Pensam que o preguiçoso do Sancho Pança levou a carta a D. Dulcineia? Não, fingiu que sim o malandro e mais, engendrou uma resposta.
Mas, um dia D. Quixote, num daqueles seus ataques de frutuosa imaginação decidiu ir até ao lugarejo onde vivia a sua amada.
(…)
Mas, um dia D. Quixote, num daqueles seus ataques de frutuosa imaginação decidiu ir até ao lugarejo onde vivia a sua amada.
(…)
-A noite está quase a chegar, antes de começar uma nova aventura tenho que pedir licença e a bênção a Dulcineia.
-Deve ser difícil conseguir vê-la e muito menos receber uma bênção, só se for pelas frestas do curral.
- Deves estar louco! Pelas frestas de um curral? Foi certamente na varanda do seu palácio real que a viste.
-Talvez! Talvez! A mim pareceu-me uma fresta! Quando eu vi D. Dulcineia o sol estava encoberto e ela devia estar a peneirar o trigo, o pó levantado, como uma nuvem, também lhe tapava o rosto…
-És um idiota! Como pode uma senhora estar a fazer trabalho de uma assalariada?
-Deve ser difícil conseguir vê-la e muito menos receber uma bênção, só se for pelas frestas do curral.
- Deves estar louco! Pelas frestas de um curral? Foi certamente na varanda do seu palácio real que a viste.
-Talvez! Talvez! A mim pareceu-me uma fresta! Quando eu vi D. Dulcineia o sol estava encoberto e ela devia estar a peneirar o trigo, o pó levantado, como uma nuvem, também lhe tapava o rosto…
-És um idiota! Como pode uma senhora estar a fazer trabalho de uma assalariada?
E a conversa derivou para outros assuntos a contento de Sancho.
Finalmente chegaram a Toboso, Sancho Pança, que a toda as horas levava pancada por causa das diatribes do seu amo, ficou aterrorizado, não fazia a mínima ideia onde morava D. Dulcineia…
-Sancho leva-me até ao palácio da minha amada!
-Não posso! A casa onde a vi era pequeníssima!
-Então era porque estava a descansar a sós, como é costume as princesas e as grandes damas fazerem.
-É muito tarde não devemos incomodar ninguém.
-Vamos até ao palácio, depois logo se vê! Repara naquela enorme sombra, deve ser ali!
-Está bem! Vamos então até lá mas guie-me o senhor meu amo que eu não vejo nada!
-Mas isto é a torre de uma igreja!
-Agora me lembro que a casa dessa senhora fica num beco sem saída.
-És um mentecapto! Onde é que viste que os paços reais ficam em becos sem saída?
-“Cada terra com seu uso”! Eu vou procurar por essas vielas e travessas e talvez encontre esse palácio de uma figa.
-Fala com respeito Sancho quando te referes à minha amada!
- Como é que quer que eu faça, encontrar a casa à meia-noite, se só a vi uma vez e Vossa Mercê milhares de vezes?
-Olha lá herege! Não te tenho dito todos os dias da minha vida, mil vezes por dia, que nunca vi Dulcineia, que nunca frequentei o seu palácio e que estou apaixonado apenas por aquilo que ouvi dela.
- Fiquei agora a sabê-lo! Se nunca a viu, eu ainda menos…
-NÃO PODE SER! Disseste-me que a viste peneirando o trigo e trouxeste-me a resposta à carta que por ti enviei.
- Não quebre a cabeça com isso! Sei tanto quem é D. Dulcineia como sei dar murros no céu!
(…)
A cidade de Toboso está totalmente recuperada e virada para o turismo, nela encontra-se A Casa da Dulcineia, um palácio construído no século XVI mobilado com móveis e artefactos da época. Numa zona deste palácio existe um Museu Quixotesco-Manchego, onde se podem observar algumas edições raras do romance de que tenho “andado” a falar. Algumas ruas e vielas, marcadas como sendo o imaginário percurso de D. Quixote, quando visitou Toboso, têm nomes referentes aos protagonistas do romance e algumas palavras e ditos extraídos do diálogo “aldrabado” que acima transcrevi.
Nota:
As fotografias que ilustram este texto, foram tiradas por mim, logo… é proibido dizer mal delas :):):)
Nota:
As fotografias que ilustram este texto, foram tiradas por mim, logo… é proibido dizer mal delas :):):)
Bom dia
ResponderEliminarUm texto muito saboroso para acompanhar o café da manhã.
Um diálogo aberto e franco entre o senhor e o seu criado. Coisas de amor que um senhor nunca dividiria com um criado, porem fazem parte dessa história encantadora que nos maravilha com uma leitura muito agradável.
Continuação de uma boa semana.
