Refúgio, 17 de Julho de 2008
Jorge M.F.C.
Nunca lhe escondi que a sua existência, porque sempre existiu, não me correspondi com um ET, é do conhecimento de familiares e
amigos. Alguns com muita ternura aconselharam-me a ter cuidado, outros, com uma certa aspereza, diziam que devia ter juízo, que o que estava a fazer não era próprio de uma pessoa como eu, outros ainda queriam saber “novas”.
A nenhuns dei a ler a nossa troca de correspondência, não porque sinta vergonha do que escrevi mas, por uma questão de preservação de intimidade.
Às que têm companheiros, confessei-lhes que era um jogo perigoso, e que o envolvimento a que me estava a entregar, era demasiado forte. Fi-las compreender que se estivesse na situação delas nunca o faria, porque tal iria necessariamente ”mexer” com a vida afectiva.
Sei que isto lhe fez sempre muita confusão, nunca percebi porquê.
Dei pelo seu “afastamento” pouco antes da viagem à Aústria. Como homem educado, que penso que é, fiquei desiludida, quando cheguei e não encontrei um “bilhetinho” a saudar o meu regresso.
Para abreviar, nos finais de Junho encontrei-me com um familiar muito próximo, que não via há cerca de 2, 3 meses.
No meio da conversa animada, que normalmente temos, pergunta-me ele: “ a……(mulher) disse-me que andas muito entusiasmada com um amigo colorido, quero saber pormenores.” (……)
Interrogatório cerrado, descrições para aqui, pormenores para ali, risadas e admoestações e como um raio que fulmina, sem se esperar, aconteceu o que eu jamais pensei que podia acontecer, ele reconheceu-o, pormenores como o minha atracção por barbas, o nome Jorge e restantes iniciais,… convive bastante consigo, é seu amigo (?) sabe imenso da sua vida profissional e pessoal.
O seu mau momento deduzi deve-se, principalmente, a instabilidade financeira. O meu primo nunca me irá trair, mas eu, ainda com uns restos desta lealdade que sempre me caracterizou, por duas ou três vezes, tentei comunicar consigo pelo telefone proibido (?) para lhe dar conhecimento da situação. Esqueci-me que durante alguns fins de semana a sua filha está consigo. Respeito muito as famílias, e procurei compreender a sua reacção, mas isso não lhe dá o direito de me insultar, cobardemente, por escrito, pensando que estava protegido pelo anonimato. Podia tê-lo feito oralmente, teve medo?
Aconselhou-me a ter juízo e isso aceito e agradeço, passei a ter tanto juízo que resolvi usar os conhecidos e amigos que tenho para o tentar compreender e conhecer melhor. Neste momento, conheço grande parte da sua vida através de testemunhos e até de documentos. A direcção para onde vai esta carta é uma das provas disso.
E aqui vão outras: 23 de Dezembro de 19**, Ferreira do Alentejo, viúvo (?) ……E quem me tem fornecido estes dados, nem sequer o conhece.
Tive é certo uma outra fonte de informação, para poder confirmar se não estava a imiscuir-me na vida de pessoa errada.
Não fique, no entanto, preocupado porque, sei que não devo, não quero, nem fazia sentido, usar estes conhecimentos (em quê?) e outros que não referi. Servem apenas para o que eu precisava, sou mulher com pés assentes na terra, no meu chão, durante uns tempos a cabeça separou-se do corpo e andou pelo ar, já regressou para meu conforto espiritual e para a minha tranquilidade diária.
Pergunto o porquê de me deixar sofrer por si pensando que estava doente, que a sua família não estava bem, …. ? Foi duma crueldade que eu ingenuamente, mesmo depois de muito avisada, nunca pensei que existisse. Hoje não tenho dúvidas, os “mundos” em que nos movimentamos são muito diferentes e ainda bem, odeio a maldade, a má educação, os juízos precipitados, a cobardia, o anonimato, a falta de verticalidade…….
Para não dizer que eu também estou “escondida”, quando quiser saber quem sou, na realidade, é só perguntar, dou-lhe o meu currículo completo e com comprovativos se achar necessário.
