Bem acomodada num veículo que não precisava de conduzir, logo pela manhã, percorri o campo de Montiel. Fui admirando os campos dourados a perder de vista, salpicados por pinceladas de vermelho. Esta espantosa paisagem fez com que, a pouco e pouco, a minha mente se deixasse invadir pelas palavras de Cervantes quando a descrevia exactamente do mesmo modo como os meus olhos a “reconheciam”!
Inesperadamente, D. Quixote esguio montado no seu Rocinante e de lança na mão direita, seguido pelo seu fiel servo Sancho Pança, montado num burro, surgiram um pouco mais à frente no meu trajecto, em amena cavaqueira (o amena é uma “boa vontade” minha, as suas conversas nunca tinham nada de amenas e acabavam sempre mal, para o desgraçado Sancho). Ao longe avistámos (eu e eles) vários moinhos de vento, cujas velas são bem diferentes das dos nossos como podem observar na foto.
Escutei então o seguinte diálogo:
-Olha Sancho! Vês aqueles atrevidos gigantes? Vou travar uma dura batalha com eles… mas vou vencê-los!
-Quais gigantes? Qual carapuça! Aquilo são moinhos de vento!
-Moinhos de vento! Enlouqueceste! São gigantes com uns braços enormes.
-São agora braços! São as velas que por acção do vento fazem trabalhar as mós.
-És um ignorante, não percebes nada de aventuras de cavaleiros. Estás é cheio de medo. Reza enquanto eu me vou atirar a eles e travar uma batalha desigual e sem igual.
Inesperadamente, D. Quixote esguio montado no seu Rocinante e de lança na mão direita, seguido pelo seu fiel servo Sancho Pança, montado num burro, surgiram um pouco mais à frente no meu trajecto, em amena cavaqueira (o amena é uma “boa vontade” minha, as suas conversas nunca tinham nada de amenas e acabavam sempre mal, para o desgraçado Sancho). Ao longe avistámos (eu e eles) vários moinhos de vento, cujas velas são bem diferentes das dos nossos como podem observar na foto.
Escutei então o seguinte diálogo:
-Olha Sancho! Vês aqueles atrevidos gigantes? Vou travar uma dura batalha com eles… mas vou vencê-los!
-Quais gigantes? Qual carapuça! Aquilo são moinhos de vento!
-Moinhos de vento! Enlouqueceste! São gigantes com uns braços enormes.
-São agora braços! São as velas que por acção do vento fazem trabalhar as mós.
-És um ignorante, não percebes nada de aventuras de cavaleiros. Estás é cheio de medo. Reza enquanto eu me vou atirar a eles e travar uma batalha desigual e sem igual.
E não é que observo este “sonhador”um pouco lunático (deveria ter dito muito?) a investir garbosamente de lança em riste, esporeando o desgraçado do Rocinante, contra um dos moinhos!
E gritava: Não fujam cobardes, sou apenas um cavaleiro que vos desafia!
Eis senão quando um sopro de vento mais forte fez mover as velas e D. Quixote berrou mais alto ainda:
-O vosso mover de braços não me mete medo, nada me faz desistir!
Solicitando como que numa prece a protecção de D. Dulcineia, lá se atirou ele contra uma vela.
A lança ficou em pedaços, Rocinante de patas para cima, D. Quixote voou e aterrou perto de Sancho. Este não sabia o que fazer, só berrava admoestando o amo. Eu mantive-me muda e queda, sabia o desfecho da história.
D. Quixote não perdeu a dignidade, embora estivesse todo “desencaixado” e disse:
-Pára de berrar Sancho! Na guerra há muitas mudanças e eu acredito que os gigantes se transformaram em moinhos, para me roubarem o prazer e a glória de os vencer.
O Rocinante um pouco desasado também se recompôs, o dono montou-o e todos partiram deste Campo de Criptana em direcção a Porto Lápice… continuando na sua eterna conversa…que já não ouvi.
Fiquei a vê-los a ficarem cada vez mais pequenos e foi observar os “gigantes” já transformados em moinhos.
Nota:
*Os campos dourados são searas imensas muito bem tratadas e a ocuparem uma enorme extensão.
* As pinceladas vermelhas são papoilas que existem em grande quantidade no meio das searas.
* Fico à espera que Cervantes não me venha “inquietar” durante a noite por ter posto frases tão “feias” na boca dos seus heróis, quando ele as descreve numa linguagem tão requintada e rebuscada, própria do século em que viveu.
* Desafio a quem leu este meu texto, a tentarem ler o original para se deliciarem com a riqueza das imagens que o encadear das suas palavras nos transmite.
Maria Teresa,
ResponderEliminarEu li já há algum tempo e adorei.
E deixe-me que lhe diga que, essa do "Rocinante de patas para cima", não fica nada atrás do original ;) lol
Gostei muito
Querida Mariana eu gosto imenso de reler os "diálogos" entre os dois e as cenas de uma criatividade fantástica "vividas" por D. Quixote...A cena da sua investidura quando decidiu ser armado cavaleiro...
