segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

INCONVENIÊNCIA

Há muitos anos uma amiga de infância que já fez a sua última viagem, ofereceu ao meu filho, ainda bem pequenino, o livro “FLORES PARA CRIANÇAS” de Fernando Cardoso.
Anos mais tarde a Ana Rita que todos já sabem quem é, decidiu decorar a poesia que transcrevo e que está publicada na obra citada, para a declamar na Noite da Consoada.

NA NOITE DE NATAL
Não tinha brinquedos,
Era pobrezinho,
Não tinha dinheiro,
Não tinha carinho.
Vivia sozinho,
Já não tinha mãe
Não tinha família,
Não tinha ninguém.
Dormia à chuva,
Dormia ao relento,
Cheiinho de medo,
Do sopro do vento.
Viu muitos brinquedos,
E não se interessou,
Mas viu um presépio,
Que o encantou.
E quis fazer um
Para o seu Natal
E muito contente
Correu ao pinhal.
Não tinha dinheiro
Mas tinha uma ideia
Apanhar pedrinhas
Musgo e areia.
No próprio pinhal
Num louco vaivém
Fez o seu presépio
Como o de Belém.
Ambos pobrezinhos,
Mas cheios de amor,
São estes presépios,
Que têm valor.
Não sentia fome
Nem tinha cear
Não tinha candeia
Mas tinha luar.
E triste chorou
Pelo seu destino
Já tinha presépio
Não tinha Menino.
Mas à meia-noite
Ele viu uma luz
E no mesmo instante
Surgiu-lhe Jesus.
Fernando Cardoso



A “plateia” tinha bastantes espectadores, era no tempo em que o desfazer da vida estava arredado dos familiares mais próximos já há uns anos, na assistência encontravam-se também alguns amigos. Iniciou-se o “sarau”. Compenetradíssima no seu papel de declamadora, tinha ensaiado com bastante entusiasmo, estudado os gestos e a posição corporal, a Ana declamava com tal sentimento que a assistência tinha que fazer um esforço hercúleo para não…rir.
Quando chegava ao “não tinha dinheiro mas tinha uma ideia” e punha a mãozinha na cabeça, não havia controlo possível, todos nós desatávamos a rir à gargalhada…
Não sei se ela se lembra, eu já não me lembro se conseguiu, pelo menos uma vez, chegar ao fim dos versos sem a assistência se rir, mas penso que não, porque há uma gravação de voz, do acontecimento, entretanto interrompida devido ao “escândalo”. Duma coisa tenho a certeza porque está gravado, eu dizia entre gargalhadas: “Que horror! A história é tão triste e eu tenho uma vontade enorme de rir…”

Como foi possível mais de uma dezena de adultos, fora as crianças, terem-se portado tão mal!
Hoje penso, ainda com vontade de rir: Será que ela ficou traumatizada?
Nunca dei por nada, mas nunca se sabe…

Nota: Telefonei ao irmão e ao tio, ambos se lembram ( e voltaram a rir) do episódio, fiquei também a saber que o dito livro está encaixotado na arrecadação do primeiro, é por isso que a figura foi retirada da net e embora parecida com o original é cerca de 40 anos mais recente…

25 comentários:

  1. oh, que giro!
    Imagino, ela muito empenhada e toda a gente a rir, de facto deve ser traumatizante!

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  2. :) :) :) Lembro-me como se tivesse sido ontem! Um poema tão triste e toda a gente a rir-se às gargalhadas! E hoje também já me fartei de rir ao relembrar o episódio! Há momentos MUITO felizes na vida que ficam na nossa memória para sempre! (Hás-de fazer um post sobre aquele livro que vimos e comprámos na Fnac na véspera do J. nascer! Ele ainda não o descobriu, agora que sabe ler se o descobre fico corada! Bem, nem precisava saber ler, só as ilustrações dão muito que falar :)). Beijinhos pobrezinhos! (mas com gargalhadas!)

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  3. apesar de uma boa gargalhada ser sempre benvinda a verdade é que há momentos em que podem ser constrangedoras. ainda bem que ela não ficou traumatizada
    um beijo e um sorriso

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  4. Só mesmo os textos da minha querida Maria Teresa, para me por a rir sozinha no meu escritório em frente ao pc... (qualquer dia ainda pensam que estou louca!!) :=)
    Beijinho grande* e boa semana*

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  5. a vida tem destas coisas, às vezes até na tristeza conseguimos encontrar felicidade.

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  6. Também tinha este livro e agora, ao reler o poema, vinham-me as palavras à memória!
    O que é um facto é que compreendo perfeitamente a Ana Rita: quando lia o poema, conseguia mesmo visualizar um menino muito pobre, sozinho, descalço, no pinhal, a apanhar musgo, pedrinhas e areia. Era uma imagem tão triste! E sentia frio ao imaginar que podia mesmo haver meninos assim. E meninos como o Manuel do Conto de Natal da Sophia de Mello Breyner. Meninos que, por serem pobres, não tinham presentes nem ceia.
    Sabe, estas são também memórias do meu Natal. O que sentia quando líamos estes textos :)

    *Um beijinho grande e muito obrigada por me devolver à memória "Na Noite de Natal"

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  7. As pessoas são muito mazinhas. Isso não se faz à Ana Rita! Ainda por cima ela é minha colega de profissão e agora dedica-se a fazer coisas bem giras, que eu já lá fui espereitar. Mas se calhar perdeu-se uma boa jornalista...

