quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O JANTAR

Já lá vão muitos anos, quando ainda faltava muito tempo para surgirem os famigerados (mas úteis, tenho que reconhecer) telemóveis e ainda menos o GPS, eu e o João juntámo-nos com um grupo de amigos para irmos jantar ao Zé Padeiro, em Nafarros, que ainda não era "o não é carne, nem peixe" que é hoje, era uma tasca (as então chamadas casas de pasto). Íamos saborear o seu tão famoso cabrito assado.
Tudo preparado e "bem" combinado, tão bem , mesmo tão bem, que deu no que deu.
Partimos em caravana mas, antes de chegar às bombas de gasolina do antigo caminho para Sintra, verificámos que estávamos a ficar com pouco combustível, o João fez sinais de luzes e parou. Após o abastecimento voltámos a partir, não vimos nenhum dos nossos amigos, e encetámos uma aventura indescritível! Perdemo-nos, percorremos várias aldeias, mas em nenhuma se via viva alma, casas aparentemente vazias de vida, lojecas de aldeia bem cadeadas, parecia que não estávamos tão perto de Lisboa, sentíamo-nos transportados para um mundo desconhecido e distante, chegámos a perguntarmo-nos, em tom jocoso, se teríamos connosco o passaporte, finalmente... ao fim de cerca de duas horas, alguém nos indicou o caminho e passado mais uns minutos, entrámos triunfantes, cansados e famintos no famigerado restaurante...
Calculam como estavam os outros comensais, nossos amigos?
Não tinham dado pelos sinais de luzes, não sabiam o que nos tinha sucedido, as caras estavam pálidas e encovadas (estou a exagerar um poucochinho) e já se preparavam para telefonar para vários hospitais, polícia, … . Enfim, tão preocupados, mas tão preocupados, que mal tinham jantado. As restantes pessoas presentes na sala tinham conhecimento de que havia um casal "desaparecido. Fomos acolhidos com uma estrondosa ovação, parecíamos as estrelas de uma qualquer ópera bufa.

Ambos depois dos muitos quilómetros percorridos, pelas muitas estradas secundárias da zona, comemos como convidados de um jantar da Idade Média, um pouco mais civilizados pois usámos talheres e empanturrámo-nos.

Uma "coisa" aconteceu nessa nossa descontrolada viagem, numa curva da estrada de Sintra quando se vai para Colares olhei para o João, vi-o e senti-o em mim de tal modo, como ainda hoje, sem fechar os olhos, o vejo. Era já noite, na penumbra das luzes que iluminavam o caminho, via-o de perfil, a sua barba grisalha bem aparada, a gola alta da sua camisola branca, a emergir da gola do sobretudo de tweed, em tons de castanho, estava lindo, mas não só fisicamente, estava lindo por tudo aquilo que representava para mim! Por uns breves instantes o tempo parou e eu fiquei em contemplação...

Mais um dos tais MOMENTOS MÁGICOS de que já falei aqui...

28 comentários:

  1. Boas memórias! (que contrastam com aquelas que publiquei no meu espaço ainda há pouco...e que fizeram desvanecer as boas memórias anteriores)
    Essa coisa de se perderem de propósito para depois serem recebidos como lordes, tem que se lhe diga!! Ai que vontade me deu de saborear um bom cabrito...

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  2. ã magia das memórias que interessa preservar
    um beijo

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  3. Querida Eva, nós não nos perdemos de propósito, perdemo-nos mesmo, mas em vez de ficarmos preocupados, felizmente, gozámos que nem uns perdidos...
    Está longe, caso contrário convidava-a já, para lá irmos, a casa ainda existe e é perto daqui, presentemente, já não me perdia-a. Mas quem sabe? Talvez um dia...
    Beijinhos embrulhados especialmente para si!
    Está

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  4. Querido/a umminuto, estou numa fase da vida, em que ando muito a repescar memórias, estão a fazer-me muito bem, caso contrário procurava "anulá-las".
    Obrigada pela sua participação, volte sempre.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  5. Momentos mágicos que ficaram para sempre a fazer parte de um imaginário livro de recordações.
    Quem disse que o passado não importa?

    Como curiosidade: ainda hoje a zona saloia tem características únicas. Se desligarmos a memória imediata por uns instantes, de repente tanto podemos sentir que estamos a dois passos da capital, como numa qualquer aldeia do interior.
    Há mesmos algumas, aquelas mais afastadas do turismo, mais viradas para a agricultura, que parecem paradas no tempo.
    É isso que me faz gostar tanto, não só da zona saloia, mas também daquela faixa de Ribatejo Oeste, escondida entre montes verdejantes e vinhedos, logo acima das cidades ribeirinhas, logo acima de Vila-Franca-de-Xira, de Alverca e que se estende desde Arruda dos Vinhos, Alenquer, até confluir com o Concelho de Torres Vedras onde, pela proximidade do turismo veraneante se descaracteriza completamente.
    Lisboa está bem "guardada"

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  6. Querida Maria Teresa,

    Realmente a viagem de Lisboa a Nafarros pode ser uma verdadeira aventura de noite até nos dias de hoje com todas as modernisses possiveis.Existe pelo tragecto caminho com pouca iluminação e existe parte do caminho que parece que estamos no meio do nada!!!Principalmente para quem não conhece muito bem,claro hoje em dia como voce diz existe sistemas de navegação que fazem não nos perdermos.
    A esta hora essa imagem de cabrito assado no forno deu-me uma vontadeeeeeeeeeeee!!!!Adoro!!!
    Essas memorias são tão bonitas de aparecerem em nosso pensamento.Esses momento mágicos que nos acontecem....são por vezes inexplicaveis...
    Bonito recordar!
    Ahhh...já agora não comentei seu post anterior mas adorei saber que tambem gosta de banho de espuma e momento de relaxamento...sim é fantastico sem duvida!
    Lembrou-me uma musica engraçada...deixo pra voçê;

    http://www.youtube.com/watch?v=5SQOkByO2tE

    Bjinho cheio de luar

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  7. Nunca se sabe o que poderia ter acontecido!

