terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ELE E EU

Já falei de vários membros da minha família e só uma vez, muito de levezinho, o citei.
Ele! Aquele que recebeu como herança genética genes dos meus dadores.

Silhuetas recortadas em papel de lustro, executadas por uma mulher argentina, em Junho de 1964, na Feira Popular de Lisboa.


Que dizer do meu irmão? Difícil, muito difícil mesmo! Mas tenho o “dever” de o colocar em pé de igualdade com os outros, que também amo ou continuo a amar, que já fiz desfilar por aqui.
Nasceu prematuro a um sábado, lembro-me perfeitamente desse dia, ia fazer 6 anos um mês depois. É talvez a recordação mais antiga que tenho, há outras… mas estão envolvidas em neblina talvez por tantas vezes as ouvir contar.
Pesava um quilo, setecentos e cinquenta gramas ( tenho em meu poder a balança que o pesou) era pequenino, pequenino…mais pequeno que a minha boneca de celulose, nasceu “completo”, respirava por si, alimentava-se com o leite da nossa mãe mas não sabia sugar, o leite era dado por uma pequena colher de prata que ainda hoje existe.
Aos 7 anos, fisicamente parecia ter 4 mas, intelectualmente, tinha uma inteligência superior à media, isso fazia com que as pessoas que não nos conheciam bem o achassem um génio e diziam coisas como: “tão pequenino e fala tão bem!”, “tão pequenino e sabe tão bem escrever!”,” tão pequenino e tem um comportamento de criança mais velha!”… Tretas ele era “pequenino” mas era “velho”…
É esquerdino…felizmente nunca ninguém o tentou corrigir. Porque asim o quis, aprendeu a fazer determinados trabalhos com a mão direita.
A nível escolar conseguia passar de um teste classificado como mau, para um com 20 valores, bastava querer…
Em jovem adulto teve uma vida sem grandes sobressaltos, se tirarmos o ter sido obrigado a ir para Angola, como oficial miliciano perito em minas e armadilhas, combater numa guerra que não entendia.
Foi ferido (há males que vêm por bem), voltou para o Continente antes de terminar o tempo de serviço obrigatório e foi desmobilizado, mesmo assim esteve por lá mais de dois anos. Não fala do que por lá passou, não ficou com grandes traumas, como tantos outros rapazes da idade dele, conseguiu desligar-se desse tempo.
Somos muito diferentes no modo como encaramos a vida, eu sou a protectora, a diplomata, a mais responsável, ele em situações de injustiça ou de crise, é o tanque de combate que não olha por onde avança.
Amamo-nos, tal como se amam dois irmãos, que foram criados com a noção do respeito que devemos ter para com os outros. Nunca nos zangámos nem mesmo em crianças…mas ele era terrível, vencia a minha mãe e a minha avó pelo cansaço, era muito teimoso, nunca estava quieto, saía de uma traquinice para entrar noutra, mas não era hiperactivo.


Hoje é um homem enorme, grande mesmo, com barba e cabelos brancos e tal como eu, mas no masculino, já é avô! E o neto é-lhe muito semelhante na traquinice, é o novo "piolho eléctrico" da família...

32 comentários:

  1. Gostei imenso de ler este post, Teresa. Sabe que tenho uma silhueta assim feita na Feira Popular? Só que a minha foi feita por um homem e uns anitos mais tarde, mas ainda na década de 60.

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  2. Irmãos serão sempre especiais... Eu tenho pena de não ter irmãos mais novos, sou a caçula da família, mas em compensação tenho 7 maravilhosos irmãos mais velhos...

    Bjokas

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  3. Lindo, o sentimento! Há sentimentos que só o "sangue" explica certo?
    Beijinho

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  4. Querido Carlos os fabulosos anos 60, esta década foi o epicentro de toda a minha vida....
    Beijinhos embrulhados para si!

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  5. Querida Anira que "inveja"...como gostava de ter tido muitos irmãos!
    Beijinhos embrulhados para si!

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  6. Querida Autora certíssimo! Neste tipo de ligação há "qualquer coisa" que supera os defeitos e as imperfeições, a dor e o sofrimento não está ausente...
    Beijinhos embrulhados para si!

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  7. Sempre quis ter um irmão, mas aqui em casa somos tres mulheres. Em compensação tive dois filhos e passei a entender o universo masculino, que é tão diferente do nosso.

    Beijos e.. vai um calorzinho aí???

