No meio de tantas crianças que no recreio brincavam, com a alegria e o amor pela vida, que só as crianças sabem demonstrar, aquelas duas distinguiam-se. Distinguiam-se sem se conseguir explicar bem o porquê.
Eram ladinas, eram líderes, mas líderes sem autoridade, apenas porque a sua imaginação fértil lhes permitia criarem jogos e brincadeiras que aos outros cativavam.
Dentro da sala de aula estavam lado a lado e numa simbiose nascida do nada, incentivavam-se uma à outra num jogo de palavras e de entre ajuda.
Onde está a Maria? Ali não vês, ao lado do José!
Onde está o José? Além bem perto da Maria!
Fora da escola viviam juntos, não em intimidade familiar.
Todas as horas, todos os minutos, todos os segundos, quando estavam despertos, riam, corriam, saltavam, pulavam, falavam, escutavam como se só um fosse.
Era um prazer vê-los voarem pelos campos a apanhar flores, sossegadinhos a espreitarem um ninho, deitados no chão a contar formigas, em contemplação pelos animais à solta, desnudos a banharem-se nas águas límpidas de uma lagoa, receptáculo de uma cachoeira.
Um dia esta tranquilidade, esta paz reinante, foi perturbada, por um troar ao longe. Ficaram assustados sem saber porquê. Trovoada não era, essa era bem conhecida.
Não passou muito tempo até se aperceberem que algo de estranho invadia o seu mundo, um mundo sem medos, um mundo de inocência, um mundo onde os homens ousaram entrar, entrar sem permissão, entrada forçada…
Viu-se a Maria, viu-se o José, crianças dóceis e bem comportadas, de braços estendidos a tentarem tocar-se, gritando, berrando, esperneando, sem nada entenderem, levadas à força por braços de adultos que muito as amavam. Uma ia ficar na terra ancestral, a outra partir para o desconhecido, tudo porque tinha chegada uma besta, o senhor da guerra que tudo destrói e porque… uma era preta e outra era branca...
Texto publicado no âmbito do desafio Preto e Branco, para Fábrica de Letras
Eram ladinas, eram líderes, mas líderes sem autoridade, apenas porque a sua imaginação fértil lhes permitia criarem jogos e brincadeiras que aos outros cativavam.
Dentro da sala de aula estavam lado a lado e numa simbiose nascida do nada, incentivavam-se uma à outra num jogo de palavras e de entre ajuda.
Onde está a Maria? Ali não vês, ao lado do José!
Onde está o José? Além bem perto da Maria!
Fora da escola viviam juntos, não em intimidade familiar.
Todas as horas, todos os minutos, todos os segundos, quando estavam despertos, riam, corriam, saltavam, pulavam, falavam, escutavam como se só um fosse.
Era um prazer vê-los voarem pelos campos a apanhar flores, sossegadinhos a espreitarem um ninho, deitados no chão a contar formigas, em contemplação pelos animais à solta, desnudos a banharem-se nas águas límpidas de uma lagoa, receptáculo de uma cachoeira.
Um dia esta tranquilidade, esta paz reinante, foi perturbada, por um troar ao longe. Ficaram assustados sem saber porquê. Trovoada não era, essa era bem conhecida.
Não passou muito tempo até se aperceberem que algo de estranho invadia o seu mundo, um mundo sem medos, um mundo de inocência, um mundo onde os homens ousaram entrar, entrar sem permissão, entrada forçada…
Viu-se a Maria, viu-se o José, crianças dóceis e bem comportadas, de braços estendidos a tentarem tocar-se, gritando, berrando, esperneando, sem nada entenderem, levadas à força por braços de adultos que muito as amavam. Uma ia ficar na terra ancestral, a outra partir para o desconhecido, tudo porque tinha chegada uma besta, o senhor da guerra que tudo destrói e porque… uma era preta e outra era branca...
Texto publicado no âmbito do desafio Preto e Branco, para Fábrica de Letras
agora fez--me lembrar a minha priminha, de 4 anos, que tem um namorado "cor de chocolate"...
ResponderEliminarLINDO, LINDO, LINDO! DIVINAL!
ResponderEliminarjocas
A sua narrativa, simples na forma riquíssima porém no conteúdo, fez-me automaticamente pensar em África. Nessa África colonial de que fomos, enquanto nação, usurpadores. Não sei se o relato tem alguma coisa de autobiográfico; se não tem poderia ter, por verosímil, que a história, esta ou outra semelhante, repetiu-se vezes sem conta. Muitas. Demasiadas.