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  8. Apesar do contratempo, deu uma história bonita...

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  9. Há histórias e principalmente momentos que jamais podemos esquecer...
    E o cabrito, ainda vale a pena?
    Eu adoro o cabritinho assado do Fundão, mas não me tentem impingir chibo por cabrito...
    Beijinho.

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  10. Querida Maria Teresa

    Quantas vezes me "perdi" nessas estradas de Colares (ah La Vigueza!!), de Almoçageme (que banhos únicos na Adraga!!!) e fazendo a estrada do Cabo da Roca numa fugidinha a Cascais para um copo e muitos dedos de conversa no John Bull...

    Belos tempos que aqui me trouxeste à memória... e o cabrito em Nafarros também... claro está.

    Beijinhos.

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  11. À descoberta de um Portugal desconhecido! Que entrada triunfal! Ainda bem que criaste o blogue, aos poucos vou conhecendo histórias dos meus próprios progenitores que desconhecia completamente! Beijinhos perdidos!

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  12. Querido Co2, importo-me com o passado mas apenas nas coisas boas que me deu, felizmente foram bastantes, mas também há outras muito más que decidi "apagar"...
    A sua "curiosidade" enriqueceu e muito este meu cantinho. Obrigada por este seu testemunho e espero que muitos o leiam.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  13. Querida Moonlight, disse tudo... e agora situe-se há cerca de 30 anos.
    Obrigada pela canção da Rita Lee, já a Tela me tinha falado nela mas eu não a tinha ouvido.
    Ouvi-a agora, seguindo a sua recomendação e senti que algures no passado já a tinha ouvido.
    Muito obrigada por ter deixado a sua "marca", reforçou o meu texto.
    Uma lua cheia de beijinhos embrulhados para si!

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  14. Querida Olhos Dourados, tudo acabou em beleza...
    Um cesto dourado cheio de beijinhos embrulhados para si!

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  15. Querida Adek, uma história que foi puxada do meu passado longuínquo, que pensei que vos podia interessar...Estou feliz, parece que interessou mesmo!
    Uma maleta de médico cheia de beijinhos embrulhados para si!

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  16. Querido Pinguim, o restaurante ainda existe, já não tem a traça de tasca mas, em anos recentes já lá comi duas vezes em festas comemorativas, a ementa não contemplava o cabrito, mas pelo que oiço dizer este ainda continua a ser bom.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  17. Querido Vicktor somos da mesma geração, tudo isso me é familiar, é talvez por isso (mas não só), numa altura em que "vivo dos meus rendimentos", me deixo ficar dias a fio no meu Refúgio e "abandono" a minha casa de Lisboa.
    Vai ficar no meu caderninho de apontamentos "a praia da Adraga" para contar um episódio muito engraçado lá ocorrido há 35 anos.
    Um estojo cheio de beijinhos embrulhados para ti!

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  18. Querido Demóstenes foi sorte sim, mas também fui muito amada tenho a certeza! Foram anos de felicidade que tiveram um preço muito alto, mas isso são outras histórias...
    Beijinho embrulhado para ti!

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  19. Querida Ana Rita há milhentas histórias de família que tu desconheces, mas vais conhecê-las um dia, que eu espero que seja longínquo, quando tiveres oportunidade de leres os meus "testemunhos".
    Uma caixa de tintas, vazia, cheia de beijinhos embrulhados para ti!

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  20. Uma (outra) pintura maravilhosa, ao nível que já nos habituou...porque só assim a vida deve ser vivida. Obrigada por partilhar connosco um momento de tal beleza. Bjs

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  21. Querida Tela, é triste estas pinturas não serem mais duradouras. Mas enquanto duram dão muito prazer e felicidade...
    Beijinho embrulhado para si!

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  22. Ás vezes a vida fica "presa"numa imagem.

    Um abraço*

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  23. Querida JS e é tão bom essa imagem perdurar.
    Beijinho embrulhado

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  24. ...bonitas histórias, bonitos'beijos' da vida...
    Andámos em paralelo, locais, aventuras...nafrros colares...

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  25. Mesmo com o contratempo, conseguiram fazer desse jantar um momento a recordar...porque há coisas que perduram para sempre!

    Beijinhos Maria Teresa

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  26. Querida Charlotte, os contratempos não nos podem derrotar...
    Uma chuva de beijinhos embrulhados para si!

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  27. Querido des-encantos, andámos e talvez andemos, eu pelo menos ainda ando por "cá".
    As histórias bonitas devem ser partilhadas, das feias não reza a história.
    Benvindo ao meu espacinho, volte sempre e leve consigo uns beijinhos embrulhados.

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