quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

PORQUÊ?

Pintura de Pascal Chöve
Porque não me visitaste esta noite? A noite morreu num acaso previsto, eu não queria acordar, envolvida no abraço do despertar, mesmo não querendo, lentamente fui sentindo, num canto remoto da minha mente, sinais dispersos que me disseram, sem palavras, que eram horas de abrir os olhos…
As horas, sempre as horas!

E neste pedaço de tempo que vai decorrer à velocidade do caminhar de um verme ou à de um ser voador levado por vento de feição, vou movimentar-me dançando ao ritmo de uma melodia que brota da minha imaginação, até que a noite renasça num acaso previsto…

domingo, 26 de janeiro de 2014

DILEMA

Pintura de Shiobhan Meow*




Por uma estreitíssima fresta da porta da minha sala dos afectos, entrou um gatinho amarelo, muito felpudo, com belos bigodes, olhos esverdeados brilhantes, … o seu ronronar encantou-me, deixei-o brincar livremente com os novelos que por lá estavam espalhados, novelos com cores roubadas do arco-íris que tem sido a minha vida. O maroto tanto brincou que os enovelou a todos, resta-me deixá-los assim ou tentar enrolá-los de novo e arrumá-los…




* Shiobhan Meow é uma pintora nova iorquina que usa misturadas com a tinta, fezes, urina e pêlos dos seus gatos 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A PASTA

Num bonito dia de Dezembro fui até à Baixa, mais precisamente à zona do Martim Moniz, por lá entrei na loja Portugal Português e não resisti em comprar, relembrando tempos da minha juventude, entre outras “preciosidades”, pasta Couto.
Este mês de Janeiro não começou muito bem para um familiar meu muito próximo, ataques de pânico e crises de ansiedade surgiram com uma violência tal, que houve necessidade de se recorrer à urgência hospitalar mais de uma vez. Esta situação levou a que eu tivesse que largar a minha casa de Lisboa, numa situação de “muita rapidez”, para vir “viver” para casa desse familiar que necessita de um apoio imenso.
Numa pequena mala apressadamente atafulhei livros, roupas e produtos de higiene básicos para a minha mudança repentina. Como a minha pasta dentífrica em uso estava a terminar, trouxe a tal pasta Couto.
Na primeira noite em que cá dormi, quando me preparava para me deitar fui como “bonita menina” que sou, lavar os meus dentinhos, sem muita atenção deitei a pasta na escova e pimba escova e pasta nos dentes…pois é, aqui é que “a porca torceu o rabo”, eu não tinha comprado pasta para dentes, tinha comprado vaselina da marca Couto que nem sabia que tinha existido e que existe… e mais não digo!
Experimentem lavar os dentes com vaselina!


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A CAIXA

Sem estar envolvida por metais nobres, sem ter embutidas pedras preciosas, nem semi-preciosas, numa receita em que misturei cartolina, cartão, cola e tecido, não numa Bimby, porque não pertenço à geração das “bimbynas”, mas numa sequência programada e trabalhada manualmente, nasceu esta humilde caixa que, no entanto, guarda tesouros com um preço sem preço e não os divulga a ninguém.
Esses tesouros são pedacinhos do tempo que dediquei a criá-la e, nesse espaço de tempo, ela esteve unida comigo nos meus pensamentos e desabafos, aprendeu o significado de palavras como mentira, maldade, hipocrisia, egoísmo, desamor, ingratidão,… mas também ficou a conhecer o significado de amizade, lealdade, amor, felicidade, alegria, bem-estar…
Ela já me viu rir e chorar!
É uma caixa muito culta, basta observar o seu invólucro! Trata por tu Pitágoras, Euclides, Descartes, é perita em equações do 2ºgrau, integrais, matrizes, áreas, somatórios, algoritmos, vectores,…
Talvez a venha a “emprestar” a alguém que também me entenda, e que perceba, nem que seja apenas um pedacinho, tudo aquilo que ela representa.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

PORTAS

Gosto de portas escancaradas, portas que deixem entrar a luz, os afectos, as emoções,…
Entre conhecidos, amigos, namorados, amantes, casais, familiares,… há sempre portas, que podem estar abertas, fechadas, entreabertas, escancaradas,… Cada um individualmente é que sabe quando quer, deve ou pode, alterar a posição delas, e tem sempre o poder de modificar essa posição. Uma porta aberta, pode ser fechada, devagarinho ou de supetão, ficando hermética ou com uma pequena fresta; uma porta fechada pode sempre abrir-se, basta percorrer o “caminho “ inverso.
Eu tenho portas fechadas, umas que nunca foram abertas, outras que fui e sou obrigada a fechar, quando isto acontece tenho-o feito sempre sem prazer, pelo contrário, sofro e, algumas vezes, magoo quem me leva a tomar esta atitude.