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  8. Querida Pitanga, digam o que disserem...mas é mesmo diferente!
    Venha o calorzinho será recebido com pompa e circunstância:):):)
    Beijinhos embrulhados para ti!

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  9. Que bela descrição amiga, falar assim com tanto afeto em detalhes, o amor fraterno, tenho um irmão também tão doce, e quatro filhos todos homens na verdade me são uns amores. Amei seu post amiga, por demais. bom dia e beijinhos carinhosos para ti e toda a família.

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  10. Querida Roseli muito obrigada pela ternura que colocas nas tuas palavras...
    Beijinhos embrulhados para ti e para os teus "homens"!

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  11. Querida Maria Teresa,

    Senti ao ler suas palavras a enorme ternura e amor que têm ao seu irmão.
    È lindo um sentimento assim como o vosso.
    Eu tambem tenho um que nasceu 10 anos depois de mim e lembro de todos os premenores de seu nascimento e crescimento em que a maior parte das vezes fui uma segubda mãe dele.Somos tão diferentes um do outro,oposto eu diria.mas do mesmo sangue e para sempre unidos como dois lindos irmãos.

    Bjinho cheio de luar

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  12. Foi tão bom ler este post :)
    Bjs
    Ana Marreiros

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  13. Querida Moonlight com a idade vamos pensando mais no passado (quando ele foi bom, caso contrário é melhor esquecê-lo), eu faço-o com um sorriso nos lábios e muitas vezes telefono ao meu irmão para relembrarmos "patetices"...
    Beijinhos embrulhados para si!

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  14. Caríssima Maria Teresa:
    Fartei-me de rir ao ler o post sobre o teu irmão. Dele ressalta a ternura que tiveste/tens por ele. A piada é que, sem querer, por certo,
    :-) ao descrevê-lo exaltaste-te a ti. Foi de Mestra. Ele foi prematura, pequenino, canhoto, não sabia sugar o leite materno,era eléctrico, etc, etc. Isto tudo para se subentender que tu eras/és o contrário. Pois se até a tua boneca era "melhor" que ele!!!
    Ás vezes dou graças por não ter tido nenhuma irmã, mas somento dois carapaus, que nunca seriam capazes de traçar de mim o retrato que fazes do mano. Claro que na parte final ainda emendaste um pouco a mão, mas já foi tarde.
    :-)
    Como não sou teu irmão tens direito ao beijo do costume :-)

    PS: deixei no post anterior um comentário tardio, por motivos de força maior.

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  15. Querida Ana que bom vê-la por aqui...mais uma excelente fotógrafa que por aqui passa!
    Sinto-me recompensada quando alguém diz que foi bom ter lido o que escrevi!
    Beijinhos embrulhados para si!

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  16. Querido Carapau eu não disse que a minha boneca era melhor que o meu irmão...disse que era maior!Ele é mais inteligente do que eu, fica sabendo, mas não aproveita, sonha ... deixa-se levar por sonhos que à partida são utópicos.
    Ele é um preguiçoso não lê o meu blogue, embora saiba que existe, mas este tem que ler (nem que o segure por uma orelha) e "ver" o teu comentário. Ele mima-me fica sabendo... tu tens é inveja de não ter uma mana como eu!E a inveja é uma coisa muito feia:):):)
    Beijinhos embrulhados para ti (nos óperculos e repenicados para ficares surdo momentaneamente)!

    Vi o outro comentário, é uma das vantagens da moderação.
    Espero que a força maior não seja nada de grave

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  17. Belas recordações, essas!
    E amas o teu irmão, sem dúvida, e ele que paga da mesma moeda.
    Beijinho SEM embrulho.
    (Desta vez para os dois).

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  18. Querida Teresa quando, por vezes, ouso lamber feridas faço vir ao consciente a felicidade de ter tido e continuado a ter a "minha" família genética e a "família" com que fui enriquecendo (aqui incluo os amigos).
    Beijinhos embrulhados para ti!
    Os teus serão entregues e devidamente apreciados.

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  19. Os irmãos são especiais ainda bem que existem nas nossas vidas, todos diferentes mas também todos iguais.
    Bjs

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  20. Querida Lilá(s)isso mesmo ... não gostaria nada de ser filha única, mas também gostava muito de ter tido mais irmãos.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  21. Os irmão são os nossos outros sustentáculos nesta vida... eu tenho mais 3 irmãs e sou a mais velha, mas não muito mais. Adoro-as e morremos de saudades umas das outras, uma vez que vivem na Ilha da Madeira e eu por cá. Sinto tanto a falta delas que por vezes pereço perdida. Já me tenho perguntado, como é que uma mulher adulta como eu ainda sente estas ligações como quando eramos crianças?
    Nunca pensei sentir tanto a sua falta...agora vejo a boa relação que sempre tivemos!
    bjs
    PS: o seu post deixou-me com saudades delas, mas a boa nova é que na próxima sena a esta hora estaremos juntas...

