda a vida…
Sempre a admirei! Ela que nunca teve a suprema sensação de ouvir a voz da mãe, o trinar de uma ave, o ladrar de um cão, o murmúrio do mar, o assobio do vento, o sussurrar de palavras de amor, a canção do momento, a música para dançar… mas que sabe dançar! Fá-lo como uma ninfa diáfana e leve, de uma leveza só possível numa criatura celestial… Foi abençoada com esse dom mas que apenas lhe serve para o seu próprio prazer e para deliciar os que lhe são íntimos.
Não ouve! Mas sente o som! Tal como sentiu, desde que nasceu até à pré-puberdade, uma pressão, uma “violência”, exercidas sobre ela, mas por bem, por amor, para que se pudesse inserir numa sociedade onde predominam os ouvintes. Durante horas, dias, meses, semanas e anos, foi treinada para falar e escrever como uma vulgar ouvinte, fazendo um esforço acrescido para “ler” os lábios dos que a envolvem.
É dona de uma voz monocórdica e nem todas as palavras que aprendeu a pronunciar são proferidas correctamente. No entanto, domina na perfeição a sua própria língua, a língua gestual.
Há quem diga que o silêncio é de oiro, eu prefiro dizer que, em alguns casos, o silêncio é de chumbo…
Texto publicado no âmbito do desafio SILÊNCIO para Fábrica de Letras
Nasceu sem conseguir ouvir o próprio choro, mas isso nunca a impediu de ser alegre e feliz e de se realizar como mulher.
Era, e é, surda profunda! Vive no “silêncio”, um silêncio de fora para dentro, desde que nasceu e, nessa condição permanecerá toda a vida…
Sempre a admirei! Ela que nunca teve a suprema sensação de ouvir a voz da mãe, o trinar de uma ave, o ladrar de um cão, o murmúrio do mar, o assobio do vento, o sussurrar de palavras de amor, a canção do momento, a música para dançar… mas que sabe dançar! Fá-lo como uma ninfa diáfana e leve, de uma leveza só possível numa criatura celestial… Foi abençoada com esse dom mas que apenas lhe serve para o seu próprio prazer e para deliciar os que lhe são íntimos.
Não ouve! Mas sente o som! Tal como sentiu, desde que nasceu até à pré-puberdade, uma pressão, uma “violência”, exercidas sobre ela, mas por bem, por amor, para que se pudesse inserir numa sociedade onde predominam os ouvintes. Durante horas, dias, meses, semanas e anos, foi treinada para falar e escrever como uma vulgar ouvinte, fazendo um esforço acrescido para “ler” os lábios dos que a envolvem.
É dona de uma voz monocórdica e nem todas as palavras que aprendeu a pronunciar são proferidas correctamente. No entanto, domina na perfeição a sua própria língua, a língua gestual.
Há quem diga que o silêncio é de oiro, eu prefiro dizer que, em alguns casos, o silêncio é de chumbo…
Texto publicado no âmbito do desafio SILÊNCIO para Fábrica de Letras
Ai minha querida Maria Teresa... que aboradagem tão linda!!!
ResponderEliminarAdorei o texto!!!
Beijinhos de Marte
Querida Mariana fui professora mais de uma década do Ensino Especial, mais concretamente lidando com deficientes auditivos, como deve calcular sei bastante sobre o assunto o que, paradoxalmente, me impede de escrever muito sobre este assunto...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Que texto tocante! (Já não sei que mais elogios hei-de inventar!). Adorei a imagem, também... Fez-me lembrar um jogo de cartas que eu jogava em pequena, o "Magic", que tinha desenhos muito inspirados! Beijinho*
ResponderEliminar(Criei um blog com o meu AF com "Beijinhos" no título, também... Lembrei-me logo de si e de como me podia acusar de plágio...eheheh Passe por lá a visitar o nosso Beijinhos de Limão e Chocolate quando tiver um bocadinho;) Não sei o link de cor, mas está no meu perfil)
Nem quero pensar o que será viver em silêncio... Bonito texto! Continuo a achar que devias escrever um livro! Beijinhos silenciosos!
