Num entardecer recente e ameno em que me dava ao luxo de deixar o pensamento correr sem rumo fixo, emergiram na minha mente as traquinices dos meus netos e "ouvi" a frase, actualmente, muitas vezes repetida: "todos são assim, nós já éramos assim".
Interroguei-me que mães fomos nós, avós de hoje? Na grande maioria nós, as avós actuais, com netos a entrar na puberdade, fomos mães nas décadas de sessenta e de setenta, na época em que pelo mundo fora surgiram os hippies, com a frase idiomática "Peace and Love" e que, por influência deles, as questões ambientais, a prática de nudismo, o não à guerra e a emancipação sexual tornaram-se ideias discutidas mais "às claras" e mundialmente.
Em Portugal este movimento expressou-se nas artes: música, pintura, arquitectura, moda, literatura,...Os textos reflectiam a revolta contra a guerra do Ultramar (iniciada em Angola em 1961), a ausência de liberdade de expressão, a pobreza e o analfabetismo.Dancámos ao som dos Beatles e dos Roling Stones. Fomos as primeiras a adoptarmos o planeamento familiar, a entrarmos "em força" no mercado de trabalho, a ganharmos autonomia , a traçarmos o nosso próprio caminho. Quase todas tivemos ou temos algum tipo de actividade profissional, ousámos questionar uma certa tradição da família e da escola, rejeitámos o modelo autoritário dos nossos pais sob o qual fomos criadas e começámos a aplicar uma disciplina baseada na compreensão dos problemas das crianças. Os nossos filhos deixaram de ser os bebés a quem se tinha apenas de mudar a fralda e de dar de comer com uma certa regularidade, passaram a ser compreendidos como seres com identidade própria, ou seja PESSOAS com direitos e com deveres, seres sensíveis e pensantes. Comigo e com as outras mães de "ontem" surgiu a necessidade de conciliar a vida familiar com a vida profissional, lutar no trabalho pela igualdade de direitos e por deitarmos "abaixo" a discriminação.
No pós 25 de Abril, com a democracia a permitir determinadas mudanças sociais, passámos a ter acesso a lugares de chefia e à presença activa em certas reuniões. Só que estas mudanças tiveram, por vezes, preços elevados, o divórcio subiu em flecha, houve que se buscar um novo equilíbrio e começaram a surgir novas formas de união nem sempre com sucesso.Tornámos possível aos nossos filhos a entrada mais facilitada nas escolas e na sociedade. O é "proibido proibir", foi defendido pela maioria das mães, nas quais me incluo, que educámos sem nos basearmos em grandes regras, muitas vezes sem normas pré-estabelecidas, mas com bastante sensibilidade e intuição, porque éramos mães em "mudança". De acordo com Edgar Morin fomos "os agentes secretos da modernidade". Em Portugal, o 25 de Abril, permite-nos dizer que fomos agentes não secretos, pelo contrário, bem visíveis.
Hoje quem somos? Acredito que posso afirmar: Somos OS GRANDES EDUCADORES DA ACTUALIDADE e aqui incluo, não apenas a avó mas também o avô
Olá Maria Teresa,
ResponderEliminarParabéns pelo seu blog! É caso para se dizer, "até que enfim..."
Felizmente há avós que mantendo o seu espírito jovem não confundem os papéis de mãe e avó. Espero que tal não me aconteça, se algum dia chegar a ser avô (não tenho pressa de lá chegar!)
Para já basta-me ser Tio!
Pois eu estou mortinha porser avó!!! E espero ser uma avó muito parecida com a minha...
ResponderEliminarTambém acho que ser avó deve ser mais fácil...é que ser mãe é tão dificil!!!
Olá Tio,
ResponderEliminarSempre gostei muito de escrever, e faço-o com muita frequência há muito tempo,sem grandes pretensões é certo, mas para consumo interno, testemunhos que daqui por alguns anos, espero que por bastantes, possam ser lidos pelos meus "herdeiros". Decidi dar o "meu" grito do Ipiranga e este é um dos resultados, sentindo-me ainda muito verde nestas "manipulações" .
Obrigada pelas suas palavras, espero que me visite muitas vezes, que consiga tirar a minha cara de palhaço do seu blogue ( eu não consegui) e que goste do que escrevo tal como eu gosto da sua escrita. Será sempre bem vindo!
Querida Guizo,
ResponderEliminarNão há receitas para se ser mãe, vou tentar falar nesse tema dentro de algum tempo.
Ser avó é FANTÁSTICO para mim, mas há casos, infelizmente, que não é bem assim.
Há avós que são "obrigadas" a serem "armazéns" de netos.
Obrigada pelo seu apoio, no fundo é madrinha desta cantinho.
Um beijinho embrulhado