Vi-o pela primeira vez em Outubro de 1973, bem destacado, encostado a uma parede da Sala de Exposições, do Palácio Valenças em Sintra. Foi amor à primeira vista, não o trouxe nesse dia para casa, porque quem o imaginou, pintou e o baptizou de "Inverno da Vida", o Mestre Domingos Saraiva (1908-1994), me pediu para o deixar lá mais uns dias, até ao fecho da exposição. Acedi mas um pouco contrariada.
O que me atraiu e o que me atrai nesta figura de velho?
Porque o coloquei em destaque, num espaço da minha casa a que, pomposamente, chamo o “meu” Jardim de Inverno?
O copo na mão que imagino cheio de aguardente, emborcada em movimentos ritmados ao longo de grande parte de uma vida, que se foi degradando com o passar dos anos, com o perder das forças, com o abandono a que foi votado, com a falta de amor… faz-me doer a alma!
O seu ar de derrotado, a barba mal cuidada e a falta de higiene… faz-me nascer um desejo imenso de querer cuidar dele!
Não vou permitir que mais ninguém o maltratre, quero que veja como gosto dele! Quero que sinta que é compreendido e que é amado! Sento-me no sofá azul, entre as plantas, num frente a frente, a olharmo-nos nos olhos, confesso-lhe os meus pensamentos, as minhas dores, as minhas lutas, as minhas conquistas, as minhas derrotas, as minhas alegrias, as minhas angústias, os meus sonhos, os meus momentos de felicidade, … olha-me com uns olhos onde ainda há alguns resíduos de compreensão e escuta-me,… devolve-me um olhar doce, pleno de cumplicidade ….
Nunca me repreendeu, nunca me aplaudiu, mas escuta-me atentamente. Ele é o único homem em quem confio, entre nós há uma enorme compreensão, sei que me vai sobreviver e que jamais revelará quem eu sou no meu todo, todo esse, até desconhecido para mim…
Texto publicado no âmbito do desafio VELHICE para Fábrica de Letras
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
O MEU VELHO
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:)) Se ele está com ar de derrotado, é de ainda não ter tido (afinal), quem cuidasse dele como prometido... continua com a barba por fazer e de copo na mão... será que também ele tem saudades de ver o amor lá por casa? Ou será que começou a beber, e a se descuidar de ciúmes?? Afinal, nós não vimos a tela antes de ir aí para casa... :))Agora a sério, parece-me um óptimo confidente, mas para quem gosta de ver uma barba bem aparada(só repito o que li algures!!), diga lá ao seu velho, que está na hora de fazer a barba! Beijinhos
ResponderEliminarAcima de tudo gabo o teu excelente bom gosto: é uma belíssima tela.
ResponderEliminarBeijinho.
Querida Eva tem sido bem cuidado, com uma excepção, as mãos "pesadas" da "nossa" Gracinda, o refector que o destaca está meio à banda e está por polir ... esses cuidados são da responsabilidade dela (caramba, também não posso fazer tudo:)))) Ele já não bebia antes da casa estar tão vazia... O copo nunca mais foi usado desde que o "amo". Pois... tem razão...a barba está um pouco descuidada...mas não cheira mal...:))))
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querido Pinguim eu não sei se tenho ou não bom gosto, mas sei que gosto muito desta tela, foi vista por poucos, até porque está num local onde nem todos os que me visitam entram, achei que talvez fosse interessante "exibi-la" a um público mais alargado e aflorar o nome de Domingos Saraiva que deixou muitas obras, inclusivamente, pelo mundo fora, mas que poucos conhecem.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
A mais das vezes o olhar foge de ver, oculta-se da vida, esconde-se da realidade!
ResponderEliminarNão foi o caso. Fixou-se nesta tela, levou-a e fez dela presença confidente, num jardim de afectos!
Confidente que escuta, em silêncio, e devolve um olhar doce e cúmplice!
Penso que, como o seu, o olhar do "Velho" se ergue para a vida, cada vez que lhe fala.
Caramba, Maria Teresa, que texto mais sensível e lindo!
Obrigado por o ter partilhado.
Parabéns à nossa Fábrica de Letras por poder contar com tal participação.
Abraço
Querido Carlos sinto-me muito honrada com as suas palavras, muito obrigada!
ResponderEliminarDá-me prazer partilhar o que sinto...E fico feliz por sentir o "retorno" dessa partilha
Beijinhos embrulhados para si!