ResponderEliminarMaria Teresa, aqui há uns anos, não muitos, aquando do Concurso Miss Surda, tive o privilégio de trabalhar com miúdas fantásticas, todas elas surdas mudas, assim como a maioria da equipa que as acompanhava. Confesso que quando soube ao que ia, fiquei um pouco receosa de não conseguir comunicar com elas, mas fiquei completamente rendida à forma espontânea e natural com que tudo aconteceu. Fomos ao Museu de Arte Moderna, almoçámos, houve todo o processo que envolve o desfile e foi absolutamente fantástico.
ResponderEliminarPena que a ignorância de muita gente leve à discriminação. São pessoas absolutamente capazes e iguais a todos nós, que fomos abençoados com a voz, a qual muitas vezes serve apenas para dizer disparates.
Beijinhos :)
Fico em silêncio a contemplar tão belo texto!
ResponderEliminarParabéns Maria Teresa!
Não é meu hábito comentar com textos meus...mas vou "abusar" um pouco do seu espaço para mostrar um dos meus modos de ouvir o silêncio...
este "poema" está algures no meu blogue e tem por titulo
"Mão vazia...cheia de silêncios"
Enganou-se por certo,
Quem disse que o silêncio é de ouro!
O teu silêncio…
O teu silêncio, que me é dado a beber,
Em pequenas ampolas de nada…
Revestidas de distância,
Da cor da noite,
Em que em vão te espero…
O teu silêncio…
O teu silêncio são ampolas amargas,
Cheias de vazios,
Que sabem a fel…
No teu silêncio…
No teu silêncio tenho os olhos cansados…
De olhar o infinito em busca de ti…
Nas sombras do teu silêncio…
Nas sombras do teu silêncio, vejo miragens…
Neste deserto sem fim…
Onde já não luto…
Para sair destas areias movediças que me engolem…
No deserto do teu silêncio…
Ah, no deserto do teu silêncio, onde quase vi um oásis…
E sonhei apenas em ser tua odalisca…
Sofro…
E para enganar a dor…
Tomo uma mão cheia de ampolas do teu remédio…
Esse silêncio que me há-de curar, lentamente…
Matando-me…
Eliminando-me...
Em silêncio...
...
Bjs dos Alpes
Ora até que enfim!!! Pois era este tema, precisamente!! Eu lembrava-me que tinha dito que tinha sido professora de crianças surdas e pensei automaticamente que iria escrever sobre isso :) Gostei deste texto, aliás, é tão simples, mas retrata tão bem a forma como "forçamos" a integração de seres que vivem um pouco num mundo deles... de uma sensibilidade própria, muitas vezes, bastante apurada, de dons por explorar e desenvolver. É certo que é para seu bem... de se inserirem na sociedade, mas até que ponto, são demasiadas pressões? Teimamos em querer que todas se adequem à norma... esquecendo de valorizar muitas vezes os dons pré-existentes. Não será? Tenho algumas amigas que trabalham com crianças com deficiências várias, algumas, auditivas, e todas são unânimes em dizer que estas crianças, são muitas vezes, "difíceis", mas são todas, especiais :)Não consigo imaginar um mundo sem ouvir a voz humana ... sem música... ou aqueles sons da natureza que tomamos como garantidos, num mundo apenas povoado do seu próprio pensamento. O silêncio, pode mesmo ser de chumbo. Fê-lo tão bem, que agora já não vou escrever sobre este tema(amuei...) :)))) Beijinhos
ResponderEliminarclap clap clap clap
ResponderEliminarQue descrição tão forte e nada silenciosa.
Essa rapariga tem um dom de ver o mundo de forma diferente, de certeza que tem uma beleza sem igual.
Com carinho
Abraços
Sairaf
Minha querida Maria Teresa,
ResponderEliminarSei muito bem do que fala aqui.
Tenho dois amigos surdos-mudos(um desde a infancia)e são pessoas tão especiais que já nem me aprecebo que eles são "diferentes".