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  8. Quando tinha 8 anos, organizei uma festinha temática de Natal com o meu primo de 9. Contámos anedotas, declamámos poesia, contámos histórias, fizemos umas ementas muito bonitinhas para decorar, e o meu primo ate se vestiu de Pai Natal no final(é que tinhamos descoberto há pouco tempo, na escola, que o Pai Natal não existia, mas na nossa ingenuidade achámos que os nossos pais ainda acreditavam nele, e não queriamos que eles se desapontassem quando ele não aparecesse!). Curiosamente, a grande fonte de conteúdo da nossa festa foram os 3 livrinhos "Flores para Crianças" que eu tinha lá em casa! (As anedotas vieram dos "Flagrantes da Vida Real" das Selecções do Reader's Digest, que o meu pai lia, e eu lia logo depois para me armar em grandalhona!

    Adorei o post:D* Beijinhos!*

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  9. Querida Lia, no comentário a seguir ao seu ela dá a sua versão dos factos. Estou a escrever isto e tenho vontade rir, deve ser caso para psiquiatria.
    Beijinhos embrulhados para si!
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    Querida Ana Rita lembraste? Logo tu que dizes que não te lembras praticamente nada da tua infância, só te lembras a partir do tempo em que e apaixonaste pelo que é hoje o teu marido…E podes crer que vou mesmo fazer um post sobre esse livro mas minha querida, não comprámos logo, eu comprei-o depois do J. nascer e ofereci-o as ele.
    Beijinhos embrulhados para ti! (Lê daqueles de mãe…)
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    Querida Um Minuto ainda bem! Já viu o que seria estar traumatizada durante 29 anos?
    Beijinhos embrulhados para si!
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    Querida A Invisível, passou a visível sonorizada no seu escritório…Não se preocupe os meus filhos dizem imensas vezes: “Mãe estás louca!”, “ a minha mãe é louca!”, “ mais uma das loucuras da minha mãe!”, mas adoram andar a contar a toda a gente as “loucuras” que faço, por isso não se preocupe, os “loucos” são muito saudáveis!
    Beijinhos embrulhados para si!
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    Querida/o Magia e que bom que isso é! Caso contrário há muito que eu era cinzenta esverdeada, cor de vómito…( Coisa nojenta que acabei de escrever!)
    Beijinhos embrulhados para si! A pessoa “misteriosa” que escreve sobre sensualidade do modo mais bonito que li até hoje…
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    Querida Arisca, a Ana Rita tem que ler este seu comentário para perceber como há pessoas que sentiram o poema como ela, felizmente que não teve pela frente, como ela, uma caterva de adultos e de outras crianças totalmente incapazes de dominar o riso… Acabou por ser muito divertido!
    Beijinhos embrulhados para si!
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    Querido Carlos, somos “horrorosos”…. Uma família de pessoas que procuram sorrir à VIDA embora esta, mais vezes do que talvez devesse, prega-nos partidas…
    Não sei se, se perdeu uma boa jornalista, sei que ela adorou o curso e gostava do que fazia… mas a sua felicidade também passava por ser “mãe presente” e isso ela tem realizado. A parte artesanal era outra paixão … juntou o útil ao agradável!
    É preciso conseguirmos fazer aquilo de que gostamos e isso todos nós temos conseguido.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  10. Querida Adek é bom recordar não é? Recordou-me as Selecções, eu tenho mais de duzentas, fui durante duas décadas assinante, o meu pai já as comprava também. Vê também me fez recordar e deu-me um mote para um futuro post...
    Beijinhos embrulhados para si e bom estudo!

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  11. eu adorava o livro "flores para crianças"...:-)

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  12. Querida Chapéu e deixou de adorar? Não é mãe? Não pensa vir a ser?...Comecei a ficar cusca, são efeitos da quadra que atravessamos, a querer saber "coisas" de que as pessoas gostam...
    Beijinhos embrulhados para si!

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  13. :-) Só dá para rir (desculpem, mas é muito "a la Marco, que tinha uma Mãe, lá num porto italiano, mesmo ao pé das montanhas...") Acredite que consegui imaginar a cena, todinha! Obrigada por (mais) esta partilha, BEIJO DESEMBRULHADO (de riso!)

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  14. Querida Tela eu avisei que ainda hoje nos rimos e já lá vão 29 anos...
    Espere pela próxima revelação, mas essa a culpada é a minha filha que ma relembrou hoje.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  15. Tem toda a razão MARIA TERESA, nós, adultos, por vezes comportam-nos "muito mal"...rsrsrs
    O que vale é que as crianças nos perdoam.
    Beijinho
    G.J.

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  16. Querida S* se há! E eu felizmente tenho tantos, uns registados por escrito, outros em fotografias e outros ainda na memória.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  17. Querido Gaspar as crianças são o mel da vida, nós é que nem sempre o reconhecemos.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  18. Quase imaginei a cena e como não podia deixar de ser soltei uma gargalhada.
    Bjs

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  19. Querida Lilá(s), considere-se uma pessoa normalíssima! Já sabia isso, não é verdade?
    Beijinhos embrulhados para si!

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  20. Menina q poema fofo,adoreiiiiiiiiiiiiiiii.
    Uma linda noite.
    Bjssssssssssssssssssss

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  21. Querida Sereia, ainda bem que gostou do poema...
    Beijinhos embrulhados para si!

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  22. Querido Ergela, lá irei... Prometo! Obrigada!
    Beijinhos embrulhados para ti!

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