O VESTIDO BRANCO

Tempo de renovação, de fé, de esperança, …de recordações.
Eis-me a recordar Páscoas passadas e como relâmpago, em dia de tempestade, vem-me à memória um vestido branco e o primeiro beijo que a ele ficou para sempre enlaçado.
Simples no corte, saia rodada, decote em bico, sem mangas, costurado em casa como era hábito nessa época, trabalhado em nylon “lavrado”, o “furor” da altura, tecido altamente inflamável e do qual constava que se nos tirassem uma fotografia o vestido não aparecia, ficávamos gravadas em roupa íntima, ou nuas, no caso dessas peças de vestuário serem do mesmo material. Com a aprovação de todos corri esse risco!
O decote fazia antever a sombra dos meus seios de menina a querer ser mulher.Tinha quinze anos! Usei-o pela primeira vez nesse domingo de Páscoa que ficou no passado há mais de 50 anos.

Mulher de branco no Jardim, de Claude Monet

Ao fim da tarde, vindo para saborear umas amêndoas e para conversar um bocadinho comigo, chegou o meu namoradinho de infância que, quando me viu, perante o sorriso complacente de quem assistiu, exclamou: Estás tão linda!
Pouco depois, no quintal da casa, com a cumplicidade de uma glicínia, escondidos dos olhares dos meus familiares, deu-me um beijo…beijo de lábios humedecidos, rápido, ingénuo, carregado de ternura. Com a convicção própria de uma idade pouco amadurecida quase gritou: Quero casar contigo!
Nessa noite mal dormi, sentia nos meus lábios os lábios do Vasco! Tocava-os, tocava-me, querendo reter esse ligeiro e veloz toque para sempre. Que frémito! Que emoções tão fortes que me faziam sentir feliz, muito feliz…

PARA TODOS UMA SANTA PÁSCOA!