MAIS UM DIA

Acordei particularmente bem disposta! Trauteava uma canção de que muito gosto, logo eu que canto (?) tão mal, tão mal , que quando tentava cantar canções de embalar aos meus filhotes eles, quase instantaneamente, cerravam os olhos, fingindo que estavam profundamente adormecidos.

A minha educação musical foi muito deficiente, culturalmente tenho grandes falhas neste campo e tenho pena. Com os meus pais, principalmente com a mãe frequentei, enquanto solteira, o Teatro de São Carlos, a família do lado materno era amiga do director da altura, que punha à nossa disposição o seu camarote. Lá vi os grandes bailarinos da época, lá assiste a óperas bem conhecidas. Na minha caixinha de recordações ainda tenho programas desses tempos.

Sou uma "manienta", guardo coisas que me fazem recordar acontecimentos que me deram momentos de felicidade. Infelizmente o João não apreciava este tipo de espectáculos, no entanto não deixei de os frequentar, com os filhos passei a ir à Gulbenkian, tirava assinatura e íamos a vários tipos de espectáculos, principalmente dança. A Ana recorda muitas vezes o Fonseca Benevides, o seu corpo negro escultural tão másculo e tão leve. Vimos dançar a Olga Roriz. Bons tempos! Tempos serenos! Sensações que ninguém se pode apossar delas! Nos dias de hoje, tenho amigas que me convidam para frequentar eventos sociais semelhantes, principalmente no CCB, já tenho ido, no entanto, embora as adore, a sua presença constante começa a cansar-me. Pobre e mal agradecida? Talvez, sei que gostaria de ter outra companhia a meu lado, um novo amigo, um amante, um companheiro ou simplesmente um familiar.

Continuo a trautear a canção que assomou aos meus lábios assim que acordei, vou ouvi-la na voz rouca e sensual de quem lhe deu "vida".

É uma canção triste mas tal como o mar revolto me acalma o poema desta canção também me dá paz. Razões? Não sei! Há muito que ela tem este efeito sobre mim!