Também tenho portas entreabertas que gostava de abrir mas, para que tal aconteça, preciso da ajuda dos que gostam de mim e que me aceitam tal como “sabem” que sou, um ser nunca completo, mas que tem uma parte física e outras muitíssimo mais importantes, a emocional e a espiritual.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

PALAVRAS ESVOAÇANTES

Numa conversa a dois digna desse nome, as palavras brotavam com uma leveza estonteante, passava-se de um assunto a outro numa velocidade apenas conseguida porque os interlocutores se compreendiam, estavam falando a mesma língua, ambos interessados nos mesmos temas, embora por vezes, as opiniões não fossem totalmente concordantes.
Dois seres muito diferentes no modo como manifestam, perante a vida, as suas emoções, ele com uma dificuldade imensa de se expor emocionalmente, ela totalmente aberta para descrever aquilo que sente. A dada altura o elemento masculino, numa abertura, pouco habitual, reveladora de uma grande sensibilidade, durante um breve instante de mudança de assunto declara: “as palavras saltam de flor em flor”! Esta afirmação deu direito a uma graçola e com esta, risos eclodiram.
A frase ficou gravada na mente dela que desejou ser, em vez de palavras, borboleta para saltar de flor em flor absorvendo o cheiro da madressilva, captando  a sensualidade da magnólia, possuindo a rusticidade do malmequer e a sofisticação da orquídea, invejando  a pureza da açucena, …
Como ambos estão encerrados, desde que nasceram, numa caixa do tempo, esta conversa digna desse nome teve que ter fim, um fim que não significa que não pode ter continuação…


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A AGENDA E A CHATA

Tenho um amigo com quem gosto muito de conversar mas ele está sempre muito ocupado, quando nos podemos encontrar ele brincando, diz que me vai meter na calendarização da sua agenda. Esta situação baseada num facto real, foi o mote para este poste



Agenda - Olá querida, por aqui outra vez?
A Chata – É verdade, venho  ver se tens por aí uma vaga para eu poder “entrar”.
Agenda – Hummm! Não me parece mas vou confirmar! Não, nadinha, estou super preenchida para hoje!
A Chata – Já estou habituada mas, … vou insistir, nem uma nesguinha muito pequenina?
A Agenda – Nem isso!
A Chata – Tens mesmo a certeza, arranja-me uma vagazita e eu faço-te um lindíssimo marcador, também posso forrar-te com um belo tecido, padrão quase único, mais … posso ser eu a criar o padrão, sei pintar em tecido… “vestida” por mim  ficarás a parecer uma top model sem paralelo na nossa galáxia…
A Agenda – Estás  a querer comprar-me? Tu que pregas a honestidade acima de tudo?
A Chata – Pois! Sabes, neste momento já não sei bem o que faço, nem o que fazer! Gostava tanto de ter um bocadinho entre as tuas marcações, o tempo urge e eu sou muito impulsiva, ando a preparar “isto” (Gostas? É segredo!), há mais de três semanas, só na 4ªfeira ficou pronto e mesmo assim nesse dia ainda tive que decidir como ficava o invólucro. Adorava que no Natal isto estivesse nas mãos “dele”.
A Agenda – És uma chata, mas também és uma querida, deixa-me consultar melhor as minhas notas. Entretanto devo dizer-te que prescindo do que me ofereceste, não acredito que  “ele” gostasse de me ver vestida … ele gosta de me ver ao natural!
A Chata – Tu sabes muito… mas és boa em guardar segredos, aliás é o que uma prestigiada agenda deve fazer em relação ao seu dono, não revelar o que preenche a calendarização.
A Agenda – Encontrei um "micro buraco de verme” (1) entre duas “obrigações”, aceitas esta solução?

A Chata – Iupi! Então não “houvera” de aceitar! Vou numa corrida! Coloca lá o meu nome! Abracinho, abracinho, até breve…

(1) buraco do verme, buraco da minhoca ou wormhole é um caminho hipotético, um atalho através do espaço e do tempo (considerado válido pela relatividade geral). Em analogia pode-se exemplificar com uma lagarta que fura uma maçã de um lado ao outro (um atalho) em vez de andar rastejando por toda a casca até encontrar o ponto que quer.


l.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

TERCEIRA IDADE

Estou na terceira idade dizem aqueles que se sentem velhos, estou no inverno da vida dizem outros, eu digo que estou na estação das colheitas…