ResponderEliminarQuerida Lia a minha filha ao ler este conto, que escrevi perto dela, num repente de inspiração, fez-me recordar dois coleguinhas de escola a quem se referia por "leite e chocolate". Este epíteto nada tinha de maldade era uma forma carinhosa de se dirigir a ambos.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Lebasiana acredito que gostou muito, caso contrário não o diria. Fico muito sensibilizada porque isto foi e é uma realidade que se passou e passa com pequenos e grandes, feios e bonitos, gordos e magros, com gente de todas as cores..
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querido Demóstenes, muito obrigada pelas suas amáveis palavras. O texto é completamente ficcionado em relação à minha vida pessoal. Já visitei o continente africano mas apenas na parte norte, locais sem guerra. Tive familiares muito chegados, a lutar por lá, numa guerra que lhes era estranha,tive amigos e conhecidos que não regressaram...
ResponderEliminarEste é o primeiro texto do meu blogue que não foi "vivido" por mim.
Beijinhos embrulhados para si!
Lindo. Uma ideia já usada por outra pessoa no desafio mas não perde o interesse por isso. Racismo um problema preocupante. Adorei a maneira como delineste a historia.
ResponderEliminarvivido ou não por si, este texto faz-nos viver um pouco da inocência das duas crianças e da angustia da separação. Muito bonito
ResponderEliminarBeijinho
Querida Brown Eyes só li três textos do desafio, não estava minimamente interessada nele, de três bloguistas que costumo seguir, a Eva, a Arisca e o Demóstenes e foi por ler o que escreveram e por ter para cada um deles, uma opinião diferente, embora todos estejam muito bem escritos, que me levou hoje de manhã, já depois de ter colocado o meu post, a pensar : "eu não serei capaz?"
ResponderEliminarDito e feito, foi o que saiu, nunca ficciono aquilo que escrevo, nem procuro sinónimos "ricos" para encher o texto, é o que sai... Só espero não me ter saído muito mal nesta primeira experiência no mundo do conto ficcionado... E não será por vezes, a vida uma ficção?
Obrigada pelas tuas amáveis palavras.
Beijinhos embrulhados para ti!
Querida Mel de Vespas, acredite que me vi na pele das duas crianças, tenho uma ideia, muito pálida é certo, dos relatos que li e leio sobre as guerras, as guerrilhas, ... e tudo o que envolve o "derrotar" o homem pela mão de outro homem, senti a sua angústia e a sua incompreensão da realidade do que as rodeava.
ResponderEliminar"Entrei" nos meus protagonistas...
É benvinda!
Beijinhos embrulhados para si!
Muito bonito o teu texto! Com uma certa tristeza, sim, mas muito bonito!
ResponderEliminarQuerida Lala é triste sim...
ResponderEliminarBenvinda e obrigada pelas suas palavras.
Beijinhos embrulhados para si!
Boa tarde...
ResponderEliminarBela postagem.
O caráter ñ está centrado na cor e sim na alma, e pelo q me consta as almas ñ possui cores, infelizmente invisível ao olhos do preconceito...
Um beijo grande
Querida Sereia, o preconceito existe mas no meu texto ele não está focado. As crianças foram separadas à "força" porque havia uma guerra e cada uma delas ficou ou regressou às origens dos progenitores..
ResponderEliminarBenvinda a este cantinho!
Obrigada pelo comentário e... beijinhos embrulhados para si!
Minha querida,
ResponderEliminarcada vez me convenço mais de que tem uma alma grande. Muito grande. Sinto a ternura com que embrulha as palavras. Uma ternura tão natural que nem dá por ela. Nós, que a lemos, damos!
Um abraço desembrulhado, de peito aberto, para si!
Querida Arisca que bem que me fizeram as suas palavras...Obrigada! Vindo duma jovem como a Arisca são uma honra.
ResponderEliminarBem-haja!
Beijinhos embrulhados para si!
Muito bonito o texto, Maria Teresa!
ResponderEliminarÉ pena realmente, quando a doçura, a pureza, a confiança e a amizade das crianças é abalada pelo monstro da guerra, que tudo separa e oprime.
Beijinhos
Querida Charlotte e os homens aprendem tão pouco..
ResponderEliminarObrigada pelas suas palavras.
Beijinho embrulhado para si!
