Já fui dominada pela ira, por duas vezes, não sinto orgulho disso mas não me arrependo (li uma frase semelhante a esta, no blogue do Marquês, que me fez pensar bastante)!
Vou relatar uma dessas situações que considero pouco dignas numa adulta com a responsabilidade que sempre me caracterizou. Durante cerca de um terço da minha vida profissional oficial, dediquei-me ao ensino especial , mais concretamente à deficiência auditiva. Como todos devem saber, os surdos profundos chegam a determinados anos de ensino desfasados na idade, ou seja quando um aluno ouvinte entra para o actual 5º ano, com 9, 10 ou 11 anos, o surdo profundo começa a frequentar esse ano, em média com os 14. Há ou havia turmas em que se tentava a integração com alunos ouvintes, então para que não houvesse uma grande disparidade nas idades, muito notória nesta faixa etária, os alunos ouvintes eram invariavelmente, aqueles que davam problemas disciplinares e que se tinham atrasado nos anos escolares.
O Paulo hoje um respeitável pai de família na casa dos trinta e bastantes anos, era muitíssimo indisciplinado, pouco habituado a cumprir normas. Eu que me caracterizo por ter sido uma professora com “rédeas” que apertava ou soltava mais, consoante o andar da “carruagem", sempre consegui aguentar o Paulo num limite de “normalidade” comportamental e interesse pela disciplina que leccionava. Quem passasse pelos meus alunos, enquanto aguardavam a minha entrada, sabiam que a professora que ia entrar era eu. A turma tinha-se habituado a aguardar por mim junto à sala, sem fazerem barulho e sem se empurrarem, não se portavam como “selvagens”.
Vou relatar uma dessas situações que considero pouco dignas numa adulta com a responsabilidade que sempre me caracterizou. Durante cerca de um terço da minha vida profissional oficial, dediquei-me ao ensino especial , mais concretamente à deficiência auditiva. Como todos devem saber, os surdos profundos chegam a determinados anos de ensino desfasados na idade, ou seja quando um aluno ouvinte entra para o actual 5º ano, com 9, 10 ou 11 anos, o surdo profundo começa a frequentar esse ano, em média com os 14. Há ou havia turmas em que se tentava a integração com alunos ouvintes, então para que não houvesse uma grande disparidade nas idades, muito notória nesta faixa etária, os alunos ouvintes eram invariavelmente, aqueles que davam problemas disciplinares e que se tinham atrasado nos anos escolares.
O Paulo hoje um respeitável pai de família na casa dos trinta e bastantes anos, era muitíssimo indisciplinado, pouco habituado a cumprir normas. Eu que me caracterizo por ter sido uma professora com “rédeas” que apertava ou soltava mais, consoante o andar da “carruagem", sempre consegui aguentar o Paulo num limite de “normalidade” comportamental e interesse pela disciplina que leccionava. Quem passasse pelos meus alunos, enquanto aguardavam a minha entrada, sabiam que a professora que ia entrar era eu. A turma tinha-se habituado a aguardar por mim junto à sala, sem fazerem barulho e sem se empurrarem, não se portavam como “selvagens”.
Há um dia, há sempre um dia em que se pode perder a compostura…
A sala era no primeiro piso e ficava mesmo sobre a desembocadura de uma escadaria ampla, dos últimos degraus via a entrada, nesse dia enquanto a subia, vi o Paulo a empurrar vários colegas e a puxar os cabelos a uma.
Abordei-o pelas costas e com a minha mão direita, puxei-o para o meu lado, dando ordem de entrada aos restantes alunos, eis quando, pelo “canto do olho” vejo o Paulo com a mão direita dele a ameaçar que me batia, perdi a cabeça, quando dei por mim já lhe tinha dado uma potente bofetada… e lembro-me de ter pensado: “Maria Teresa pára! Tens que parar!” E parei embora me apetecesse confesso, desancá-lo… Não o deixei entrar na sala e solicitei a presença de um responsável pelo aluno.
Abordei-o pelas costas e com a minha mão direita, puxei-o para o meu lado, dando ordem de entrada aos restantes alunos, eis quando, pelo “canto do olho” vejo o Paulo com a mão direita dele a ameaçar que me batia, perdi a cabeça, quando dei por mim já lhe tinha dado uma potente bofetada… e lembro-me de ter pensado: “Maria Teresa pára! Tens que parar!” E parei embora me apetecesse confesso, desancá-lo… Não o deixei entrar na sala e solicitei a presença de um responsável pelo aluno.
Esta história teve um final feliz para todos, os pais do Paulo, gostavam de mim, sentiam que eu era uma das professoras que estava verdadeiramente interessada no filho, que o estava a ajudar a moldar-se e a crescer social e culturalmente. “Ele até tinha passado a gostar de ir para escola, já não fugia e … até já gostava de Matemática!”