Com eles apredi muito,aprendi com eles o que eles aprenderam comigo e damo-nos tão bem que nem nos aprecebemos que algo possa ser desigual.São lindos!Adoro-os!E sim eles tem o dom que nós não temos eles conseguem mesmo escutar o silencio!
Parabêns pela sua sensibilidade querida.
Adorei te ler hoje!!!!Em especial me tocou bastante.
Bjinho cheio de luar
a magia sempre encontra um caminho de nos maravilhar, é preciso senti-la, e descobri-la entre tantas outras pequenas coisas que não percebemos quando temos tudo, apenas as valorizamos e as sentimos quando algo nos falta. Maravilhosa magia, essa, de sentir o som.
ResponderEliminarQuerida Adek não sei como agradecer a amizade que me tem oferecido... Já sei! Vou acusá-la de plágio!:):):):) Amigas assim como eu, venha o diabo e leve-as...
ResponderEliminarClaro que vou até ao cantinho do seu AF.
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Ana Rita és uma testemunha do modo como me "entreguei" a estes adolescentes.
ResponderEliminarNão chegaste a conhecer esta aluna, eras ainda muito pequena, tem um dos teus nomes, chama-se Ana Maria...
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Helga o que sentiu por essas moças é a realidade dos surdos! Quem lida com eles deixou de usar a palavra mudo, porque eles só não falam porque o aparelho fonador não foi estimulado, ele existe, salvo excepções muito raras,logo eles podem falar como qualquer ouvinte.
ResponderEliminarGostei do seu testemunho, ele enriquece o meu texto, completando-o e dando uma visão de alguém que lidou pontualmente com este tipo de deficiência, revelando uma grande abertura e sensibilidade.
Bem-haja!
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Flor nem sei como lhe agradecer o contributo que deu ao publicar o seu poema.
ResponderEliminarEste cantinho também é seu!É de todos os que por aqui passam! É nosso!
Espero que volte a ter vontade de contribuir com outros poemas:):):)
Sou muito discreta a pedir, não sou?
Bem-haja!
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Eva não amue, caso contrário eu choro, quer ver? Ah!Ah!Ah!Ah! Sou tão mazinha!
ResponderEliminarAgora a sério porque não escreve sobre a Surdez? Temos estilos diferentes e abordagens também, seria mais um alerta para esta deficiência.
O seu testemunho reforça o "sacrifício" destas crianças, que não têm infância, nem adolescência...
Bem-haja!
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Sairaf, quase todos os deficientes auditivos são pessoas de uma ternura imensa, desenvolvem muito a componente artística e desportiva, eles têm uma capacidade de "sentir" as ondas sonoras diferente da nossa.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Moonlight como é bom ter amigos assim, eles são muito sensíveis a todas as provas de afecto e para eles deve ser fantástico ter uma amiga como a Moonlight que os compreende tão bem...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querido Magia quando todos os nossos sentidos são apurados devíamos sentir felicidade nisso..
ResponderEliminarNão pensamos no bom que é vermos, ouvirmos,... com qualidade.
Beijinhos embrulhados para si!
Já todos os comentários anteriores disseram tudo sobre o assunto e sobre o mérito do teu post. Junto a minha voz às outras.
ResponderEliminarParece que ouvi dizer que não há mudos. O que há é surdos e a surdez é a causa da mudez. Provavelmente será assim...ou não será.
Eu conheço um surdo (a tudo o que não lhe interessa) que fala pelos cotovelos, a ponto se eu já não o poder ouvir.
Que bom que seria se se remetesse ao silêncio...
(Para ser honesto, não é só um. São vários).
Bjo.
Querido Carapau tens razão no que diz respeito à mudez, falei nisso no comentaério que fiz à Helga.
ResponderEliminarSó fica mudo quem não tem aparelho fonador ou algum outro problema, facto não impossível mas muitíssino raro.
Os surdos, àquilo que não lhes convém falam realmente de mais, não gostam de deixar falar os outros:):):)
Beijnhos embrulhados para ti!
Às vezes, para ouvir tanta asneirada, tanto dislate, mais vale ser surdo!!!
ResponderEliminarE dizem que exacerbam outras sensibilidades de forma a sublimarem os sentimentos...
