terça-feira, 16 de novembro de 2010

NUM DIA DE OUTONO

O Outono já comemorou a maioridade mas o dia está solarengo, à sombra sente-se um fio de frio. Ela adora o sol e pensa que o deve aproveitar enquanto os dias verdadeiramente cinzentos não se instalam.Vai buscar uma espreguiçadeira à arrecadação e verifica que a porta desta já não está a fechar bem, situação que se repete todos os anos por esta época, a madeira tal como os ossos das pessoas menos jovens como ela, ressentem-se com o descer das temperaturas.
Dirige-se para o fundo do jardim, local onde a vegetação rareia um pouco, ela gosta daquilo a que chama “jardins selvagens”, jardins com vegetação luxuriante, matizado pelas mãos da Natureza, não aprecia os demasiado bem tratados, aqueles em que o homem corta, apara, altera a direcção do crescimento natural, jardins planeados ao pormenor, simétricos…

Coloca a cadeira num local onde os raios solares ainda a vão poder acariciar durante umas duas horas, senta-se e dá continuidade à leitura do romance que anda a ler aos pedacinhos já há dois dias, não que o enredo não lhe interesse, mas porque se tem deixado perder em pensamentos plenos de saudade. Há mais de um mês que Ele não a visita, um longo mês em que não se viram, não se tocaram… Ela até compreende que tem que ser assim, ambos tinham uma vida já construída há que arrumá-la, aparar fios soltos, dar uns nós, desatar outros.

A leitura pouco avança, está distraída! Decidida marca a página e fecha o livro, coloca-o no colo, simultânea e deliberadamente cerra os olhos e acaba por dormitar a re-sonhar com momentos de felicidade que sentiu a dois.
Uma sensação indefinida fá-la despertar, não é sonho, sabe que está bem acordada! Ele está lá, parado no início do carreirinho que lhe dá acesso, olhando-a com a ternura que lhe é habitual, com os olhos e os lábios sorrindo. Ela não se mexe embora todo o seu ser queira que se erga, que corra, que os braços lhe envolvam o pescoço e as pernas lhe cinjam a cintura, não o faz porque tal tornou-se impossível, a sua agilidade física já não o permite. Enquanto ele lentamente se vai aproximando tal impulso deixa de fazer sentido, deixa de ser importante. Nenhum deles fala mas Ela percebe, sabe ler o silêncio, mesmo sem palavras sente que ele vem para ficar, desta vez, para sempre. ..
Ele estende-lhe a mão, ajuda-a a levanter-se, o livro cai mas isso não os perturba, puxa-a para si e enlaçam-se num amplexo apertado, ao fim de uns momentos, que pareceram séculos, as suas bocas encontram-se…

35 comentários:

  1. Adorei, como sempre! Não tenho deixado a minha marquinha por aqui, mas sabe que de alguma forma ando sempre por aqui sem perder pitada... COMO SEMPRE!:D*

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  2. Maria Teresa, olá como vai?
    Pareceu-me tão real, este reencontro...
    Espero que tenha acontecido, mesmo!
    Beijinhos :)

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  3. Querida Adek eu ando presentemente com muito menos tempo mas lá vou equilibrando as "coisas", nem sempre consigo passar por todos os blogues.
    Como está a decorrer tudo? Creio que sobre rodas bem oleadas...
    Beijinhos embrulhados para si!

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  4. Querida Papoila um sonho muito desejado!
    Beijinhos embrulhados para si!

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  5. Querida Manuela pois...
    Beijinhos embrulhados para si!

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  6. Obrigado MARIA TERESA per mais estes extraordinários escritos.
    Obrigado também por nos recordar TRISTÃO DA SILVA.
    Não minha cara amiga, a foto não foi elaborada, aliás nunca o faço!
    A indumentária da senhora em questão tem a ver com uma sessão de usos e costumes antigos que estava a acontecer perto do local onde eu lanchava.
    Só tive tempo de correr à porta do café e disparar uma única foto.
    A vida de um fotógrafo é também feita de acasos.
    Bjs
    G.J.

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  7. Este reencontro é daqueles que nos deixam a suspirar.
    Bjocas

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  8. Olá Maria Teresa,
    Quando a ficção dos livros que nem por isso nos prendem, quando os sonhos mesmo os que sonhamos de olhos abertos, nos fazem querer...Um querer sonhar os enredos dos livros sem sonhos na realidade Outunal...
    Também aproveito cada réstia de sol...
    Adorei ler!

    Bjs dos Alpes

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  9. Oi minha doce teresa
    Tenho tido dias meio corridos e nao gosto de perder seus textos que fazem-me tão bem. Se fosse
    falar sobre um momento de leitura e devaneio nao faria tao bonito assim! rs
    Parabéns , sua escrita me leva a iamginar extamente como a coisa acontece, excelente.
    deixo abraços todos embrulhadinhos e que esse final me favoreça também rsrs
    beijinhos

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  10. Até esqueci de dizer,Chico Buarque sempre bom demais.
    Dos poetas brasileiros ele é meu preferido!
    me manda seu endereço residencial que vou mandar-lhe um livro dele , um mimo de Natal , ok?
    abraços

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  11. Oi, Maria Teresa!

    Gosto muito da forma como a amiga escreve.
    Suas descrições são sempre poéticas e românticas,e nos fazem sentir como se estivéssemos a fazer parte do cenário! Adoro!!!!