O incidente foi sanado rapidamente e o Paulo passou a estar muito menos irrequieto nas aulas.
O Paulo e a família moram perto da minha casa de Lisboa, por isso sei que ele continua a pensar que a minha atitude foi a adequada, no entanto eu preferia não ter passado por este incidente, tenho consciência que esta e a outra ocasião em que perdi totalmente a “cabeça”, foi um caso isolado e que tiveram por base uma provocação que nunca previ. Aprendi a lição e nunca mais permiti que provocações deste tipo, me fizessem ripostar com violência. Não posso dizer que “desta água não beberei”, mas sei que no dia-a-dia, não sou uma pessoa agressiva nem por palavras nem por actos.
Agora chegou a altura de serem vós os juízes! Aguardo a vossa sentença!
Querida Maria Teresa,
ResponderEliminarQuanto a este "pecado", penso que está perdoada...a sua ira momentânea, não ofuscou toda uma vida de trabalho extraordinário!
Eu que prezo a serenedidade e compustura...ao longo da vida percebi que estes momentos de ira são inevitáveis...e por muito que me custe a admiti-lo, muitas vezes são eles que nos permitem afirmar as posições que os demais não querem ouvir.
Mas tal como disse em relação ao "pecado" anterior, não é uma árvore que faz a floresta!
Beijinhos
Querido Touro perdoada pelo aluno fui, não que tivesse pedido perdão...
ResponderEliminarAceito o seu veredicto que até me absolve.
Beijinhos embrulhados para si!
Eu perco a cabeça todos os dias com os teus netos... Não lhes bato, mas como sabes grito muito! Será ira? Serei uma pecadora? Hoje não mando beijos!
ResponderEliminarmaria teresa...
ResponderEliminarBem, bem...começar o dia com julgamentos?"lol"
Não gosto de ser juís.Mas, centrando a questão no texto muito bem apresentado, concordo plenamente com a ira momentanea...ninguém é totalmente controlado.Todos temos o direito de, pontualmente,"nos saltar a tampa"; sim, porque isso é sempre um sinal de alerta para nós e para quem nos provoca.
Querida amiga, tambem vivi situações muito parecidas com a sua, uma das quais com um adolescente. Mas, depois disso ele transformou-se num dos meus melhores amigos.
...bem...dava pano para mangas, esta nossa conversa..lol
beijinhos
Pj
Bom dia querida Maria Teresa,
ResponderEliminareu diria que é isso que fez falta a muitos meninos e meninas andaram na escola no meu tempo. Sempre ouvi os meus pais e os meus avós dizerem que a educação não parte só deles, mas também daqueles que nos ensinam a ler, escrever e ai diante.
Para mim isso foi educar o Paulo no sentido de ele aprender que o que estava a fazer não era o correcto. Aqueles que realmente gostam de nós, não nos fazem as vontades todas, ensinam-nos o que é e não é correcto.
Perdeu a cabeça porque viu que ele estava a fazer não era o correcto e depois, um safanão de vez em quando só faz em bem.
Abraço GRANDE
Com carinho
Sairaf
Julgamento!?
ResponderEliminarQuem sou eu!?
Só me apetece dizer, triste de quem vive sem saborear o direito à indignação e deitar, vez por outra, mãos à ira!
Não somos, como o Macário do Eça, seres linfáticos! Corre-nos sangue pelas veias, não!? Não quer isto dizer que sejamos agressivos, muito menos violentos.
A mão que deu a bofetada no aluno não magoou. Foi como tabefe de mãe,meigo, doeu mas não aleijou, por certo. Apenas teve o condão de recentrar um desvio de comportamento. Em boa hora desceu aquela mão.
Na minha primária, no Liceu e na Faculdade (aqui por palavras) tive mãos que se me encostaram. Só bem me fizeram. Ainda hoje me recordo, com saudade, dos queridos professores que as estenderam, os mesmos que em outras ocasiões me abraçaram, me ensinaram a ler o livro dos afectos, me ajudaram a ser o homem livre que hoje sou.
Sobre tabefes falei um dia com o meu filho mais velho, hoje pai também. A meio da conversa, disse-me ele: "devias ter-me dado mais alguns."
E pronto!
Respeitosos cumprimentos, Rainha minha, do seu Cavaleiro recém-ordenado.
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Abraço
Li uma frase numa biografia (A Alameda do Rei, um dos meus livros favoritos) que se adequa bem à situação, não me lembro bem dela, mas o sentido era mais ou menos este: Na educação, incutir responsabilidade pelos actos, evitar ao máximo os castigos, mas quando for caso disso, castigar uma vez de forma a ser temida para sempre...