Os meus medos iniciais, para além dos que já conhece, tinham razão de ser, não porque tivesse medo da opinião “pública”, mas por estar numa posição que não procurei, por ter medo de sair magoada, por sentir no meu íntimo que era uma coisa que não devia fazer. No meu subconsciente sabia que não devia entregar a minha “alma” a um homem desconhecido, mas estava a ser invadida por um forte bem-estar que adoçava a fase má de vida que estava a atravessar. Não me arrependo!
Pergunto-me: porque não aplica a sua vasta cultura de um modo mais produtivo, mais digno? São poucas as mulheres que têm capacidade para acompanhar os seus conhecimentos? Lembro-me de Stefan Zweig que tanto admira e sobre quem fez um texto excepcional, que escrevia duma forma, para a qual não tenho palavras, sobre mulheres, ele “pensava” como uma mulher. É o que acontece consigo por isso conseguiu “conquistar-me”?
Fico grata por ter-me ajudado a despertar a minha sexualidade, sinto-me uma mulher mais completa, voltei a sentir-me adolescente, regredi e isso dá-me prazer, mas não sou, nem nunca serei uma pessoa que precisa de marcar encontros através da internet, para encontrar um companheiro, isso é próprio dos “calcinhas” e das mulheres de um nível a que decididamente não pertenço, nem quero pertencer.
Quem é o Jorge para querer resguardar tanto a sua “vida”?
Ainda pensei que fosse uma figura pública com medo de alguma chantagem futura.
O que o levou a querer saber tanto sobre a minha intimidade e a não “dar nada”?
Que problemas de consciência o atrofiam como homem?
Quem foi a pessoa que o tornou tão pouco crente na honestidade dos outros?
Quem o ensinou a julgar e a condenar sem ouvir razões?
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Poupe-me e não seja criança ao ameaçar-me com a desactivação do “nosso” endereço do e-mail. Para que conste, tenho outro endereço seu, cedido pelo meu primo. Fique descansado que jamais o utilizarei.
Lamento ter enviado para o lixo parte da nossa correspondência, principalmente a inicial. A que resta, está impressa e arquivada, em dossier a ela dedicado, para que eu a possa reler e me lembrar o quanto fui imprevidente e que, como tão sabiamente diz, não fui muito ajuizada. Servirá também para passar um testemunho aos meus netos, quero que eles conheçam o meu melhor e o meu pior. Se pude partilhar consigo fases boas e menos boas da minha vida, eles de certeza serão mais dignos de tais confidências e compreenderão muito melhor as minhas motivações.
Ao reler as nossas conversas, as palavras lindas que trocámos, a sintonia de pensamentos e sensações, o jogo de sedução, … penso se da sua parte não terá sido tudo premeditado? Quero acreditar que não. O que é que mudou, o que é que eu fiz para que se voltasse contra mim e me considerasse abominável? Não, decididamente não o sou, a minha consciência disso não me acusa!
Em qualquer altura, se quisesse, mas não quero, podia encontrá-lo pessoalmente, nomeadamente, no seu local de trabalho, bastaria pedir ao meu familiar para me levar até lá e apresentar-nos.
Saí do limbo que era a situação que mais me confundia, desejo-lhe que saía rapidamente do sufoco em que se encontra, eu através de terceiros irei acompanhando o seu percurso de vida e ficarei muito feliz se souber que arranjou uma companheira digna de si. Não a procure na internet, parta do conhecimento duma mulher real, com defeitos e virtudes e com a qual “sinta” as três parcelas da tão falada adição.
Penso não ter usado as mesmas armas que usou para me “despachar”, se fui injusta, depois de meditar bem e lhe restar algum respeito por alguém que sempre lhe foi leal, perdoe-me.
Com todos os seus defeitos, quem os não tem, continuo a sentir por si ternura e terá sempre um lugar reservado no meu coração.
Ouvir “Take this waltz” ainda me causa rubores.
Na minha idade o caminhar dos ponteiros do tempo não é benéfico. Há que não atender aos efeitos nefastos da impaciência, tão bem descritos por George Stneir. Sou forçada a ser impaciente!
Despeço-me, lamentando que não possamos partilhar uma longa e saudável amizade.
Maria Teresa