Há na expressão do velho alguma coisa de tutelar. Foi uma escolha feliz, sem dúvida.
ResponderEliminarPS: Espero que já esteja totalmente aliviada dos males que a atormentaram durante o fsd.
Boa semana
Querido Carlos B.de Oliveira gostei dessa sua observação e interpretação, o "meu velho" precisa de ser protegido mas também protege.
ResponderEliminarObrigada, mas há ainda qualquer "coisa" que não está bem... continuo com dores.
Beijinhos embrulhados para si!
Bom gosto!
ResponderEliminarBonita tela!
Belissimo texto!
...
E do rescaldo do fds, espero que já não existam dores...
Bjs dos alpes, com muito muito carinho...
afinal com todo o teu amor e carinho conseguiste mudar a face derrotada desse velho...pena que nem sempre a realidade ofereça aos "velhos" da vida uma mão como a tua
ResponderEliminarum beijo
Querida Flor muito obrigada pelas suas gentis palavras o meu velho também agradece.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados de entre o "mar e a serra" para si!
PS Ainda não estou como gostava de estar! Acabei de chegar do dentista, o enxerto ósseo que me foi feito está a nos "conformes". Obrigada!
Querida Uminuto um dos meus grandes desejos é exactamente esse, que na vida do dia a dia, os nossos "velhos" sejam acarinhados, amados e "aproveitados", para serem nossos confidentes, eles são livros preciosos plenos de sabedoria de vida.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
Muito bonito, o quadro!
ResponderEliminarExcelente o texto, sobre o amigo de todos os dias :))
Beijinhos
Querida Nirvana o meu velho está muito feliz por saber que há tanta gente que gosta dele.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Lindo texto. É verdade a arte fica e nós vamos, estamos aqui só temporariamente. Gostei muito do teu texto, sinto que nele existem muitos sentimentos. Parabéns.
ResponderEliminarQuerida Olga também gostei muito do texto dedicado com muito amor à Avó Geminha...
ResponderEliminarObrigada pela visita, volta sempre, serás muito benvinda!
Beijinhos embrulhados para ti!
Querida Maria Teresa
ResponderEliminarMagnífico quadro que se completa nas tuas palavras cheias de magia. Na realidade a "obra" encontrou o seu sentido... mais profundo do que o que o próprio autor imaginou, certeza eu tenho.
O "Velho" andrajoso, olhar penetrante, de mil caminhos percorridos, atingiu o estatuto de sábio... da vida sabedor.
Adorei esta tua partilha.
Beijinhos.
Excelente tela acompanhado de belissimo texto! A arte quando se declara é universal e deleita quem a observa e a sabe apreciar, ou não!
ResponderEliminarQuando o homem padece, desloca a sua agonia: do coração transporta-a para o cérebro, e faz dela um poema, um quadro, um romance, uma obra qualquer de arte, quer dizer, de imaginação!
Beijinho
Minha querida,
ResponderEliminarQue texto tão bonito!
Eu não acho que tenha um ar andrajoso e derrotado. Parece-me é que conquistou o direito de deixar de se preocupar com os que os outros possam pensar, olhando para ele.
A Maria Teresa conhece-o bem melhor do que eu, mas foi essa a minha primeira impressão...
*Um beijinho grande!
Arrepiante! Muito emocionante esta visão!
ResponderEliminarMas eu vejo O Velho "de bem com a vida", retirado de um cenário boémio, de Severa... encontro-lhe a maturidade como um bem adquirido, de sabedoria e vivências! O Velho tem uma aura de poeta, de parisiense...Inspira-me confiança e transmite-me segurança! Desculpe a intromissão, é o "seu Velho"...Beijo grande
Querido Vicktor começo a não ter palavras para te agredecer. O meu velho fica certamente mais "rico".
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
Querido Renato que belas palavras as suas. Muito obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Arisca que feliz me sinto por ter gostado deste meu "desabafo".
ResponderEliminarE que bom ter conseguido ver o meu velho sob outro olhar, que não o meu... Obrigada!
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Tela o "nosso" velho até parece que "cresceu" e que sorriu, sorriu de felicidade por saber que há mais Alguém que o sabe apreciar e de um modo diferente, tão "enriquecedor", ele e eu agradecemos.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Maria Teresa;
ResponderEliminar(Passei aqui "como quem não quer a coisa", para vir receber o presente que me trouxe de Nova York! Rápido e s.f.f!!) :))
Beijinho grande* e abraço com o desejo de uma boa semana*
Querida Invisível, sua interesseira:):):). O Fifi não me deixou comprar lembrança nenhuma para si, ainda está muito zangado...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Também gosto do olhar do "teu velho".