ResponderEliminarA Ira é um pecado no qual raramente caio, os meus colegas de trabalho por vezes até se admiram com a minha paciência para certas situações...
Bjokas
Pessoalmente, acho que fez aquilo que deveria ser feito! Hoje em dia os miudos abusam demais, não respeitam ninguém e tratam os professores de uma forma completamente absurda e isso, porque não há mais professores a terem a mesma atitude que teve.
ResponderEliminarClaro que hoje em dia não se pode tocar nos "meninos" porque eles são muito sensíveis e ficam logo cheios de problemas psicológicos, mas estamos numa altura em que estão a ultrapassar totalmente os limites do aceitável...
Concordo com as 'palmadinhas educativas'. É o que faz falta a muitos dos miúdos de hoje que são cada vez mais indisciplinados. Antigamente os professores batiam quando devia ser e os miúdos não morriam por isso, agora ninguém bate com medo de perturbar o desenvolvimento da criança!!! De certeza que o Paulo não ficou minimanente perturbado e até agradecia que os professores de hoje fossem como a Maria Teresa, que dessem educação aos seus filhos.
ResponderEliminarBjokas*
O que me apetece dizer-lhe Teresa, é que se fosse hoje, não se livraria certamente de um processo disciplinar, porque um professor, mesmo sendo ameaçado com facas e pistolas, injuriado do piorio e até agredido, tem é que engolir e calar. O aluno tem sempre razão e não se lhe pode tocar nem com uma flor. Irra, que raiva!
ResponderEliminarMaria Teresa, devemos sempre manter o equilíbrio razão/emoção! No entanto, neste caso concreto, apetece-me dizer que teve a atitude certa no momento certo e na pessoa certa! Remédio "santo" e pelos vistos sem sequelas.
ResponderEliminarUm abraço Maria Teresa!
VS
Penso que estará absolvida desse pecado Maria Teresa... A ira já me visitou algumas vezes também... e também já perdi a cabeça e muitas vezes, as cordas vocais :)Beijinhos
ResponderEliminarE pronto. "Chegámos" ao fim de tanto "pecar".
ResponderEliminarFalta esfolar este rabo que é a ira. A menos que seja na vertente "desejo de vingança", forte acrescento eu, nem pecadilho chega a ser.
Que é uma zanga ou uma indignação? Parece que até temos direito a isso e temos mesmo.
Portanto acabamos "softmente" com um pecadilho.
Foi bom discorrer sobre estes chamados pecados, boa a tua iniciativa, os meus cumprimentos.
E agora que tal matar, esfolar, estrupar, roubar,violar, mentir e por aí fora?
Se não estiveres cansada de pecar, atira-te a estes com unhas e dentes, que é como quem diz, com dedos (nas teclas) e cabeça.
Nós cá estaremos para te ler e mandar as bocas que forem precisas.
Finis.
Bjo.
É uma análise deveras complicada que propões.
ResponderEliminarNa minha opinão, e já tive uma familiar a trabalhar na Assoc.Port.de Surdos, são pessoas diferentes, pela deficiência que têm, são extremamente desconfiados, mas no caso que relatas não é deficiência, é mesmo má educação, com uma pontinha já de violência talvez inconsciente, acho que fizeste bem não responder à agressão, até como acto preventivo para ele e para os pais, mas se por acaso volta-se a acontecer seria mais que certo, que levava um tabefe.
Porque é sabido que violência, puxa violência.
Beijão e, a calma necessária.
Momentos de perder a cabeça todos temos... estás perdoada. :)
ResponderEliminarRaramento me chateio MESMO, mas quando acontece não sou nada meiga...
Cara Maria Teresa
ResponderEliminarAssim sem pensar, apetece-me dizer - nunca as mãos lhe doam...
Mas, sabemos bem que, actualmente a vida dos professores está UM INFERNO...!
Eu, no seu lugar, faria exactamente o mesmo!
TEM TODA A RAZÃO! O LAGO ESTAVA MESMO GELADO!
Bjs
G.J.
No meu humilde parecer...
ResponderEliminarNão me parece...
Que tenha errado...
Quando irou...
...
...
bjs.
Querida Maria Teresa!
ResponderEliminarEste é um caso tipico de "não agressão"! E quando acontecem casos como deste "menino" o melhor correctivo é exactamente uma bofetada!
Por isso, eu no seu lugar faria o mesmo!
O que acontece hoje é paradigmático dos alunos que fazem o que lhes apetecem, porque não se pode tocar com um dedo, e lá aparece o processo disciplinar!
E na minha opinião pessoal, isto que a Maria Teresa fez, não é nenhuma ira, ok!