Olá Maria Teresa,
ResponderEliminarEntrei de mansinho, e...voltei a sair, pensando que me tinha enganado na entrada deste castelo de beijos embrulhados...gostei deste ar paradisiaco...sabor a verão!
Li todos os posts anteriores, belos passeios sim Sra! Bonitas fotos!
Passo também para agradecer as suas palavras de força carinho, apoio e amizade que encontrei no meu cantinho quando regressei...Bem-haja Maria Teresa!
Bjs dos Alpes
Ando deliciado a beber as suas palavras quixotescas...
ResponderEliminarQuerido Luís este senhor é um "ser muito especial" tenho-me divertido a relembrá-lo, a relê-lo e a "modernizar" as suas palavras. Não é por acaso que este romance de Cervantes está incluído nos Grandes Clássicos da Literatura Universal.
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Querida Flor primeiro que nada já está de volta e penso que recuperada, isso é excelente!
ResponderEliminarEste "nosso" cantinho deixou de estar com as cores que me aquecem no Inverno e passou a ter as cores que me acalmam no Verão...
Tenho viajado sim mas menos do que é costume, no entanto passei a ter menos tempo para estar ao computador, porque o ar livre tem sobre mim um enorme poder.
Espero que continue a partilhar connosco a sua belíssima veia poética.
Beijinhos sem embrulho para si!
Querido Disse, ao escrever o que escreveu, acirrou ainda mais o "ódio" que Cervantes começou a ter por mim, mais dia, menos dia, tenho um processo às costas, o que me vale é que a morosidade (infelizmente para o país) da nossa justiça é enorme...
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Bons passeios e boas incursões aos domínios quixotescos...
ResponderEliminartoboso merece ser estudada...
1 bj
Querido Rouxinol penso que esta "rota" foi muito agradável e produtiva. Para além das paisagens muito bonitas por onde passei para ver os diferentes locais que motivaram Cervantes, campos a perder de vista muito bem tratados com searas, oliveiras, vinhedos,... e as serras a enquadrarem-nas, em destaque a Serra Morena, as lagunas,...há uma riqueza histórica (não ficcionada)associada à parte romântica da obra. Toda a zona manchega é digna de ser visitada e apreciada.
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Este Sancho é um porreiraço, mas é ao mesmo tempo um "aldras"de primeira. Até me faz lembrar alguém...de que agora não me estou a lembrar do nome.
ResponderEliminarSuponho que ao tirares as fotografias estavas tão emocionada que tremias como varas verdes. Só assim se entende que na 3ª foto as palavras tenham ficado a dobrar...
:-)
Querido Carapau eu lembrei-me do nome de um filósofo mas possivelmente estou enganada:):):)
ResponderEliminarEu sou má a tirar fotografias mas não tanto como estás a insinuar, a "dobragem" das letras são a sombra, aquilo que falta à minha palmeira :):):)
Beijinhos sem embrulho para ti!
Está a fazer um ano também andei por ali, claro que as minhas fotografias não chegam aos calcanhares destas rsrsrsr.
ResponderEliminarGostei de relembrar uns dias bem passados e a história está o máximo!
Beijos
Querida Lilá(s) é um passeio muito agradável não é? Eu sou uma nódoa a tirar fotografias, levo a máquina e esqueço-me de ir clicando. Gostei imenso de tudo o que vi...
ResponderEliminarHá menos de uma hora pensei em si, estive a tirar uma fotografia aos ninhos de que falei no comentário que lhe fiz, penso vir a escrever um texto sobre "ninhos".
Beijinhos sem embrulho para si!
Querida Maria Teresa, que passeios deliciosos estes que serve, fiquei com imensa curiosidade de descobrir esses lugares encantos e repletos de muitas histórias.
ResponderEliminarMuitas saudades!!
Abraço grande e muito apertado
Com carinho
Sairaf
Querida Sairaf é uma "volta" muito atractiva, além da beleza natural dos lugares, há a parte histórica e esta história de aventuras e desventuras de um cavaleiro romântico e muito sonhador...
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Devias ter levado a tua fotógrafa particular!!! :) Esses dois são uns personagens muito cómicos! Beijinhos à D. Quixote!
ResponderEliminarQuerida Ana Rita a minha fotógrafa particular fica desde já convidada para seguir viagem comigo, pago todas as despesas!
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para ti!
Ah!Ah!Ah! é isso mesmo. O filósofo...
ResponderEliminarEntão está desvendado o mistério da palmeira sem sombra. Fugiu (ela, a sombra) para El Toboso.
Hoje nem nas nossas sombras podemos confiar quanto mais na das palmeiras...
Querido Carapau, não é que tens toda a razão...
ResponderEliminarBeijinhos embrulhados para ti!