ResponderEliminarMas o escutar, o saber escutar, o estar ali a olhar-te sempre... privilégio só teu, minha querida!
Abraço, apertadinho
Querida Magy desde que o dei a conhecer ele passou a ser o "nosso" velho, gosto da ideia de o partilhar...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
Ah fantástico Maria, fantástico.
ResponderEliminarUm dia tenho de escrever sobre o MEU menino que chora. :P
Querida S* faça isso sim... e vai ver como se sente bem em o fazer.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Ena, os quadros lá de casa têm muito para contar, primeiro o Ele e Ela, agora o Velho, qual o que se seguirá?
ResponderEliminarQuerida Ana Rita talvez esteja na altura de seres tu a propores um... Qual? Dá um palpite! Um de que gostes mesmo...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
Querida Teresa!
ResponderEliminarSe olhasse para "o meu velho" de certeza que não sentiria o que descreve, origada por nos fazer ver e sentir algo que por vezes nos escapa porque não estamos atentos a pequenos pormenores mas tão importantes!
jinhos:)
Um bonito texto, sem dúvida. Mas mais bonita é a ternura que nele deposita. A vontade de querer cuidar de alguém, que claramente o seu autor não cuidou, ao dar-lhe um semblante tão desprotegido e amargurado. Creio que este 'velho de barba mal feita' encontrou finalmente a sua paz.
ResponderEliminarBeijinho
Parece ser uma belissima obra, acho que o olhar dee também me atrai e é curioso como encontramos numa tela aquilo que é difícil na vida real!
ResponderEliminarBeijo
Querida Canhota todos temos uma sensibilidade própria... a Canhota vê certamente muitos pormenores que eu não consigo ver... e isso é excelente,marca a diferença e a complementaridade dos humanos.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Helga como completou tão bem, com palavras, o imaginário que esta imagem nos provoca...
ResponderEliminarObrigada pela sua visita, volte sempre, é benvinda!
Beijinhos embrulhados para si!
Querida Lilá(s)é uma questão de sensibilidade não concorda?
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Parabéns por este sublime post!
ResponderEliminarAdorei Adorei!
E desjo-lhe que a vida lhe sorria sempre com as mais desejadas felicidades
Abraço
AnjoAzul
E com poucas linhas, repletas de afecto e sensibilidade, nasceu um texto realmente bonito, realmente tocante.
ResponderEliminarQuerido Anjo muito obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Querida Cherry gentileza e sensibilidade revelam as suas palavras, muito obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para si!
Tu também (o "também" é porque tens companhia nisso) tens a "pancada" de falar com as coisas. "Atiras-te" ao velhote do quadro como se estivesses a falar com os botões...
ResponderEliminarComo te entendo! Eu até falo com minhocas ou outra coisa qualquer.
Não sei se é tara ou não. Mas que faz bem ao "esprito" acho que faz.
E como apanhas o velhote já um pouco "entornado" calculo os desabafos. :-)
Querido Carapau, confesso! Tenho mesmo pancada!Falo tantas vezes sozinha em voz alta, até mantenho diálogo... Será preocupante? Para mim não é!Desabafa-se sem se aborrecer ninguém...Mas gosto mais de falar com seres animados, isto incluí cães e gatos.
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!
Maria Teresa há homens reais em quem possas confiar, poucos mas há. Esta tua ideia de trazeres um velho pintado e lhe dares vida foi interessante. Cuidar de algo irreal como se fosse real acaba por ser uma fuga à realidade, que parece pouco te agradar. Todos temos essa fuga, todos nos agarramos a algo e tu agarraste-te ao velho que o Mestre Domingos Saraiva pintou, deste-lhe vida, protegeste-o e acabas por esperar o mesmo dele. A imaginação faz a ponte até à felicidade. Há que a pôr a funcionar.
ResponderEliminarQuerida Brown Eyes devo ter dado uma impressão errada sobre a confiança que deposito nos homens...:):):) No meu velho confio "totalmente", ele sabe mais sobre mim do que eu mesma sei...nos outros às vezes...
ResponderEliminarGostei imenso do teu comentário analisa bem uma "relação" possível de confiança entre o real e o imaginário.
Beijinhos embrulhados para ti!
PS-Penso que já nos "conhecemos" do Ervi