Um beijinho,
Renato
Teresa!
ResponderEliminarQue se sinta "mal" com a reacção que teve, não digo que não tenha razão pois já fui professora e sei o que é ficar "irada" com alguns "meninos", agora sentir-se culpada?? nunca!!
Confesso: Sabe que ainda estou na dúvida se sou uma pessoa irada ou simplesmente "ferve em pouca água" é que por vezes sei que sou um pouco "intragável" de aturar.
Um beijinho!
P.s - Achei a sugestão do Carapau muito interessante, que tal Maria Teresa?
...não há Sentenças, há Momentos Partilhados! Felizmente, até hoje, consegui sempre controlar-me [situações há em que "receio que as minhas mãos ganhem vida própria" :))], mas já estive muito, muito perto de dizer algumas coisitas meeeesmo muito desagradáveis, sobretudo àqueles/as que me magoam/magoaram! Viva o auto-controlo! beijo grande, desembrulhado
ResponderEliminarMais do que perdoada!!!!
ResponderEliminarIsso não é ira, sequer; é uma elementar reacção a uma manifesta agressividade e que não poderia deixar de ser punida.
Aliás tenho uma história semelhante quando dei aulas na Preparatória de Serpa e dei uma sova publicamente a um aluno que me esperava à porta da Escola com pedras para me agredir e a chamar-me tudo do piorio: "cresci" para ele, em palavrões e em porrada e depois levei-o ao pai e expliquei-lhe o que ele e eu tínhamos feito e o bom homem só me disse - "obrigado"...
Ira é outra coisa, é estar verdadeiramente zangado e não conseguir sair "dali", e eu já tive esse pecado várias vezes; é um pecado desculpado pela cultura popular: "quem não se sente, não é boa gente"...
Meus queridos são GRANDES AMIGOS a tentarem minimizar este "incidente", são JUÍZES muito benevolentes, tudo isso não invalida eu sentir que tinha OBRIGAÇÃO, de me ter sabido controlar.
ResponderEliminarComo MÂE e AVÓ, devo confessar-vos que tenho sacudido mais moscas aos meus netos do que o fiz aos meus filhos.
Sou muito paciente com as crianças mas eles gostavam de me levantar a mãozinha quando os contrariava. Nunca percebi bem porquê, em casa deles, não há castigos corporais.
Sempre fui uma MÃE que conseguia "levar" os filhos, sendo mais teimosa do que eles e as "lágrimas de crocodilo" não me convenciam.
Por vezes tinha era que os convencer dizendo: " é porque sim (ou porque não) porque sou vossa mãe e ainda sou eu que mando!" Frase ridícula mas convincente. Comigo resultou sempre.
BEIJINHOS EMBRULHADOS PARA TODOS! EM ESPECIAL PARA SI!SIM! PARA SI!
Muinha querida,
ResponderEliminarnão somos ninguém para julgar a sua reacção àquela provocação.
Parece-me que aquela bofetada fez richochete no seu aluno e atingiu-a a si em cheio. E de tal forma, que ainda hoje lhe dói...
Não seja tão severa consigo mesma. Já todos fizemos coisas das quais não nos orgulhamos. Fazem parte. Porque sim.
*Um beijinho
acho que não podemos nem devemos julhar um acto isolado. certamente já todos tivemos uma ou outra atitude que não se coadunam com a nossa forma de ser, isso prova apenas que somos humanos e não deuses. O que inyeressa é que sabemos que agimos errado e tentamos sempre que possível evitar uma atitude similar.
ResponderEliminarIsso não nos torna monstros apenas seres humanos
um beijo embrulhadinho com muito carinho
Querida Maria Teresa
ResponderEliminarAcho que por mais que se esforce não conseguirá ser tão pecadora :)
Na minha opinião a ira supõe um pouco mais de continuidade. Não será uma reacção momentânea a uma situação que define ira.
Um dos momentos mais "infelizes", menos bonitos da minha vida, em que da minha boca saíram palavras que em condições normais não saíriam, daqueles momentos que me envergonho de ter passado, esquecelo-ia mais facilmente se tivesse tido uma reacção como a sua. Depois de uma colega me ter literalmente moído o juízo todos os dias, todos, de ter tentado denegrir-me, de ter inventado, de ter tentado levar outras pessoas a duvidar do meu trabalho, coisa que sempre consegui ignorar. Falar com ela, impossível. Até que um dia lhe respondi de uma forma muito pouco educada, uma resposta dada com a maior calma do mundo. Tenho para mim que foi muito mais pecado do que se lhe tivesse dado uma bela tareia.
Beijinhos
É fantástico partilhar estas histórias connosco :)