    Foi um lindo encontro, tenho certeza!É muito bom amar!

    beijinho carinhoso,

    Neli

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  12. A principio devo confessar que a aparição porque Ela ansiava já não pertencia a esta dimensão da vida. Acontece quando os lutos não ficam feitos ou quando o apego ao passado é o que permite viver!!!!
    Compreendo porque o seu livro já leva dois dias em leitura... se a realidade é como a descreveu, tb não hesitaria na escolha!
    Ou então, a história do livro confundiu-se com a realidade???!!! Tantas suposições que este texto nos inspira. Desde que nos permita sonhar com coisas agradáveis.
    Arrepiei-me e não foi de frio!
    Se não se importa tb passarei por cá sempre que possa! Adoro jardins, beijos e mar.

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  13. Mais um belo sonho/ficção/desejo, enquanto o sol de Outono-quase inverno te acaricia. A propósito fica-te com esta bela quadra de pé quebrado que aprendi ainda gatinhava (ou lá perto) e por isso já me esqueci do nome do autor.

    "Tu és Sombra e eu sou Sol.
    Qual de nós será mais querido?
    Sombra de Verão é regalo,
    Sol de inverno apetecido".

    Continuação de bons sonhos (?).
    Bjo.

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  14. Querido Gaspar muito obrigada por ter deixado o seu comentário.
    Quanto à foto também calculei que não fosse "montada". Eu sei que por detrás de cada foto há sempre uma história, um momento,...e a minha curiosidade desperta gosto de saber...Obrigada!
    Beiinhos embrulhados para si!

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  15. Querida Patty sou uma romântica sem cura e sem juízo!
    Beijinhos embrulhados para si!

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  16. Querida Flor a poesia emana do seu comentário.
    Cada raio de sol é uma dádiva que eu aproveito e agradeço...
    Beijinhos embrulhados para si!

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  17. Querida Lis as suas palavras já são mimos e eu gosto tanto de mimar e ser mimada!
    Vou entrar em contacto consigo via e-mail, está certo?
    Beijinhos embrulhados para si!

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  18. Querida CF a sua análise ao meu texto, meio realidade, meio ficção, deixou-me bastante admirada (no bom sentido), vejo que o leu em "profundidade" e isso agrada-me muito:):):)
    Beijinhos embrulhados para si!

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  19. Querido Carapau lá vens tu a cortar o "melaço" que escorre por estas bandas e vens muito bem...:):):)
    Não vou dar resposta ao teu ponto de interrogação final:):):)
    Beijinhos embrulhados para ti!

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  20. Querida Neli sente-se doçura no seu "falar"
    Vejo-a como uma senhora muito terna e serena...
    Obrigada pelo seu gentil testemunho!
    Beijinhos embrulhados para si!

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  21. Não sei porquê, mas acho que esta historia foi escrita pela Teresa...estou enganada?

    Aliás tem vindo há já algum tempo a escrever mini histórias, ou melhor romances, com os quais poderia compor um livro ;)

    Eu sugiro o nome "Mini Romances".
    Ah! depois quero autógrafo ;)

    Beijinhos
    SJ

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  22. Querida Sofia esta história tem muito de real e um pouco de imaginário, do meu imaginário:):):)
    Estou numa fase muito voltada para o Amor e mais não digo, não me quero comprometer:):):)
    Quanto ao livro, agradeço a ideia mas está fora de questão... eu sou uma escrevinhadora, faria com mais facilidade um sobre Pedagogia ou sobre o modo como lidar no meio familiar com diferentes patologias do foro psíquico:):):)
    Beijinhos embrulhados para si!

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  23. Ficam estes pequenos textos ;)

    beijinhos
    Sofia

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  24. maria teresa,
    E sabes amar, e sabes sonhar, e sabes ser terna, e sabes ser Mulher, e sabes(?) esperar, e sabes ser feliz, e sabes SER...
    Beijinho SEM embrulhinho.

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  25. Querida S* encontra-se numa fase da sua vida em que o deve compreender bem. O amor surge com a mesma intensidade em todas as idades, a sonhar ou acordada...
    Beijinhos embrulhados para si

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  26. Querida Sofia e ficam mesmo, embora não os tenha partilhado com amigos da minha vida real, são partilhados com a minha família.
    Beijinhos embrulhados para si!

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  27. Querida Teresa tanta coisa que sei e não sabia:):):) És muito generosa nas qualidades que me atribuis mas soube-me bem lê-las!
    Beijinhos embrulhados para ti!

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  28. Sonhos que o tempo leva...
    Que bom sonhar quando estamos acordados!!!
    O sonho não será o encontro do dia com a noite?
    Para ti, que gostas de embrulhar beijinhos, dou-te um respeitosamente desembrulhado.

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  29. Gostei muito da frase "Ela percebe, sabe ler o silêncio..."

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  30. Não pude segurar a lágrima. Nesses momentos de reencontro, quando os dois se abraçam finalmente, o que se diz é; "fala nada, não".

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  31. Querido João eu direi ao contrário sonhos que o tempo volta a trazer...
    Podemos sonhar de dia, eu de dia também sonho:):):)
    Beijinhos embrulhados para ti?

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  32. Querido Pinguim eu sabia ler o silêncio...
    Beijinhos embrulhados para ti!

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  33. Querida Pitanga o amor seja em que idade for é sempre amor (os jovens, às vezes,é que pensam que não)!
    Beijinhos embrulhados para ti!

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