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  22. Sabe-me bem encontrar quem escreva sobre um irmão com tanta ternura e carinho.
    Também tenho um irmão, que resolveu nascer seis anos antes de mim. Foi sempre irrequieto, mandão e chato! Tinha a mania de que a idade é um posto, e já se está a ver o que quero dizer com isto...
    Tanto caturrámos que nos desencontramos. O reencontro aconteceu já ambos éramos pais. Hoje sou avô e ele bisavô! Ora tomas!
    A vida pôs-nos a viver em cidades distantes, mas sempre que nos encontramos há um abraço de corações encostados, que rejubilam. Então, digo-lhe baixinho ao ouvido: tás velho, meu!
    E ele responde com um sorriso de carinho: pois estou, mas parei à tua espera.
    Abraço

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  23. Querida CF muito obrigada pelo seu testemunho ...é alguém que compreende muito bem este tipo de ligação!
    Boa "matança de saudades":):):)
    Beijinhos embrulhados para si!

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  24. Querido Carlos sorri ao ler o seu testemunho e vou dizer-lhe porquê. O meu irmão costuma dizer:"menina estás velha!" e eu respondo: "e tu que és "mais velho" do que eu, como estás?"
    Outras vezes afirmo que somos gémeos quando ele me apresenta a alguém que não conheço.
    Ele é a única pessoa que me trata por um diminutivo (que não vou revelar...) nunca permiti que mais ninguém me tratasse assim, nem os meus pais o fizeram.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  25. Boa noite, Maria Teresa ))

    Ler o seu relato tão sentido avivou a minha 'tristeza' por ser filho único. Gostava tanto de ter tido um irmão...

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  26. é sempre bom recordar a nossa família . tu e eu vivemos na recordação e, n saudade na memoria
    ainda bem dou graças a deus por ser assim e por encontrar outros como eu que vêm na família os alicerces e o porto de abrigo durante as tempestades

    kis .=)

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  27. É realmente curioso que, aqui na blogosfera, quem não tem problemas em falar da família, fala geralmente dos Pais, Avós e principalmente dos filhos; é normal.
    Raro, muito raro mesmo, falar de irmãos. E no entanto, todos nós temos uma relação muito próxima com os nossos irmãos e que assenta no facto de sermos do "mesmo sangue".
    Há casos de grande afectividade entre irmãos, como também é vulgar encontrar incompatibilidades enormes.
    Quando há vários irmãos, é mais difícil que haja consenso e paz entre todos eles, mas são situações que quase nunca são definitivas. Alguns choques tendem a atenuar-se com um primeiro passo dado na direcção do outro.
    Falei no meu blog de uma minha irmã, a única mais velha, uma vez: fez ontem dois anos, na postagem de 16/2/2009 e por um motivo terrível - a sua morte. A morte de um irmão afecta-nos muito mais do que pensamos. Agora somos quatro, e também muito recentemente tive o prazer de "encurtar distâncias" com o meu único irmão, nove anos mais novo que eu.
    É bonita a homenagem que deixas aqui ao teu irmão, que segundo sei será o único que tens.

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  28. Querido Salvador como já disse teria muita pena se tivesse sido filha única, seria pior se tivessa vários irmãos e não me "desse" com eles, um facto que acontece com bastante fequência.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  29. Querida Avogi considero uma bênção a tua e a minha relação com as respectivas famílias.
    Mas não temos famílias perfeitas pois não? Ainda bem! Seria cá uma monotonia:):):)
    Beijinhos embrulhados para ti!

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  30. Querido Pinguim os irmãos "têm pedacinhos" de nós. Infelizmente nem sempre o amor reina entre eles, por motivos muito diferenciados chega a haver "Caim e Abel".
    Sei como ainda hoje sentes a "partida" antecipada da tua irmã...esse "sentir" espero nunca o provar!
    Beijinhos embrulhados para ti!

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  31. Muito bom guardar assim as recordações, melhor ainda esse amor que os une. Beijinhos.

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  32. Querida Olga penso que entre si e a sua irmã, também há um "laço" enorme...
    Beijinhos embrulhados para si!

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