Bem escrito,coom a habitual mestria...
1bj
Por vezes é mesmo de chumbo... concordo*
ResponderEliminarO silêncio é de oiro quando por breves momentos. Nem quero imaginar uma vida inteira no silêncio ...
ResponderEliminarBonito o texto.
Bjokas****
Querida Maria Teresa
ResponderEliminarA tua amiga encontrou, por certo, o seu caminho para ter momentos felizes...
Um desses momentos será, sem dúvida, ao ler este teu mravilhoso testemunho de amizade e de solidariedade para com ela.
Um beijinho.
Querido Rouxinol eu prefiro continuar a ouvir muito disparate do que ser surda...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Entre o Lugar se é de chumbo, se é!
ResponderEliminarObrigada pela sua visita, quando quiser volte novamente será sempre bem-vinda!
Beijinhos embrulhados para si!
Querida C*inderela por aquilo que observei, por vezes, é muito depressivo...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querido Vicktor a Ana Maria foi minha aluna e era, continua a ser pois hoje é uma amiga, feliz...Não sei se alguma vez lerá este texto, os meus amigos não sabem da sua existência.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
Nossa, que lindo texto.
ResponderEliminarparabéns.
FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... deseja uma boa semana para você.
Saudações Florestais !
Um texto muito tocante uma realidade que a muitos passa despercebida. Custa imaginar como será o silêncio de chumbo...
ResponderEliminarBjs
Muito, mesmo muito original, mas verdadeiramente importante abordar aqui este silêncio terrível de quem é forçado ao mesmo.
ResponderEliminarVi depois que lidaste em proximidade com casos de surdez, o que explica mais esta forma de falar no tema.
Beijinho.
Hoje estou bastante em baixo, pois devia estar acompanhado e estou só, em silêncio...
Querida Silvana muito obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Lilá(s) é bom alertar-se a sociedade para estas pessoas que pensam e sentem como todos nós, não ouvem e isso não é visível...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querido Pinguim lidar com estes adolescentes foi outra minha paixão, ajudou a completar-me como ser humano, abriu-me novos horizontes.
ResponderEliminarMeu querido não estás só...sabes isso bem! O tempo vai passar rapidinho e a chuva também...
Beijinhos embrulhados para ti!
Lindo texto.
ResponderEliminarJá todos disseram tudo. =|
Viver no silêncio assusta-me, mas viver na escuridão assusta-me muito mais.
*
Querida Gingerbread também já pensei assim, mas também já mudei de opinião...E fico com dúvidas sobre uma opção ou outra.
ResponderEliminarO melhor é mesmo vivermos com todos os nossos sentido incólumes.
Beijinhos embrulhados para si!
Que lindo texto, só podia vir de uma pessoa que sabe bem o que escreve. Não conheço ninguém surdo, mas a minha filha tem um colega com problemas e é tratado bem pelos colegas, tenho um sobrinho e o filho de uma amiga com síndroma de Asperger. Temos de trata-los da mesma forma, são pessoas inteligentes e são capazes de fazer tudo como nós.
ResponderEliminarBjocas
Patty
Querida Patty que bom que é haver pessoas sensibilizadas para estes problemas.
ResponderEliminarA sensibilização começa nas crianças com o exemplo que os adultos lhe dão...
Bem-haja!
Beijinhos embrulhados para si!
Uma vida de silêncio, mas a sua sensibilidade deve ser muito grande porque dança... Lindissimo este texto escrito com muita sensibilidade e que nos mostrou em poucas palavras as dificuldades de uma vida de surdez. Adorei Maria Teresa. Beijinhos.
ResponderEliminarQuerida Olga quase todos os deficientes auditivos sentem a música através das ondas sonoras que se propagam pelo ar.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Este é um silêncio que todos queriam não conhecer.
ResponderEliminarLinda participação que nos alerta para uma vida que aprendeu a viver e a ser feliz com o silêncio.
Querida Brown a felicidade, ou os momentos de felicidade, partem de dentro para fora, temos é que ter forças e ajudas para os desfrutar...Seria ideal se todos o conseguissem.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!