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Ai!!! Que lindo, que palavras tão belas, estou a solar com tão bela descrição.
ResponderEliminarAbraço muito apertado
Com carinho
Sairaf :)
Espero por ti, porque vais escrever mais sobre o assunto por isso nao leio. prefiro ler-te a ti do que Cervantes kis :)
ResponderEliminarJá tinha saudades de comentar o blog:P Mas saiba sempre que não falho nas visitas, mesmo que não consiga comentar sempre que cá venho lê-la! Beijinho grande, Maria Teresa!*
ResponderEliminarOlá, belos diálogos...Espectacular....
ResponderEliminarBeijos
Vou continuar a seguir viaem atentamente.
ResponderEliminarQuerida Sairaf belas são as palavras registada pela pena de Cervantes, eu alinhavei e debitei palavras da actualidade.
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Querida Avogi se o Cervantes te ouve ainda te "assombra"...
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para ti!
Querida Adek, está quase o "grande passo"... Sinto-me honrada por me ler!Obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Querido Fernando, parece-me que sou pobre e mal agradecida, belos são os diálogos de Cervantes...
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Querido Carlos,já fez esta rota e gostou, não é verdade?
ResponderEliminarLembra-se da paisagem extraordinariamente cuidada?
Beijinhos sem embrulho para si!
Não conheço a história escrita por Cervantes, mas gostei bastante da sua versão :)
ResponderEliminarBeijinhos*
Querida D* está na altura de a conhecer.:):):) É um clássico da Literatura Universal...
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
O que eu aprendo aqui!!!
ResponderEliminarEntão o esquelético Rocinante afinal era, qual Pégaso, um cavalo com asas?
Pois se ele ficou "desasado"...
Continuo na minha: deves ter tomado por lá qualquer coisa que se transtornou!
:-)
tenho o D. Quixote em lista de espera... assim vou-me familiarizando com a história!
ResponderEliminarBjokas!
Adorei o blog. Voltarei com mais tempo para ler mais ;)
ResponderEliminarQiuerido Carapau, isso querias tu saber...Mas eu não quero dizer...E esta hein?:):):)
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para ti!
Querida Anira a leitura desta obra é boa para as longas noites de Inverno...bem aconchegadinha!
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Querida Matilda espero que tenha gostado mesmo...
ResponderEliminarVolte quando puder e quiser, será muito bem recebida!
Beijinhos sem embrulho para si!
Otimo maria teresa
ResponderEliminarVoce me leva pra dentro do livro de Cervantes e me faz participar do dialódo de D Quixote com seu Sancho e de modo muito mais verossímel.
Está bom demais
Adorei, quero mais rs
Olá Maria Teresa
ResponderEliminarMais um excelente texto sobre a imortal história de Cervantes.
Obrigado pela visita.
O que eu quiz dizer é que se a amiga ou qualquer outro amigo vier até Barcelos para a exposição, terei o maior gosto caso possa, de estar por lá, ou agendar uma viagem conjunta até lá.
Quanto ao resto, o que eu queria dizer é que, estou a ficar um pouco mais livre para visitar os blogueiros amigos.
Beijinho
G.J.
Querido Gaspar estou a pensar dar uma saltada até Barcelos sim e possivelmente para a semana, o meu filho ficou de "estudar" a maneira mais cómoda de eu o fazer. Depois digo-lhe por mail. Obrigada!
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Não conheço o original (já sei, já sei, tenho-o à minha disposição!) mas a cena descrita por ti não podia estar melhor! Só de imaginar, fartei-me de rir! Adoro moinhos e tu troxeste-me um igualzinho a um desses!!! Eh, eh, eh! :)
ResponderEliminarQuerida Ana Rita, todas estas cenas são muito mais completas...
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para ti!
Querida Lis mais verosímel para a época actual, se D.Quixote (Cervantes) o lesse agora, possivelmente não percebia nada!.
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!
Que o Cervantes e tu própria me desculpem, mas de repente pareceu-me estar a ver uma animação do Mr. Magoo...
ResponderEliminarQuerido Pinguim fizeste-me rir Lol. Não tens que pedir desculpa:):):) a comparação está perfeita, mas precisa de se acrescentar que "ele" era Mr. Maggoo no "cérebro", não nos "olhos".:):):)
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para ti!
Gostei muito! Gosto muito desta história, mas infelizmente nunca li o original. Beijinhos.
ResponderEliminarQuerida Olga o original é muitíssimo bom, mas é um pouco difícil de ler de uma assentada, é muito longo e com vocabulário que tem a ver com a época em que foi escrito. A obra que possuo tem 952 páginas...O que escrevi foi uma interpretação à "minha maneira", coloquei neste post "a acção" mas muito incompleta.
ResponderEliminarNeste momento estou a relê-lo mas devagarinho...
Beijinhos sem embrulho para si!
Que grande aventura, lol.
ResponderEliminarUma viagem de sonhos.
patty
Querida Patty foi uma boa opção de viagem! Viagem em tempo real por um "mundo" ficcionado.
ResponderEliminarBeijinhos sem embrulho para si!