COM/SEM POSIÇÃO

No hall da minha casa de Lisboa tenho na parede um espelho centenário, cujos primeiros donos foram os meus bisavós maternos. Era costume na família que "construi" com o casamento, deixar preso entre ele e a sua moldura "recados". À revelia do meu filho mais velho, que não mete o nariz aqui, vou reproduzir um da autoria dele. Aqui vai:

? Abril de 1984

Olá! Há muito tempo que não te escrevia, pois não? Na realidade não tenho nada de importante para dizer mas não faz mal, pois não? Se calhar até te tinhas esquecido que eu existia, ou talvez não? Embora eu goste imenso de ir almoçar fora, com uma garota e de borla, vê lá se assinas um tratado de paz com o "velho" porque quem se lixa, passe a expressão, somos nós ( as criancinhas inocentes e ingénuas que, apenas agora, começam a conhecer o mundo terrível e horrendo lá de fora, é bonito, não é?). Pois bem, está quase na hora de me ir embora para o templo sagrado ( estragado!?) e de começar ( continuar!?) a estudar muito , para ter boas notas, para ser um menino bonito, para a avó dar beijinhos no ouvido ( que deixam uma pessoa surda!), para ser bem comportado e para entrar na faculdade, para ser Sr. Doutor. Espero que esta composição sem título ( porque se tivesse título já não era composição sem título, mas sim sem posição, aliás até é ao contrário, mas não faz mal, pois não? ) venha a figurar no teu livro em branco. Em nome de toda a equipa que produziu, realizou, escreveu, pensou, apresentou, corrigiu, leu, etc., etc., esta com/sem posição o nosso muito obrigada.
1 BEIIJU P**** M*****

Como me fez bem reler esta folha escrita com a letra do meu filho e colada no meu LIVRO EM BRANCO. Estas e muitas outras recordações são o suporte para continuar a AMAR A VIDA!

P.S. Ana não faças beicinho, também tenho missivas tuas que irei publicar ( a não ser que metas uma providência cautelar!?)