Mais um maravilhoso Beijinho Embrulhado com que nos presenteou hoje, encontro nele doçura apenas. Também participei (inclusive, votei no tema) em Fábrica de Ideias, mas numa vertente muito pessoal...Tal como a Maria Teresa, as palavras "saiem-me" de rajada, quase infinita... Obrigada pela partilha, bjs
ResponderEliminarQuerida Tela quero ler o seu! Falar de crianças "puxa" por mim e não é por ser avó, sempre fui assim ...
ResponderEliminarObrigada pelo carinho com que sempre me trata.
Beijinhos embrulhados para si!
Não se saiu nada mal não senhora, :)Imaginei que fosse um experiência vivida por acaso, ou por alguém próximo, mas sendo ficção, consegue transportar-nos para essas paragens e para a guerra colonial. Imagino que se terá passado precisamente o que descreve, a muitos meninos e meninas.Gostei francamente. beijinhos
ResponderEliminarQuerida Eva muito obrigada pelas suas palavras mas a resposta que dei ao Demóstenes é verdadeira.
ResponderEliminarEu escrevi o texto em cerca de meia hora, levei mais tempo a publicá-lo porque ao princípio não sabia como fazê-lo.
Beijinhos embrulhados para si!
Olá Maria Teresa!!!
ResponderEliminarA inocência das crianças, é uma coisa linda
Uma Beijoca e um bom fim de semana
Ana
Maria Teresa, como sempre mais um brilhante texto... Que nos dá muito que pensar.
ResponderEliminarTenho um "miminho" para si no meu blogue.Está à sua disposição caso aceite. :))
Beijinho grande* minha querida!
a infância será sempre a idade da inocência.
ResponderEliminarhá um livro já publicado chamado "diário de Sonhos"
maria teresa disse...
ResponderEliminarMinhas queridas Ana,Invisível e Magia da Noite muito obrigada pelas vossas palavras carinhosas, não me canso de repetir convosco, as crianças são seres admiráveis. Como dói ver os adultos a profanarem a sua inocência e a darem tão maus exemplos...
Beijinhos embrulhados para todas, especialmente para cada uma de vós...
dorida esta dor de separação injusta
ResponderEliminaradorável o teu texto
um beijo
Olá progenitora! Não tenho comentado porque como sabes o teclado do meu computador bebeu leite e ficou com uma indigestão! E agora estou a escrever do teu! Eh, eh, eh!
ResponderEliminarEste texto, como aliás já referiste, fez-me lembrar dois coleguinhas do 2.º Ciclo que andavam sempre juntos. Nós, carinhosamente, baptizámo-los de "chocolate com leite"! Beijinhos inocentes!
Querido Uminuto obrigada pelas tuas bonitas palavras
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
Olá menina, se a finalidade do comentário, ainda por cima feito à revelia no MEU computador, é uma indirecta para o Pai Natal, eu não sou pai...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados (que são sempre inocentes)
Adorei!!!
ResponderEliminarPor momentos me fez acreditar que tinha voltado aos meus tempos de criança...
Bjinhos
Bom fim de semana =)
Querida Lua espero não ter avivado más recordações...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Bonito...:-)
ResponderEliminarDesafio no meu espaçinho...:-)
Querida Chapéu obrigada pela sua presença "aqui"
ResponderEliminarBeijinho embrulhado para si!
Eu tenho a impressão que o tempo de inocência que as crianças têm é cada vez menor (infelizmente).
ResponderEliminarQuerida Anuska eu também tenho essa impressão mas não quero acreditar...porque sendo assim, os culpados dessa perda somos todos nós.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Algo triste, mas muito bonito.
ResponderEliminarTanto na morte como na tristeza, se pode encontrar uma certa beleza filosófica.
*
Maria Teresa,
ResponderEliminarAo tentar corrigir uma minúscula, depois dum ponto final, no meu comentário, parece-me que o dupliquei. Peço desculpa e agradeço-lhe, portanto, que elimine o duplicado, se tiver acontecido, realmente, este engano.
Obrigada.
Maria Letra
Querida Gingerbread a vida, infelizmente é assim, há muita tristeza mas também existe muita alegria, vivámos a pensar mais nesta.
ResponderEliminarObrigada pela sua visita, já a "conheço" de outras paragens blogosféricas relacionadas com uma vagem.
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Maria, chegou apenas a rectificação como pode verificar.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados de uma avó para outra.